É complicado quando as pessoas têm uma imagem errada de um povo e de um país. Na maior parte dos casos isso acontece por desconhecimento ou por falta de enquadramento histórico e social. Noutros casos, como é o da actriz brasileira Maitê Proença, é por pura ignorância e falta de educação. A senhora em questão faz parte do programa de televisão do GNT, 'Saia Justa' e esteve em Portugal em trabalho. Aproveitou para fazer este apontamento para o canal da Globo sobre Portugal e os portugueses. Aconselho-vos a ver.
Depois de ver esta pérola, enviei a seguinte mensagem para o GNT.
"Acedi há poucos momentos a um vídeo de Maitê Proença gravado em Portugal, na região de Sintra e de Belém, em Lisboa. É curiosa a intervenção da actriz (lamento, mas no "atrasado" Portugal, a profissão ainda se escreve com 'c' antes do 't' e eu vou aproveitar essa regra até ao final). Dizia eu que é curioso o trabalho, apesar de não saber se se pode chamar de trabalho o que Maitê veio cá fazer para o Saia Justa. Curioso porque a senhora decide agredir os portugueses, Portugal e a nossa História (cuspir num monumento nacional e Património Mundial da Humanidade pela UNESCO é de um alto nível de sofisticação só ao nível de algumas das melhores favelas do planeta que, por acaso, existem em abundância nas maiores cidades desse grande país). Estranho que Maitê, tão querida pelos portugueses graças às suas participações nas mais variadas novelas brasileiras, tenha esquecido as boas maneiras e se tenha preparado tão mal para um programa de televisão do GNT. Pela minha parte, de cada vez que essa senhora voltar a Portugal com as suas peças de teatro, campanhas publicitárias, lançamentos de livros ou o que quer que seja, terá o meu boicote. É que nós, os portugueses, somos muito "esquisitos", mas não somos ignorantes nem mal-agradecidos como essa senhora tão bem demonstrou ser."
15 comentários:
Discordo do que em geral tem sido dito sobre o tal video da Maitê Proença. E porquê?
Antes de mais porque não me parece que devamos ficar sinceramente ofendidos com o tom jocoso e ligeiro que consta do pequeno filme.
Por muito graves que fossem as "desconsiderações" (e não me parece que o sejam), nada me faz concluir que seja algo mais que uma reportagem meramente lúdica e feita num tom sem qualquer animus offendendi, desde logo se se conhecer o programa "Saia justa" em que esse tom é costumeiro em relação a todo e qualquer tema e não, pois, especificamente ou mais marcadamente, relativamente ao nosso país.
Por outro lado, muito do que ali é dito é, e infelizmente o penso e digo, verdade: não "elegemos" "nós" Salazar como a personagem maior dos nove (!) séculos portugueses?; aquele enfoque no número "3" que foi invertidamente afixado num contexto em que se denota que houve toda a concentração e atenção à caixilharia e, designadamente, aos parafusos tão rigorosamente centrados não ilustra ou não parece ilustrar muito do que nós em geral somos, atentos tantas vezes e até perfeccionistas com o acessório e o incidental e negligentes e descuidados com o que seria o principal?; ou, na mesma linha, aquele episódio com o empregado do hotel - de 5 estrelas, realce-se - que, chamado a ultrapassar um qualquer problema informático e que, não o conseguindo fazer, chama o porteiro (que se limita a franquear o acesso e em geral apenas dá o primeiro acolhimento aos hóspedes) a fim de este por sua vez "tentar a sua sorte" não será igualmente ilustrativo da nossa vocação irresistível para o desenrrascanço e para o improviso, para mais em situações em que se exigiria que não houvesse qualquer amadorismo (relembro, é um hotel de 5 estrelas)?
Por outro lado ainda, são destacados no programa, embora simetricamente de uma forma meramente alusiva, dados que julgo não seriam em caso algum salientados no que fosse um programa "hostil" a Portugal.
Com efeito, alude-se ao monumento aos Descobrimentos (e não ao achamento...), filma-se nos Jerónimos, alude-se a Pessoa, a Camões e a Vasco da Gama, mencionam-se os pastéis e incorpora-se na filmagem uma explicação (factual, interessante e provavelmente desconhecida de muitos brasileiros... e de muitos portugueses!) quanto à razão da utilização das gemas e das claras dos ovos nos Conventos.
Por fim, não julgo que a última cena represente a Maitê Proença a cuspir no solo que a recebeu; tão somente e muito sinceramente creio - e penso que isso resulta claramente da sequência das imagens - que ela tenta apenas, num tom obviamente ligeiro e lúdico, imitar o que a estátua representa e nada mais que isso.
Independentemente de tudo isto que aqui escrevo - e, pois, mesmo que tivesse acaso havido uma intenção de desconsideração por parte da referida actriz -, penso que isso valeria o que vale. Ou seja, a uma brincadeira, se porventura pesada e "sem graça" (o que não me parece aqui o caso), dever-se-ia somente reciprocar por igual e não esperar uma qualquer retaliação de qualquer outra natureza.
Mas naturalmente respeito opinião contrária ou diferente da minha.
Obrigado pelo elevado contributo, JMV. É uma forma diferente de ver as coisas, menos bélica, o que, só por isso, merece o meu apoio. No entanto, penso que a actuação dessa senhora é demasiado triste. Brincar e gozar são coisas diferentes, cá e especialmente no Brasil, onde a expressão gozar tem um sentido sexual. Acontece que os portugueses andam há tempo demais a levar com piadas sobre ignorância, Manuel e Joaquim, mulheres com bigode, bla, bla... e não calha bem a um convidado dizer mal do anfitrião. São regras básicas de educação. Compreendo o ponto de vista demonstrado no comment e lembro que não se pode nunca generalizar em relação ao povo brasileiro. Uma andorinha não faz a Primavera.
Confesso que a primeira reacção foi "Quem pregava um número ao contrário era eu na tua bela carinha se te apanhasse agora!?" Depois vieram pensamentos como: "Ela deve ter metido qualquer coisa para a carola!? Nenhuma figura pública, muito menos do Brasil, faria uma coisa destas no seu perfeito juízo!?... Não, deve de nos faltar o contexto e isto era uma tarefa de um jogo muito absurdo feito pelos convidados do programa!?", mas agora penso que o sentimento de Maitê deve ser o da colonizada revoltada contra o colonizador, falando os antepassados que lhe correm no sangue, por isso pega em qualquer coisinha para poder fazer uma "brincadeirazinha". Afinal, nós também não fazemos em relação aos Alentejanos e aos Portuenses!? Deixem lá a senhora vir descansada a Portugal... para algum doido varrido, não um Alentejano porque é lento, mas um Portuense porque é rápido nas palavras e certeiro nos gestos, fazer-lhe umas festinhas... também só de brincadeirinha, claro.
A Maitê Proença tem antepassados portugueses, portanto não será revolta de colonizada.
Acho que o objectivo daquelas rubricas no programa é ridicularizar um pouco. Basta ver com se riem no final. É o mesmo que mostrarem uma entrevista do Herman ao David Copperfield em que lhe chama de tudo em português e o desgraçado não percebe nada, sem explicarem o objectivo do Herman Sic.
Obrigado, Ana e André. É óbvio que, por cá, também cometemos muitos excessos em relação à generalização de outros povos: brasileiros, africanos, emigrantes de Leste, por exemplo. Mas acima de tudo, acho este um episódio de falta de educação. E o pedido de desculpa é quase tão ridículo como a "reportagem". Diz ela que fez humor inteligente e pede desculpa se não entendemos? Eu entendi: foi uma tentativa ignorante de fazer humor e um pedido de desculpa para salvar a face.
André, lá por a Maitê Proença ter antepassados portugueses, não querer dizer que não seja "revolta de colonizada". Ela não tem só antepassados portugueses, certo? Se quiseres, pode ser... uhmmm!?!? meia-revolta, então.
Concordo contigo, Ricardo, o pedido desculpa chega a ser subtilmente tão "ridículo" como o vídeo em questão.
É a mesma coisa que convidar alguém para nossa casa e essa pessoa passar o tempo todo a dizer mal de tudo o que vê. Ninguém gosta!
Por muita razão que ela possa ter, não é preciso vir uma brasileira para nos apontar os defeitos. Ele envergonha os próprios brasileiros.
É verdade que nós gozamos com os maneis e com as marias, e com as mulheres de bigode e com os alentejanos e com os tripeiros. Mas dêem-se ao trabalho de procurar blogs brasileiros em que o único intuito é de gozar com os “Portugas”. Já chega!!
Gostava só de perceber o que é que aquele video tem de inteligente.
Fazer humor não é aquilo.
Boas
Através de uma amiga vim dar com o teu blog, ainda bem!
Sobre o post da Maitê só queria acrescentar que o programa 'saia justa' era um programa de muito sucesso no Brasil. Originalmente era com a Mônica Waldvogel, a Fernanda Young, a Marisa Orth e a Rita Lee. Era um programa muito descolado e despretencioso e bastante inteligente à conta das mulheres que o faziam.
Do original ficou apenas a jornalista Mônica Waldvogel, as pessoas que entraram, nomeadamente a Maitê, acharam que tinham sido convidadas por estarem ao mesmo nível intelectual das iniciais... é obvio que não estão... e o resultado são essas bacuradas infantis e completamente despropositadas e reveladoras de uma enorma falta de cultura e educação, que hoje com a globalização são logo denunciadas. Já não há herois nem idolos....
De resto no brasil, hoje em dia elas são conhecidas por isso mesmo: por só dizerem imbecilidades (para não escrever outra coisa).
Só mais um promenor: não era a casa '3' mas sim a casa 'E'...
Take air!
É isso mesmo, Sandra, Quando se convida alguém para nossa casa, não esperamos que essa pessoa ponha os pés em cima da mesa, cuspa para o chão e ainda diga que o jantar estava péssimo. Mas enfim, é uma questão de educação. Obrigado pela visita.
Martissima, dou-te as boas vindas ao 'Jornalismo Positivo' e espero que te tornes visita habitual. De facto, o casting para esta série do programa não foi o melhor. Baixou-se o nível e provavelmente subiu o interesse de um público mais preparado para o género de humor "inteligente" que Maitê apregoa. Obrigado pelo contributo.
Respeito em absoluto o comentário do JMV, que já tinha visto no blogue da DRA Helena Sacadura Cabral e que está muito bem escrito, mas discordo redondamente. Penso que não há necessidade nenhuma de sermos alarves a falar de um país que sempre nos recebeu com respeito e consideração. Também postei brevemente sobre o assunto que não me deixou fortemente indignada, mas antes incomodada.
http://coresdochabranco.blogs.sapo.pt/24889.html
Gostei muito da tua carta à Globo.
É de facto coisa para nos deixar incomodados, apesar de as últimas reacções de figuras públicas serem no sentido de dar pouca importância ao assunto, naquele tom blazé de quem é superior a estas tricas do povão, no qual me incluo.
Obrigado, Maria do Mar. Vai aparecendo!
Deprimente...
Humanamente triste...
Mas... se é acho grave a reportagem... mais grave acho quem a viu e emitiu...
Too bad.
Depois de ler todos os comentários, (tentando interiorizar que a sra. não merece ser linchada), fico contente por ver a variedade de opiniões. (afinal de contas, devemos manter a mente aberta). De quaquer forma, a revolta que senti prende-se no facto de saber que milhares de portugueses adorarem esta Sra., admirarem-na, seguirem todos os seus passos. Saber que muito do dinheiro que ela ganha, vem do nosso país, das audiências que NÓS lhe damos. Normalmente quando existe algum tipo de carinho por um artista, as suas acções influênciam aqueles que os seguem.
Eu não era fã, mas conheço quem a aprecie, e desculpem, mas ela foi indecente para com essas pessoas. no final de contas, se ela gostasse de Portugal e dos Portugueses, (da mesma forma que gostam dela) ela nunca teria feito esta "reportagem". tenho pena Maitê, mas és "persona non grata", agora é que vais ver ao ponto que chega a nossa "esquisitice"!
Bjocas Ricki
rita (amiga da Soph)
É um prazer ter-te por cá, Rita-a-tua-vida-dava-um-filme. Aparece mais vezes. Variedade de opiniões, é mesmo isso que se pretende. Cada pessoa tem a sua e quem quiser dar, dá-la, como dizia o outro, mas em relação a outro assunto.
As opiniões são como as vaginas, quem quiser dá-la, dá-la...
lol
bjocas
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