No Nada a Declarar de Fevereiro, na revista Volta ao Mundo, resolvemos dedicar as crónicas à Sedução em Viagem. Eis o que me saiu da cartola. Espero que gostem.
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Maria não tinha um nome tipicamente inglês, mas era-o. Não se vestia com pouca roupa quando saía à noite, como o faziam muitas das suas compatriotas nas ruas, bares e clubes de Manchester. Dançava num bar quase vazio com o irmão ao balcão a virar ‘pints’ a ritmo considerável. ‘Connected’, dos Stereo MC’s era a banda sonora quando se iniciou o ritual de aproximação. A letra ajudava. O ritmo ainda mais. Ao fim da noite, rascunhou no bloco de apontamentos um número de telefone. “Call me”. E saiu três músicas depois.
Justin Timberlake não assistiu a nada disto, refém que estava no bar do hotel no centro da cidade. À volta do prédio ainda eram algumas as fãs que esperavam por um autógrafo ou uma fotografia ao lado do cantor norte-americano. Tínhamo-lo encontrado poucas horas antes, quando partilhávamos um elevador e nos questionávamos sobre qual de nós teria guardado o recibo do táxi. Ele, cabisbaixo, quase que a esconder-se, subia para o quarto na companhia de um segurança e de uma loira. Provavelmente sua assistente. Ou não.
Na noite seguinte bebemos um copo ou dois no bar do hotel para contemplar o ambiente criado pela entourage do ídolo pop. Divertido quanto baste, com Justin sempre rodeado de gente. Sair à noite em Manchester, para a estrela da música, seria impossível. A menos que reservasse um bar só para ele e para os amigos. Para nós, foi fácil. Bastou transpor a porta e procurar uma alternativa agradável, um bar cujo nome já desapareceu da memória. Era numa cave. Com uma pista de dança onde Maria tinha dançado há 24 horas, antes do convidativo “Call me”.
Nunca consegui fazer a chamada.
Maldito roaming, malditos indicativos internacionais. Marquei um ‘zero’ a mais antes do número rascunhado no bloco de apontamentos.