Porquê? Why?

Há histórias que têm que ser contadas.
Há exemplos que têm que ser seguidos.
Há personagens que têm que ser desvendadas.
E nós merecemos um jornalismo diferente que nos mostre que ainda vale a pena.



10/10/09

Civismo

Algures no Nepal


Eu até acho que sou um tipo bem educado.

Gosto de deixar passar primeiro as senhoras em qualquer circunstância, seguro a porta para a pessoa que vem atrás de mim à saída do Vasco da Gama, mesmo que não a conheça e peço sempre licença quando me atravesso entre duas velhinhas a conversar no meio do passeio da Estefânia, apesar de elas se borrifarem para isso.

Quando, nos restaurantes populares a que vou, o empregado põe o toalhete de papel na mesa agradeço sempre. E quando ele traz o copo e os talheres também agradeço. Duas vezes. Uma pelo copo e outra pelo garfo e pela faca, afinal são dois serviços diferentes que merecem um incisivo "obrigado". Chega o prato à mesa e lá vem mais um "obrigado". É chato, confesso que pode ser cansativo, mas já o faço de forma inconsciente. E não me arrependo disso.

Normalmente sou bem recompensado por esse tipo de tratamento. Um sorriso, um "por favor" e um "obrigado" fazem milagres nas relações urbanas, nas repartições públicas, em cafés e restaurantes. Não me custa nada, tenho até algum prazer em agradecer a quem me presta ou serviço ou a quem tenta prestar-me um serviço.

É o caso dos paquistaneses e indianos que circulam pela noite das grandes cidades portuguesas, vendendo rosas embrulhadas em plástico, óculos que se iluminam, tiaras incandescentes ou barulhentos patos em forma de fantoche. Deixo sempre que se aproximem, que digam alguma coisa para, de seguida, os desarmar com um sorriso aberto e um claro "Não, muito obrigado". Resulta sempre, acreditem. Não falha. Eles perdem logo a vontade de dizer "todas por cinco euros". Isso deixa-me duplamente satisfeito. Por um lado, evito aqueles longos minutos de conversação sempre que um engraçadinho presente no grupo decide regatear um euro, que não lhe faz falta absolutamente nenhuma, com um cidadão de um país em vias de desenvolvimento que está a tentar melhorar a sua vida e a da sua família. Por outro lado, sinto que estou a tratar o profissional da venda de rosas e adereços com o respeito que me me merece qualquer pessoa que trabalha.

O exagero de civismo vai ao ponto de ter dado por mim, recentemente, a dizer "não, muito obrigado" a um toxicodependente que estava a mendigar junto aos Restauradores e me pediu uma "ajuda". Isto também já me começa a parecer um pouco demais, mas acreditem que é uma reflexo condicionado. Qual cão de Pavlov, mas sem me salivar, reajo ao estímulo do contacto entre duas pessoas com o reflexo da educação.

Pois então, muito obrigado e até à próxima.


09/10/09

Obama Nobel da Paz 2009

Acabo de saber, acabo de ver a notícia na internet.
E fiquei feliz.
Barack Obama é o Prémio Nobel da Paz 2009.
Parece-me justo: não há Paz sem Esperança e ele trouxe a esperança que as coisas podem ser diferentes. E a mim, ninguém rouba a esperança.

E qual é o problema de ele ter ganho o Nobel?
Já começam a sair da toca os críticos. Dizem que será muito cedo, que ele ainda não fez nada, que é muito novo, que tem tanto ainda por provar, que não contribuiu para a Paz.
Mas será mesmo assim?
Nos últimos 40 anos da História do Mundo, tirando Nelson Mandela, qual foi o político mundial que conseguiu trazer tanta esperança a tantos milhões de indivíduos? E a esperança não será uma forma de paz?
Não há Paz sem Esperança.

08/10/09

No domingo, contem comigo

Nascer do dia em Machu Picchu, Peru


Entendo o desencanto. Consigo mesmo perceber o afastamento. Vejo com clareza o porquê do desprezo. Mas acho que não votar não é a melhor opção.

É óbvio que a classe política portuguesa, na sua grande maioria, é má, demagógica, previsível. Isso faz com que as pessoas ganhem anticorpos, desconfiem, tenham vergonha ou mesmo raiva dos seus representantes. Nas últimas eleições, 3,5 milhões de portugueses não quiseram ir votar. Dispensaram o seu direito e dever cívico, trocaram-no por um encolher de ombros e um desinteressado "deixa andar".

Não consigo mesmo perceber como é que não votar pode mudar as coisas. Estamos todos cansados, é verdade. Aquilo já nos soa tudo ao mesmo, mas porra, é o nosso País, são os nossos políticos, é o nosso futuro. Não votar é perpetuar no poder um modelo de políticos que já provou que está ultrapassado.

Sempre achei a abstenção em relação a qualquer coisa, um mau princípio. Defendo que as pessoas devem ter opinião, devem tomar partidos, devem cometer erros até perceber que acertaram. Mas desistir, nunca. E quem escolhe a abstenção está a desistir.

Por isso mesmo, defendo uma discussão alargada sobre o voto obrigatório em Portugal. Existem bons argumentos a favor e contra. São mais de 30 países no Mundo onde isso acontece. Entre eles, Austrália, Bélgica, Brasil, Liechtenstein ou Luxemburgo, onde quem não cumpre com a sua obrigação é responsabilizado através de multas pecuniárias, tendo de apresentar uma justificação válida ou vê dificultado o acesso a passaportes, certidões ou empregos na Função Pública.

E que tal se trocássemos umas ideias sobre este assunto?

06/10/09

Não serei eu nem tu, seremos nós

O Mundo era diferente em 92.

Boutros-Ghali era o Secretário-Geral da ONU, o pai Bush era presidente dos EUA, a Jugoslávia começava a chegar ao fim e abriam-se as portas do conflito nos Balcãs, acabava a guerra em El Salvador, assinava-se o Tratado de Maastricht, 'Silêncio dos Inocentes' brilhava nos Óscares, era inaugurada a Euro Disney em Paris, a Dinamarca tornou-se campeã europeia de futebol, os Jogos Olímpicos foram em Barcelona, deu-se o massacre na prisão brasileira de Carandiru, João Paulo II pediu desculpa a Galileo pelo mal que a Inquisição lhe fez, Carlos e Diana separaram-se oficialmente, Collor de Mello foi considerado culpado de desviar mais de 30 milhões de dólares do governo brasileiro e um avião da Martinair despenhou-se no Aeroporto de Faro matando 56 pessoas.

Era um mundo diferente. Eu tinha 17 anos e ela acabava de nascer. Hoje, ela faz 17 anos.
Naquela tarde de Outubro, saí da escola à pressa para chegar a tempo de alargar os meus horizontes e de ver a comunicação social portuguesa a entrar numa fase decisiva. Eram 16h quando começou a emissão da SIC e do seu serviço informativo que revolucionou a forma de tratar a notícia em Portugal.