Porquê? Why?

Há histórias que têm que ser contadas.
Há exemplos que têm que ser seguidos.
Há personagens que têm que ser desvendadas.
E nós merecemos um jornalismo diferente que nos mostre que ainda vale a pena.



19/08/09

Excelente notícia

É para isto que vive o Jornalismo Positivo.

Leio esta notícia no Diário Digital e só posso ficar contente:

"Chile: Nasce diário virtual que só dá boas notícias

Em tempo de crise, recessão e alterações climáticas, dois irmãos chilenos decidiram apostar no optimismo e criar o jornal digital El Buen Diario, o primeiro neste suporte na América Latina a publicar apenas boas notícias.

Em declarações à agência noticiosa EFE, os irmãos Sebastián e Cristóbal Díaz de Valdés afirmaram que a crise nos meios de comunicação se deve aos conteúdos divulgados, que dão uma «visão muito negativa» da actualidade.

Assim, Sebastián, que é psicólogo, e Cristóbal, que é comunicador social, uniram-se para combater «uma crescente insatisfação com os meios tradicionais» e para propor uma ferramenta baseada nas experiências positivas que o primeiro viveu com os seus pacientes na clínica onde trabalhava."

Não percam!

http://www.elbuendiario.cl/

Sporting 2, Fiorentina 2

Curaçao. Antilhas Holandesas


O terreno atrás de casa da minha avó era um descampado. Hoje é um parque de estacionamento. De manhã, antes de nos chamarem para o almoço, havia sempre jogo de futebol nos longos dias das férias grandes. E ao final da tarde, a mesma coisa. À noite, de vez em quando, havia fogueira para saltar. E estávamos no meio da cidade.

Aldinho, Pilinhas, Joe e eu. Ou melhor, Maradona, Littbarski, Zico e Valdano, uma equipa de luxo. Eram os nossos ídolos. O momento alto era jogarmos contra os miúdos mais velhos, os dos Edifícios Montalvão. Eram mais altos, mais fortes e ganhavam-nos sempre. Quatro contra quatro, balizas pequenas, muda os cinco, acaba os dez. As regras eram simples.

Todos nós éramos mais pequenos que eles, mais fracos, jogávamos pior. Mas esforçávamo-nos. A cada encosto mais forte, a cada entrada mais dura, gritávamos "Falta!". Mas o jogo não parava, só se a coisa fosse realmente grave. A nossa equipa era a dona da bola, tínhamos apenas essa vantagem. Era mesmo a única.

Por mais que jogássemos, por mais sorte que tivéssemos, o melhor que conseguíamos era empatar. Num desses momentos, o Zico - Joe, filho de emigrantes no Canadá e donos da oficina do bairro - apanhou a bola a uns bons dez metros da baliza e acertou-lhe em cheio, daquela forma que só quem já jogou na rua sabe como é. Ficou nove a nove, o golo decisivo ficou por marcar porque a minha avó me chamou para o almoço.

Ontem à noite, a convite de um amigo, fui ver o rival Sporting jogar com a Fiorentina. E voltei a sentir tudo isto. Vi uma equipa de miúdos cheios de vontade de fazer alguma coisa, mas os outros eram todos mais altos, mais esclarecidos, mais velhos, mais matreiros. Os miúdos deram a volta ao resultado, mas deixaram-se empatar e saíram de campo satisfeitos com isso.

Só não vi a avó de nenhum deles o chamar para o almoço.

18/08/09

Azul não, obrigado.

Arredores de Vitoria, País Basco


Portugal vivia uma Primavera. Marcelista, diziam. O velho, o da Outra Senhora, já tinha tombado de vez, com direito a queda e cadeira partida. Lá longe, naquilo que chamavam o Ultramar, milhares de portugueses participavam no Vietname português.

Por cá, os capitães decidiram que alguma coisa teria que ser feita. Partiram em coluna desde Santarém, chegaram a Lisboa, invadiram o Largo do Carmo e exigiram a demissão de Marcelo Caetano. A população aderiu, sequiosa de mudança. Levado o líder no carro de combate, o povo pôde sair à rua. E saiu. Na baixa lisboeta, nesse Abril de 1974, uma florista lançou o mote e colocou um cravo azul no cano da espingarda.

Azul? Pára tudo!

Até ao final deste mês está disponível uma petição on-line que se opõe à autorização do cultivo de cravos transgénicos, uma medida autorizada pelo ministério do Meio Ambiente da Holanda. As associações anti-transgénicos portuguesas já demonstraram o seu apoio a esta contestação, realçando que, "com a autorização do cultivo de cravos geneticamente modificados na Europa, acaba o mito de que os transgénicos existem apenas para aumentar a produção de produtos agrícolas e acabar com a fome no mundo". Quem o diz é Margarida Silva da Plataforma Transgénicos Fora.

Parece-me ser uma boa posição, mas o que me preocupa mesmo é que tentem mudar a História. Naquele 25 de Abril, os cravos eram vermelhos.
E isso que fique bem claro.
Encarnados ainda admito, mas azuis é que não.


17/08/09

It's a kind of Magic

Há quase 19 anos, Earvin juntou os jornalistas para uma conferência de imprensa. Disse muito simplesmente que ia deixar de ser desportista profissional. Tinha contraído o HIV. A notícia era bombástica - Magic Johnson tinha sida.

Os fãs queriam mais e convenceram a estrela dos Los Angeles Lakers a jogar até ao final dessa época, apesar dos protestos de alguns colegas de profissão. Diziam que tinha os dias contados, que a esperança média de vida era de cinco ou dez anos. Quis abandonar tudo e refugiar-se na família, mas havia outros planos no horizonte. No Verão seguinte, ainda levou a equipa do seu país à medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Barcelona. Abandonou o o basquetebol e quatro anos voltou. Acabou por retirar-se novamente e ainda teve tempo para mais um regresso aos campos da NBA até que em 1996 pendurou definitivamente as botas.

Entrou para a lista dos 50 melhores jogadores de basquetebol de todos os tempos e só quem o viu jogar sabe como essa distinção é justa. Fez 50 anos no passado dia 14. Continua bem vivo, 19 anos depois de lhe terem destinado um fim precoce.

Para o Eddy

Proença-a-Nova, Portugal


Já colocaste a tua vida nas mãos de outra pessoa?

Provavelmente fazemo-lo todos os dias. Basta atravessar uma passadeira, algum condutor alterado ou distraído pode não parar. Basta andar de carro com um amigo imprudente a conduzir. Mas aí estarás a colocar de modo indirecto a tua vida nas mãos de outra pessoa.

Numa daquelas reportagens alucinadas que tive a oportunidade de fazer para a NS - Notícias Sábado, propus-me a saltar de pára-quedas, num salto tandem, e contar/escrever a experiência. A proposta foi aceite e segui para o centro do país onde a empresa Sky Dive oferecia esses serviços ao público em geral.

Dobrados os pára-quedas, explicados procedimentos de segurança. Eddy, o instrutor e proprietário da empresa, convidou-me a subir para o avião. Levámos cerca de 20 minutos a atingir os 14 mil pés de altitude, qualquer coisa como 4000 metros. À medida que subíamos, o estômago apertava. Éramos 12 pessoas, sentados, de cócoras, à espera que o momento chegasse. Quando a campainha de segurança tocou e as portas se abriram, lá em baixo só se viam campos de cultivo, cortados por estradas e aquilo que pareciam casas.

Eddy estava atrás de mim, estávamos ligados, íamos saltar juntos, instrutor e instruendo. "Saltas quando quiseres", disse-me ele. Era o que estava mais perto da porta. Pensei duas vezes, claro, mas saltei, com ele.

Durante um minuto fomos em queda livre a uma velocidade de quase 200 km/hora, mal dava para respirar. O salto foi filmado, tirámos fotografias, é uma experiência única.

Peraí! E se ele não abre o pára-quedas? Será que vou conseguir abrir o de emergência? E se ele estiver farto da vida e decidir não abrir isto? A preocupação esteve na minha cabeça durante alguns segundos, demasiados. Estava a colocar a minha vida nas mãos de um estranho.

Um puxão demasiado forte deu-me a resposta, o pára-quedas estava aberto. Minutos depois, sentados no chão, em terra firme, Eddy libertou os mosquetões que nos prendiam. Levantei-me, dei dois passos em direcção a ele e dei-lhe um abraço sentido. "Obrigado, Eddy. Muito obrigado, mesmo!"

Eddy Resende era o piloto da aeronave que se despenhou este fim-de-semana em Évora. Tinha 40 anos, dois filhos e quando se apercebeu da avaria no avião, ordenou que toda a gente saltasse. Ficou a bordo com João Silva, amigo e também ele pára-quedista, e tentaram aterrar em segurança. Não conseguiram, embateram num prédio e tiveram morte imediata.

Antes de nos despedimos, nessa tarde de há três anos, Eddy falou da relação que estabelecia com os seus clientes: "Eu telefono a quem tenha saltado comigo e toda a gente me atende o telefone, mesmo que estejam no meio de uma reunião ou a fazer qualquer coisa importante. Não sei porquê, devem estar agradecidos por eu ter aberto o pára-quedas".

Eu estou.