Afinal, o pedido de nacionalidade brasileira por parte de Maria João Pires não é o que parece. Diz a pianista e o seu advogado que a coisa já estava a ser pensada há cerca de três anos, que a vida e os negócios de MJP têm decorrido mais no Brasil que em Portugal e que não tem nada a ver com a difícil situação económica de Belgais.
Parece que o projecto de Escola de Artes não teve o sucesso que se esperava, que faltaram apoios do Estado, mas não só. Ao contrário do que faz quando se senta ao piano, MJP não teve o toque de Midas em Belgais. O projecto falhou, existiram queixas de professores, pais e alunos, como em tantas outras academias, companhias e organizações de índole cultural por este país. Mas Belgais era mais mediático, era de Maria João Pires.
Se MJP quer ser cidadã brasileira bem como portuguesa, está no direito dela. Se José Saramago quer viver em Espanha em vez de Portugal, tem as razões dele, tal como os milhões de portugueses e luso-descendentes que vivem fora de Portugal. Decidiram construir a sua vida fora de Portugal. Desde sempre este foi um país de viajantes, de aventureiros. Uns voltam, outros não. Mas não cuspam no prato onde comeram.
Este pensamento não é meu, mas gosto sempre de o lembrar: se os portugueses que saíram daqui nas últimas décadas se tivessem sujeitado a fazer em Portugal o que andaram a fazer por França, Bélgica, Alemanha, Canadá ou EUA, talvez hoje estivéssemos num patamar diferente de desenvolvimento. Mas não o fizeram, optaram ou foram forçados pelas circunstâncias a emigrar.
Se há coisa que me enerva é o constante desprezo com que muita gente fala do meu país. Não é o melhor país do Mundo para se viver, é certo. Mas é o meu. Com todas as qualidades e defeitos. Comparado com 90% do planeta, Portugal é um paraíso. Por isso, para quê tanta queixa, tanta amargura, tanta azia? Se todos fizermos um pouco mais, isto pode ser ainda melhor do que já é.