Porquê? Why?

Há histórias que têm que ser contadas.
Há exemplos que têm que ser seguidos.
Há personagens que têm que ser desvendadas.
E nós merecemos um jornalismo diferente que nos mostre que ainda vale a pena.



19/06/09

Cheira mal. Foste tu?

Vila do Conde, Portugal

É-me indiferente o autor da notícia, o jornal onde foi publicada ou a miséria social do tema. Este é um excerto de uma peça de um diário nacional português que merece chegar às faculdades onde se ensina jornalismo.

Não pelo brilhantismo ou pela mediocridade da escrita, nem pelo bom ou mau exemplo de informação, mas sim porque este é o tipo de jornalismo que cada vez mais se faz por cá. É a "mexicanização" ou o "abrasileiramento" da notícia-choque, o explorar dos sentimentos, a invasão da privacidade, o vasculhar no excremento. Porque, decidiram algumas pessoas que mandam, é disto que o povo gosta. Talvez tenham razão, há muita gente que gosta de abrandar para ver o acidente.

Eu prefiro mandar vir com os otários que o fazem, apitar para que andem mais rápido e deixem de empatar quem quer fazer alguma coisa de jeito na vida.

Insultos à mãe no funeral dos filhos

Os três irmãos – Diogo, de 12 anos, Tiago, de seis, e Afonso, de apenas dois anos – que morreram no incêndio num prédio devoluto no Pinhal Novo foram ontem sepultados no cemitério de Benavente. A cerimónia fúnebre foi marcada pela divisão familiar e pelos insultos que alguns populares proferiram contra a mãe das crianças, Maria Florinda Valente Alves.

Eram 16h30 quando os três pequenos caixões brancos foram colocados lado a lado à frente do altar na Igreja Matriz de Benavente. Rosa, de 19 anos, uma das irmãs dos menores, estava sentada na primeira fila e chorava convulsivamente, amparada por uma prima. Juliana, de 21 anos, a irmã que estava com as três crianças na fatídica noite, estava na mesma fila mas separada de Rosa por cinco pessoas. A dar-lhe o ombro não estava o namorado, Nuno, porque Florinda pediu que não fosse. Mas estava um irmão de quem a família nunca falou. Afinal eram oito e não sete os filhos de Maria Florinda Alves.

Micael é o mais velho de todos e é filho do mesmo pai de Juliana e de Rosa. "A mãe nunca ligou muito a este filho, mas é muito bom rapaz, talvez o mais certo da família", disse uma vizinha de Florinda, sublinhando que o rapaz casou, tem um filho e seguiu a carreira militar.

Na segunda fila estava a mãe , vestida com uma t-shirt preta. Chorou em silêncio durante toda a cerimónia. O pai, Luciano Ribeiro, estava numa fila do lado direito do altar, sozinho de olhos postos no chão.

O povo falava em surdina, mas não ousou perturbar o sermão do padre. Ouvia-se aqui e ali: "Tenho pena é das crianças" e "ela é que devia estar ali". Quarenta e cinco minutos depois, o cortejo fúnebre saiu em direcção ao cemitério.Foi no momento em que a terra cobriu os caixões – ficaram todos na mesma sepultura comum – que o silêncio terminou. "Agora já podes sair à noite", disse uma mulher contra a mãe. "Como foste capaz de deixar os filhos com a drogada", dizia uma mulher, referindo-se a Juliana. Florinda, Juliana, Rosa e Luciano ouviram tudo sem reacção.

3 comentários:

nat disse...

uhm... CM?

Ricardo Santos disse...

É indiferente, acredita. O estilo da coisa está em todo o lado.

Soph disse...

Assustador!!!