No Parque da Bela Vista, em Lisboa, são esperadas 25 mil pessoas para o maior piquenique da história. O evento é organizado pelo Modelo e Tony Carreira vai lá tocar. Cada bilhete custa cinco euros e os participantes devem levar o farnel de casa. De preferência numa cesta de verga onde também estará uma toalha aos quadrados vermelhos e brancos, talheres, pratos e copos de plástico. Isto não é obrigatório, sou eu a divagar.
Pois então, se tudo correr como previsto, Portugal vai mais uma vez entrar para o Livro Guinness dos Recordes. E desta vez não em virtude do maior bolo-rei do Mundo, da maior concentração de Pais Natal numa cidade ou do maior ajuntamento de mulheres grávidas da História fora da Maternidade Alfredo da Costa.
Deve ser uma tarde engraçada, a de hoje. O Tony a cantar, o mulherio aos gritos, as crianças a jogar à bola, os pais deitados à sombra com a Mini apoiada na barriga e os olhos a fecharem de cansaço. Eu gosto de piqueniques e até há 10 minutos tinha apenas alguma simpatia pelo Livro Guinness dos Recordes. Até tenho dois exemplares de anos diferentes aqui nas estantes que teimo em não arrumar.
Acontece que, há 10 minutos, estive a ler no DN uma notícia sobre Michelito Lagravere, aquele miúdo de 11 anos que é toureiro. O mesmo que foi proibido de actuar no Campo Pequeno pela Comissão de Protecção de Menores, depois de um protesto apresentado por organizações anti-tourada. Estava então a ler o jornal e fiquei a saber que no início deste ano, em Mérida, Michelito matou seis touros num dia porque queria entrar para o Livro Guinness dos Recordes como a criança que mais touros matou em 24 horas. Não li isto bem, pensei. Então o Guinness entra nesta palhaçada?
Não. No Guinness não entram recordes relacionados com a tortura de animais. E fiquei com uma grande simpatia pelo mítico livro. Não aprovam a tortura às mãos de uma criança, mas aceitam um piquenique onde vai cantar o Tony Carreira sob um sol de quase 35 graus num dos bairros mais problemáticos da capital portuguesa. 'Tá certo.