Porquê? Why?

Há histórias que têm que ser contadas.
Há exemplos que têm que ser seguidos.
Há personagens que têm que ser desvendadas.
E nós merecemos um jornalismo diferente que nos mostre que ainda vale a pena.



08/07/09

Português com muito orgulho

Mértola, Portugal

Afinal, o pedido de nacionalidade brasileira por parte de Maria João Pires não é o que parece. Diz a pianista e o seu advogado que a coisa já estava a ser pensada há cerca de três anos, que a vida e os negócios de MJP têm decorrido mais no Brasil que em Portugal e que não tem nada a ver com a difícil situação económica de Belgais.

Parece que o projecto de Escola de Artes não teve o sucesso que se esperava, que faltaram apoios do Estado, mas não só. Ao contrário do que faz quando se senta ao piano, MJP não teve o toque de Midas em Belgais. O projecto falhou, existiram queixas de professores, pais e alunos, como em tantas outras academias, companhias e organizações de índole cultural por este país. Mas Belgais era mais mediático, era de Maria João Pires.

Se MJP quer ser cidadã brasileira bem como portuguesa, está no direito dela. Se José Saramago quer viver em Espanha em vez de Portugal, tem as razões dele, tal como os milhões de portugueses e luso-descendentes que vivem fora de Portugal. Decidiram construir a sua vida fora de Portugal. Desde sempre este foi um país de viajantes, de aventureiros. Uns voltam, outros não. Mas não cuspam no prato onde comeram.

Este pensamento não é meu, mas gosto sempre de o lembrar: se os portugueses que saíram daqui nas últimas décadas se tivessem sujeitado a fazer em Portugal o que andaram a fazer por França, Bélgica, Alemanha, Canadá ou EUA, talvez hoje estivéssemos num patamar diferente de desenvolvimento. Mas não o fizeram, optaram ou foram forçados pelas circunstâncias a emigrar.

Se há coisa que me enerva é o constante desprezo com que muita gente fala do meu país. Não é o melhor país do Mundo para se viver, é certo. Mas é o meu. Com todas as qualidades e defeitos. Comparado com 90% do planeta, Portugal é um paraíso. Por isso, para quê tanta queixa, tanta amargura, tanta azia? Se todos fizermos um pouco mais, isto pode ser ainda melhor do que já é.

06/07/09

20 cêntimos

Rupias nepalesas, Kathmandu


Perdi cinco minutos a fazer as contas, chumbei a Matemática.
O CR9 vai ganhar 560 mil euros por mês, líquidos.
E a TVI estava a frisar que Cristiano gastou 3000 euros por dia no aluguer da casa de férias.
Não é mau, ele ganha 18 mil euros a cada 24 horas...

Vendo bem as coisas até não é muito, dá 20 cêntimos por segundo. Não dá nem para um café.
Mas chega para uma Bubblicious ou para duas Gorilas.

Todas as luzes do Mundo

Shinjuku, Tokyo

Faltam menos de duas horas para Cristiano Ronaldo ser apresentado como jogador do Real Madrid.

Já se sabe dos 94 milhões de euros, das 80 mil pessoas esperadas na apresentação, do impacto mediático do melhor jogador do Mundo em 2008. Contam-se as pessoas presentes na apresentação de Maradona como jogador do Nápoles ou de Kaká, na semana passada no mesmo Santiago Bernabéu.

As televisões estão à porta do estádio do gigante de Madrid, entrevistam as adolescentes na fila para entrar e os rapazes que querem ser como o Ronaldo. É-lhes perguntado o que pensam de Cristiano, se é bonito, se é um bom jogador, se vai ter sucesso na capital espanhola, se vai resistir às tentações da movida e das perfumadas espanholas.

Madrid não é Manchester. Em Espanha, Ronaldo vai ser um homem quase só, sem o "pai" Ferguson a controlar-lhe os passos ou sem os companheiros de equipa mais velhos (Ryan Giggs ou Paul Scholes) a influenciar o seu estilo de vida.

Cristiano Ronaldo vai estar por sua conta e risco, acompanhado pela mãe, pelas irmãs, pelos amigos, pelo ex-cunhado, pelo empresário e pela equipa que com ele trabalha. Cristiano tem muitos inimigos: os adversários, os invejosos, as caça-fortunas, os papparazis, as ex-namoradas, os críticos das suas actuações pela selecção nacional, os adeptos dos outros clubes que não o Real Madrid. A lista continua, cresce todos os dias. E Cristiano Ronaldo é o único culpado disso.

Dentro de campo é o melhor jogador da actualidade, o mais mediático. Esse mérito ninguém lhe tira. Mas hoje em dia, o futebol é um fenómeno global, uma montra e dos seus praticantes querem-se exemplos para a sociedade. Fora do campo, Ronaldo não é um bom exemplo. Infelizmente para ele.

É arrogante como Mourinho, mas não tão inteligente como o treinador português.
É o sonho dos publicitários como Beckham, mas sem a estrutura mental - já de si fraquinha - do jogador inglês.
É excelente jogador como Kaká ou Messi, mas sem a humildade dos dois astros sul-americanos.

É Cristiano, o miúdo da Madeira a quem muito se desculpa por ter crescido num meio desfavorecido, numa família problemática, esquecendo-se que saiu de casa dos pais aos 11 anos e já viveu mais de metade da sua vida fora dos tais problemas familiares.

CR7 ou CR9 ou CR10 é uma imagem de marca, um ícone onde a humildade não abunda. Os seus fãs vestem-se como ele, querem ser como ele, pensam em dinheiro como ele. O futebol no século XXI é apenas o reflexo da sociedade em que vivemos. Sem valores, a não ser os da conta bancária.

05/07/09

O mundo volta à normalidade

Hallstat, Áustria

A mala continua aberta no chão do quarto, à espera da próxima viagem, da próxima partida. Mais uma semana em que os calções de banho não vão sair da bagagem. As fotos penduradas na parede continuam a cair uma a uma, por força do vento e do calor. Ou da fraca qualidade da matéria azul que as prende à tinta branca.

A cama continua por fazer, o monte de roupa com casacos de malha polar e calças de bombazine continua por arrumar, o Inverno está longe, há tempo. No chão do escritório, a papelada de outras viagens, as bugigangas de mil recordações, continuam à espera de espaço na prateleira.

Os livros na estante ainda não têm o seu lugar definido. Continuam amontoados como quando saíram dos caixotes. Gosto de os ver assim, ordenados de forma anárquica, se tal for possível. Parece que o tempo não passa. Mas é mentira. O mundo continuou a rodar, apesar da breve e crua pausa para compromissos sentimentais.

Roger Federer voltou a ganhar Wimbledon e tornou-se o mais bem sucedido tenista de sempre no tempo dos Grand Slam. Acabou de conquistar o 15º torneio e ultrapassou Pete Sampras na lista dos mais vencedores. É pena, gosto do Sampras. Federer volta amanhã a ser número um do Mundo.

Os livros vão continuar anárquicos na estante, as fotografias vão continuar a cair, o monte de roupa vai continuar ali. A vida volta à normalidade, às angústias, aos stresses de sempre. Mas Federer sabe que nada vai ser igual quando Nadal estiver de volta. E eu também sei que tudo mudou. Menos os livros, as fotos e o monte de roupa.