Porquê? Why?

Há histórias que têm que ser contadas.
Há exemplos que têm que ser seguidos.
Há personagens que têm que ser desvendadas.
E nós merecemos um jornalismo diferente que nos mostre que ainda vale a pena.



30/10/09

Um balão chamado desejo

Ilhas Galápagos, Equador


Se um balão nunca deixasse de subir, onde iria parar?

Retiremos da equação todas as condicionantes físicas. Imaginemos um balão a subir no ar, sem parar. Haverá um fim? Existirá uma altura em que bate no tecto e daí não passa?

O universo é infinito, ele poderá subir sempre. Esta parece ser a resposta mais correcta, mais científica, mais aceitável. E nem precisaríamos de discutir mais o assunto, mas o nosso cérebro pode ir mais longe. Deve ir mais longe, tem que ir mais longe, mais acima.

E mais para trás. Como no caso da vida. Se tudo começou com uma célula e a vida é aquilo que conhecemos hoje - bendito Darwin! - o que existia antes de essa célula se ter formado? Quem ou o quê fabricou essa célula? Pode ter sido um acaso da física, pode ter sido uma entidade divina, pode ter sido uma experiência que correu bem. Pode ser tanta coisa...

É aí que se entra na área mágica do cérebro humano, quando já não se consegue idealizar mais nada para trás. Nem mais para cima, como no caso do balão. Essa ginástica mental, esse exercício de superação dá-me adrenalina. Gosto de chegar a esse zona que não sei caracterizar, em que ando às apalpadelas a tentar agarrar-me a qualquer coisa. De cada vez que lá vou, sinto que fui um pouco mais longe, que bati mais um recorde pessoal.

Não é apenas a resposta final que me motiva. O caminho para lá chegar é que me dá gozo.

28/10/09

Angolagate e Gaydamak


Li ontem no Público que "um tribunal de Paris condenou hoje a seis anos de detenção os principais acusados no processo Angolagate, um caso de venda de armas a Angola em meados dos anos 90."

Fiquei a saber que "o francês Pierre Falcone e o israelita de origem russa Arcadi Gaydamak foram condenados a seis anos de detenção. (...) Pierre Falcone foi condenado por tráfico de influências e comércio de armas e o tribunal ordenou a sua detenção imediata, sublinhou a AFP. Gaydamak, o grande ausente neste processo apesar de já ter sido emitido um mandado de detenção contra ele, está na Rússia e foi também condenado por comércio de armas e tráfico de influências. Tanto Falcone como Gaydamak deverão agora apresentar recurso, tal como anunciaram os advogados."

Tudo remonta ao período entre 1993 e 1998, quando os dois foram acusados de vender armas a Angola, "provenientes do antigo bloco soviético, quando o país estava em guerra civil, sem autorização do Estado francês. Charles Pasqua era então ministro do Interior (hoje é senador) e foi condenado a três anos de detenção, dois deles com pena suspensa, e 100 mil euros de multa por tráfico de influências, mas o advogado já anunciou que vai apresentar recurso."

E lembrei-me logo do perfil de Gaydamak que publiquei em Maio de 2006 na revista NS - Notícias Sábado. Vale a pena recordar a história do milionário israelita nascido em Moscovo.


Uma mão lava a outra

Tráfico de armas, droga, influências e diamantes. Proprietário de jornais, clubes desportivos e minas de fosfatos. Multimilionário e perseguido pela Justiça, eis Gaydamak.

Há 11 anos, Arcadi juntou-se ao amigo Pierre e resolveram ganhar algum dinheiro. Forneceram ao estado angolano um carregamento de armas soviéticas no valor de 500 milhões de dólares. Um quinto do valor, alegadamente proveniente dos lucros da companhia petrolífera angolana Sonangol, foi para o seu bolso, era a comissão pelo negócio. Arcadi tem por último nome Gaydamak e defende-se dizendo que tudo não passou de uma transacção comercial entre dois países, Angola e Rússia, mediada em França pelo banco do qual é proprietário. O amigo é Pierre Falcone, empresário com ligações perigosas a Angola, Portugal, França e Brasil. Ambos juram inocência perante a acusação de tráfico de armas e ameaçam processar judicialmente quem disser o contrário. Apesar dos inúmeros problemas com a Justiça, Gaydamak acabou por ser condecorado pelo estado francês com a Ordem Nacional de Mérito. Por outras razões, é certo. O empresário israelita – apesar de portador de passaporte de três outros países – prossegue agora a sua saga milionária, envolvendo-se em negócios de diamantes, petróleo, comunicação social e desporto. É proprietário de jornais, um clube de futebol, outro de basquetebol e tem uma fortuna estimada em mais de três mil milhões de dólares. Mas afinal, de onde vem este homem que pagou em dinheiro vivo 15% da dívida externa angolana à Rússia (no valor de seis mil milhões de dólares), é conselheiro particular de José Eduardo dos Santos, fez um donativo generoso para as vítimas do 11 de Setembro e outro para o exército israelita?

Arcadi Gaydamak, Ari Barlev de nome hebreu, tem duas histórias de vida: a que é contada e difundida pelo próprio e a que se vai sabendo pelas marcas que foi deixando pelo mundo. Vamos à oficial, a autorizada, aquela que foi negociada com um jornalista da cadeia francesa de televisão TF1. Nasceu em Moscovo em 1952, chegou a França com 19 anos, respondendo a um anúncio para pintor de prédios. Passou a tradutor e tomou parte nos acordos de negociação franco-russos sobre o comércio de gás. Diz que entrou no mundo dos negócios através do circo. Eram necessárias empresas de transportes para fazer movimentar as companhias circenses e ele criou-as. Em São Petersburgo, trabalhou nas docas e conheceu as pessoas certas, já que formou uma rede de empresas de segurança com equipas especializadas. Daí a movimentar-se nas altas esferas foi um pequeno passo. Uma verdadeira história de sucesso, portanto.

Agora, a outra versão, a que ele dispensaria: Local e ano de nascimento coincidem. Na adolescência, chega a Israel e instala-se no kibbutz Beit-Hachita. Muda-se para Haifa e encontra trabalho no porto da cidade israelita. Apanha um navio e desembarca em França aos 20 anos. Segue-se um rol de profissões e actividades que terá desempenhado nos anos que se seguiram: operário naval, tradutor e coleccionador de problemas com as Finanças. Depois da queda do Muro de Berlim, tal como tantos outros empresários russos, Gaydamak começa a tomar parte em negócios internacionais ligados ao gás, petróleo, helicópteros e armamento. Hoje, a sua fortuna é mantida graças às minas de fosfato no Cazaquistão, à criação avícola e ao mercado imobiliário na Rússia. Sem contar com a rede de bancos da qual é accionista, a UBS, e o semanário Moscow News. Em negociação está a compra do jornal francês France Soir. A par de tudo isto, este israelita que pode ser anunciado como angolano, canadiano ou russo – graças à diversidade de passaportes de que é portador - carrega uma série de acusações às costas: contrabando de armas em Angola e no Afeganistão, treino de forças paramilitares, tráfico de droga, envolvimento no já referido Angolagate (tornado público em 2000 e do qual também fez parte Jean-Christophe Mitterrand, filho do antigo Presidente da República francesa), fuga ao fisco, especulação imobiliária, branqueamento de capitais e ligações ou máfia russa.

Para manter o seu status e não ir parar à prisão, Gaydamak socorre-se dos melhores advogados que o dinheiro pode pagar e refugia-se numa série de estratagemas e relações perigosas que levam à loucura os seus acusadores. A caridade é um dos instrumentos. As doações que tem feito ao exército israelita e a garantia de emprego para antigos líderes da Mossad (os Serviços Secretos de Israel) permitem-lhe estar seguro no país e não ser enviado para França ou para a Suiça, onde tem mandatos de captura em seu nome. É em Israel que executa algumas das suas ‘obras sociais’. Exemplos disso são a compra de 100% das acções do clube de futebol Beitar de Jerusalém (por 11 milhões de euros), bem como da equipa de basquetebol da mesma cidade, o Hapoel. Outra prova do seu ‘altruísmo’ ocorreu em 1995 quando Arcadi foi fundamental na libertação de dois pilotos franceses capturados pelo exército sérvio na Bósnia. Situação semelhante ocorreria três anos depois na Rússia, dessa vez com o exército tchecheno. E novamente Gaydamak conseguiria a libertação dos prisioneiros franceses. Como? Conhecimentos. Pelas intervenções foi condecorado pelo Estado francês, o mesmo que agora o persegue por tráfico de armas e evasão fiscal – mais de 500 milhões de euros. Gaydamak assume-se como um “homem sem estudos” que conseguiu a sua fortuna através da “sorte”. Sobre as explicações à justiça, Arcadi diz-se “pronto para regressar a França”, que seria “vantajoso explicar-se em tribunal. Mas apenas quando for escolhido outro juiz para o caso”. É que o actual, Philippe Courroye, “manipula a comunicação social contra mim”.

in NS - Notícias Sábado, Maio de 2006

26/10/09

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A lista destas corajosas personalidades está mesmo aqui ao lado.