Porquê? Why?

Há histórias que têm que ser contadas.
Há exemplos que têm que ser seguidos.
Há personagens que têm que ser desvendadas.
E nós merecemos um jornalismo diferente que nos mostre que ainda vale a pena.



03/06/08

CADA UM TEM O QUE MERECE


Titicaca

Esta Copacabana não tem calçadão, caipirinhas, corpos bronzeados e biquinis reduzidos. Dos cafés e restaurantes não sai o som do samba nem se ouve falar português em tom açucarado. Nesta Copacabana a vida não vale quase zero, não tem que se andar a olhar por cima do ombro e a água não deixa marcas de sal no corpo depois de secar. Aqui, o nível do mar fica lá no fundo, 3820 metros abaixo. Nesta Copacabana não nasceu o fio dental. Este é o berço dos Incas.

A longa viagem de autocarro não deixou marcas de maior. Foram quase 14 horas, com direito a uma paragem de duas na fronteira entre o Peru e a Bolívia. Meio quilómetro a pé é coisa pouca para voltar ao autocarro, assim o obrigam as autoridades fronteiriças, mas os quase 4000 metros de altitude obrigam a que o passo seja lento.

Só mais tarde, com uma cerveja gelada e truta grelhada, se recupera o fôlego. Em Copacabana, Bolívia, as tardes e as noites passam devagar. Para os viajantes que chegam e partem, este é um ponto de encontro, de descanso, a meio das suas odisseias. Para os que cá moram, a vida continua a ser a de sempre. Tanto na Bolívia como no Peru, a população de origem índia ocupa o degrau mais baixo da escala financeira. Sobrevivem apegados às tradições, tentando ganhar alguma coisa com o turismo e seguindo o exemplo dos seus pais e avós, agricultores e pescadores.

Diz a lenda dos Andes que foi nestas águas que nasceu a civilização inca, quando o Deus Sol ordenou aos seus filhos para encontrarem um local perfeito para o seu povo. Isla del Sol foi a ilha que descobriram no lago Titicaca e onde se mantiveram até à chegada dos espanhóis no século XVI. O resto é a história de confrontos entre indígenas e colonizadores. E nós, portugueses, sabemos muito bem o que isso é.

Hoje, esta mãe continua a levar os filhos para onde quer que vá. Os mais crescidos vão pela mão, atrás e ao lado. Os mais pequenos seguem embrulhados nas mantas que fazem parte do traje tradicional. A vida passa devagar nas margens do Titicaca.

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