Porquê? Why?
Há exemplos que têm que ser seguidos.
Há personagens que têm que ser desvendadas.
E nós merecemos um jornalismo diferente que nos mostre que ainda vale a pena.
30/10/09
Um balão chamado desejo
28/10/09
Angolagate e Gaydamak
Tudo remonta ao período entre 1993 e 1998, quando os dois foram acusados de vender armas a Angola, "provenientes do antigo bloco soviético, quando o país estava em guerra civil, sem autorização do Estado francês. Charles Pasqua era então ministro do Interior (hoje é senador) e foi condenado a três anos de detenção, dois deles com pena suspensa, e 100 mil euros de multa por tráfico de influências, mas o advogado já anunciou que vai apresentar recurso."
Uma mão lava a outra
Há 11 anos, Arcadi juntou-se ao amigo Pierre e resolveram ganhar algum dinheiro. Forneceram ao estado angolano um carregamento de armas soviéticas no valor de 500 milhões de dólares. Um quinto do valor, alegadamente proveniente dos lucros da companhia petrolífera angolana Sonangol, foi para o seu bolso, era a comissão pelo negócio. Arcadi tem por último nome Gaydamak e defende-se dizendo que tudo não passou de uma transacção comercial entre dois países, Angola e Rússia, mediada em França pelo banco do qual é proprietário. O amigo é Pierre Falcone, empresário com ligações perigosas a Angola, Portugal, França e Brasil. Ambos juram inocência perante a acusação de tráfico de armas e ameaçam processar judicialmente quem disser o contrário. Apesar dos inúmeros problemas com a Justiça, Gaydamak acabou por ser condecorado pelo estado francês com a Ordem Nacional de Mérito. Por outras razões, é certo. O empresário israelita – apesar de portador de passaporte de três outros países – prossegue agora a sua saga milionária, envolvendo-se em negócios de diamantes, petróleo, comunicação social e desporto. É proprietário de jornais, um clube de futebol, outro de basquetebol e tem uma fortuna estimada em mais de três mil milhões de dólares. Mas afinal, de onde vem este homem que pagou em dinheiro vivo 15% da dívida externa angolana à Rússia (no valor de seis mil milhões de dólares), é conselheiro particular de José Eduardo dos Santos, fez um donativo generoso para as vítimas do 11 de Setembro e outro para o exército israelita?
Agora, a outra versão, a que ele dispensaria: Local e ano de nascimento coincidem. Na adolescência, chega a Israel e instala-se no kibbutz Beit-Hachita. Muda-se para Haifa e encontra trabalho no porto da cidade israelita. Apanha um navio e desembarca em França aos 20 anos. Segue-se um rol de profissões e actividades que terá desempenhado nos anos que se seguiram: operário naval, tradutor e coleccionador de problemas com as Finanças. Depois da queda do Muro de Berlim, tal como tantos outros empresários russos, Gaydamak começa a tomar parte em negócios internacionais ligados ao gás, petróleo, helicópteros e armamento. Hoje, a sua fortuna é mantida graças às minas de fosfato no Cazaquistão, à criação avícola e ao mercado imobiliário na Rússia. Sem contar com a rede de bancos da qual é accionista, a UBS, e o semanário Moscow News. Em negociação está a compra do jornal francês France Soir. A par de tudo isto, este israelita que pode ser anunciado como angolano, canadiano ou russo – graças à diversidade de passaportes de que é portador - carrega uma série de acusações às costas: contrabando de armas em Angola e no Afeganistão, treino de forças paramilitares, tráfico de droga, envolvimento no já referido Angolagate (tornado público em 2000 e do qual também fez parte Jean-Christophe Mitterrand, filho do antigo Presidente da República francesa), fuga ao fisco, especulação imobiliária, branqueamento de capitais e ligações ou máfia russa.
Para manter o seu status e não ir parar à prisão, Gaydamak socorre-se dos melhores advogados que o dinheiro pode pagar e refugia-se numa série de estratagemas e relações perigosas que levam à loucura os seus acusadores. A caridade é um dos instrumentos. As doações que tem feito ao exército israelita e a garantia de emprego para antigos líderes da Mossad (os Serviços Secretos de Israel) permitem-lhe estar seguro no país e não ser enviado para França ou para a Suiça, onde tem mandatos de captura em seu nome. É em Israel que executa algumas das suas ‘obras sociais’. Exemplos disso são a compra de 100% das acções do clube de futebol Beitar de Jerusalém (por 11 milhões de euros), bem como da equipa de basquetebol da mesma cidade, o Hapoel. Outra prova do seu ‘altruísmo’ ocorreu em 1995 quando Arcadi foi fundamental na libertação de dois pilotos franceses capturados pelo exército sérvio na Bósnia. Situação semelhante ocorreria três anos depois na Rússia, dessa vez com o exército tchecheno. E novamente Gaydamak conseguiria a libertação dos prisioneiros franceses. Como? Conhecimentos. Pelas intervenções foi condecorado pelo Estado francês, o mesmo que agora o persegue por tráfico de armas e evasão fiscal – mais de 500 milhões de euros. Gaydamak assume-se como um “homem sem estudos” que conseguiu a sua fortuna através da “sorte”. Sobre as explicações à justiça, Arcadi diz-se “pronto para regressar a França”, que seria “vantajoso explicar-se em tribunal. Mas apenas quando for escolhido outro juiz para o caso”. É que o actual, Philippe Courroye, “manipula a comunicação social contra mim”.
in NS - Notícias Sábado, Maio de 2006