Morto?

Steve Fossett morreu. Está morto e não enterrado. O milionário norte-americano desapareceu em Setembro de 2007 quando sobrevoava o deserto Mojave, Nevada, nos EUA, ao comando de uma avioneta. Mas só ontem foi declarado oficialmente morto. O juíz Jeffrey Malak acedeu finalmente à vontade de Peggy, a mulher de Fossett, que vinha há alguns meses a solicitar a oficialização do óbito do milionário da indústria de serviços financeiros. O juíz decidiu, está decido. Morreu. Tinha 63 anos.

Fossett atravessou a nado o Canal da Mancha, participou numa corrida de 1875 km em trenós puxados por cães, no Alaska, correu as 24 Horas de Le Mans por duas vezes, bateu por oito vezes recordes do mundo de navegação à vela, atravessando numa das ocasiões o Oceano Atlântico em quatro dias e 17 horas, atravessou o Oceano Pacífico em balão de ar quente e tentou por seis vezes dar a volta ao Mundo nesse meio de transporte. Após cinco tentativas frustradas, numa delas acompanhado pelo também milionário Richard Branson, conseguiu finalmente, em Julho de 2002, tornar-se no primeiro homem a alcançar a façanha.

A 3 de Setembro de 2007, Fossett levantou voo do seu aeródromo privado e desapareceu. Sem pedidos de socorro, sem ter voltado a aterrar, sem sinais. Não seria fantástico que esta fosse a sua maior aventura de todas? Que se folheasse um jornal e se pudesse ler: "Farto da fama e da fortuna, Steve Fossett forjou a sua própria morte e desapareceu no deserto. Hoje, vive calma e tranquilamente numa ilha paradisíaca de onde apenas sai para bater recordes impossíveis e viver aventuras fantásticas sem que o Mundo tenha de saber disso. No final de cada expedição, Fossett volta ao seu paraíso na Terra, prepara um 'mojito', deita-se na areia branca e fina da praia e espera pelo pôr-do-sol." Essa sim, seria uma boa notícia, não a da sua morte, oficial ou oficiosa.

Vamos lá fazer as contas

José Sócrates está radiante. A taxa de desemprego está em tendência de descida, mas os números do Instituto Nacional de Estatística não mentem: é a mais alta dos últimos 10 anos. São cerca de 448 mil portugueses sem emprego. Em declarações à comunicação social, o Primeiro-Ministro mostra-se satisfeito por ver que, de trimestre para trimeste, a taxa tem vindo a descer. Óptimo! Ficamos todos contentes. Todos aqueles que acreditaram na promessa de 150 mil novos postos de trabalho estão radiantes. De acordo com o Governo já foram criados 98 mil e até 2009 são esperados os restantes. Mas a taxa de pessoas sem emprego é a mais alta dos últimos 10 anos. Não estou mesmo a perceber. Chumbei a Matemática mais do que uma vez, mas ainda sei fazer contas. Não tão bem como António Guterres, mas sei. E sei que para os números do desemprego em Portugal não contam os casos dos milhares de cidadãos nacionais que tiveram de ir trabalhar para Espanha e voltam a casa só ao fim-de-semana. Esses também contam para as estatísticas do desemprego ou foram discretamente esquecidos?

Já está na agenda

Vamos a isso. Toca a sair de casa. É sexta-feira, depois é sábado e, espante-se, a seguir vem domingo. Duas noites e dois dias inteirinhos para não fazer nada ou para fazer de tudo um pouco. Aqui ficam algumas sugestões, mas cuidado porque vem aí chuva. Divirtam-se!

1. Festival do Chocolate, em Óbidos. Dura até dia 24 de Fevereiro, mas se quiserem podem arriscar ir já este fim-de-semana. Sabe bem!


2. A brasileira Olivia Byington canta no Teatro Mundial, em Lisboa, até ao próximo dia 24. Todos os dias às 21h30 por 20 euros.


3. O festival gastronómico de caça e pesca da Lousã começa hoje. Ensopado de javali ou truta abafada recheada com presunto são apenas exemplos. Só para bons garfos.


4. Já estreou o filme 'Haverá Sangue', de Paul Thomas Anderson, com Daniel Day-Lewis no papel principal. O épico da ambição, da vingança e do petróleo. Imperdível.


5. Hoje, no Teatro de Vila Real, em Trás-os-Montes, a Companhia Teatral do Chiado apresenta a paródia 'A Bíblia: Toda a Palavra de Deus'. Boa sorte!

Madonna para a Feira do Relógio, já!

Madonna dispensa apresentações. A cantora e actriz transformou-se agora em realizadora e acaba de apresentar o seu primeiro filme, 'Filth and Wisdom',no Festival de Cinema de Berlim. Além de falar de cinema, perante meio milhar de jornalistas a senhora afirmou que gostaria de ser cigana - "Admiro os ciganos, as suas viagens, a música e a espontaneidade". Ou seja, Madonna adora a forma de vida romântica dos ciganos. Por isso, talvez lhe fizesse bem passar uma temporada por cá para poder entender melhor o que é a vida, por exemplo, da família de ciganos que conheci em reportagem para o INDEPENDENTE em 2001. Madonna começaria por ser mãe aos 14 anos e teria seis filhos. Iriam todos à escola, receberia o rendimento mínimo por isso, e aos fins-de-semana iria à Feira do Relógio vender produtos contrafeitos. Conviver com o marido seria bastante mais complicado, porque ele estaria preso por tráfico de droga. Ao final do dia, Madonna, a cigana, iria voltar para a barraca de madeira num bairro ali para os lados de Camarate, onde só existiriam mulheres e crianças. Os homens estariam todos na cadeia. No dia seguinte, a mesma rotina, a mesma falta de condições, a mesma sujidade, a mesma pobreza. De facto, Madonna iria adorar ser cigana.

Parabéns Rui!

Rui Xavier foi distinguido com uma Menção Especial no Festival de Cinema de Berlim graças à curta-metragem 'Superfície'. Rui estudou Tecnologias da Comunicação Social no Porto, Foto-Jornalismo em Cardiff, trabalhou em Londres como fotógrafo para o jornal 'The Independent', voltou a Portugal, passou a editor de fotografia da revista 'Grande Reportagem' e juntou-se ao colectivo de fotógrafos 'Kameraphoto'. Em 2006 mergulhou na área da cinematografia. E acaba de ser recompensado por isso. Das Caxinas para o Mundo! Boa, Rui!

Let the boycott begin!

Steven Spielberg era um dos nomes convidados para os Jogos Olímpicos de Pequim. Iria dar o seu parecer artístico, iria colaborar com a organização do evento, iria estar, este Verão, na China. Mas o realizador norte-americano anunciou o seu boicote aos Jogos. Segundo ele, não existe pressão suficiente da China e da comunidade internacional sobre o Sudão para resolver o drama do Darfour. Mas não só. Segundo ele, o governo chinês tem estado a vender armas ao Sudão. Assim sendo, Spielberg optou pelo boicote. Nos Jogos Olímpicos de 1980, em Moscovo, e de 1984, em Los Angeles, os boicotes foram históricos. Quase 24 anos depois, a história poderá voltar a repetir-se. Não só pelo Sudão ou pelo Darfour, mas também pelas constantes violações dos direitos humanos na China. Oposição e tibetanos sabem do que se fala. Mais informações em http://edition.cnn.com/2008/SHOWBIZ/02/12/oly.spielberg.ap/index.html

Film director Steven Spielberg and actress Mia Farrow joined activists worldwide Tuesday in using the Olympics as a backdrop to address human rights concerns, urging Beijing to exert political leverage on Sudan's government to help end the crisis in Darfur.
Spielberg announced he would no longer act as an artistic adviser for the opening and closing ceremonies, saying he could not reconcile working on the Olympics while China and other nations were not doing enough to ease the suffering.
"Sudan's government bears the bulk of the responsibility for these ongoing crimes but the international community, and particularly China, should be doing more," Spielberg said in a statement. "China's economic, military and diplomatic ties to the government of Sudan continue to provide it with the opportunity and obligation to press for change."

From CNN - http://edition.cnn.com/2008/SHOWBIZ/02/12/oly.spielberg.ap/index.html

O amor é lindo

O enigmático e mercantilista Dia dos Namorados é amanhã. É aquele dia do ano em que os homens passeiam pelas ruas, envergonhados, com um ramo de flores numa mão, prendas emrulhadas noutra. Tem que ser, dizem eles, encolhendo os ombros. Mas não tem mesmo que ser assim. Poderiam fazê-lo noutros dias do ano, noutras ocasiões, sem ligar a calendários ou pressões mediáticas. O 14 de Fevereiro é a mais cínica das datas. Mesmo os casais que passaram o ano de costas voltadas, decidem-se a assinar um pacto de não agressão nesse dia que culmina, não raras vezes, com um jantar apelidado de romântico num qualquer restaurante à média luz. Pelo menos, não estamos na Arábia Saudita, onde foi proibida a venda de rosas vermelhas e todos os produtos relativos ao Dia dos Namorados que tenham a mesma cor. A Polícia Religiosa defende que o vermelho e esta celebração encorajam relações fora do casamento, sendo manifestações anti-islâmicas. Enfim... Vão lá jantar fora à média luz num restaurantezinho medíocre, com um ramito de rosas murcho e um cheque-disco da Fnac embrulhado com um lacinho. Pelo menos, não estamos na Arábia Saudita e somos livres de fazer figuras tristes à vontade.

Obrigado

Palavras simpáticas sobre o 'Jornalismo Positivo' no blogue da REVISTA ATLÂNTICO.
Obrigado. É para continuar!

"Monday, February 11th, 2008
A ler e reler
O blogue de Ricardo Santos, com jornalismo positivo e uma sondagem bem fresquinha sobre a justiça portuguesa. Abraço atlântico e independente, meu amigo."

Perdoai-lhe Senhor...

Em 2006, de acordo com os dados divulgados hoje pelo Instituto Nacional de Estatística, 577 pessoas viram a sua existência ser abalada pelo diagnóstico de SIDA. Seis anos antes, tinham sido 1022. São apenas números. Bons números, a avaliar pela descida de 43,5% dos casos diagnosticados. Péssimos números, se um dos 577 for você, um amigo ou alguém da sua família. No entanto, esta quebra é óptima, é fruto da informação, do abalar dos preconceitos, da melhoria dos comportamentos. Está mais que provado que a utilização do preservativo previne o contágio, apesar de ainda haver quem, em pleno século XXI, não queira recomendar a sua utilização. Hoje, que temos a certeza que a Terra é redonda e gira em torno do Sol e que já não se queimam hereges no Terreiro do Paço, continuam as teimosas e ignorantes resistências ao preservativo. Perdoai-lhes Senhor, porque eles não sabem o que fazem.

Esta é a caricatura!

Em Setembro de 2005, um cartoonista do jornal diário dinamarquês JYLLANDS-POSTEN publicou a célebre e polémica caricatura de Maomé. Hoje, quase ano e meio depois, a edição online do PÚBLICO informa que a polícia da Dinamarca deteve um grupo que planeava um atentado contra o autor da dita caricatura, aquela que se pode ver em anexo. A investigação foi longa e profícua, mas nem é isso que está em causa. Novamente as caricaturas? Ainda, as caricaturas? Kurt Westergaard, de 73 anos, terá sido o homem que desenhou Maomé com um turbante em forma de bomba, o que provocou, há um ano, uma série de violentos protestos em diferentes países muçulmanos. E lá voltamos à questão da liberdade criativa, do direito à opinião, das diferenças entre católicos e muçulmanos, entre Este e Oeste, Sul e Norte, bons e maus. Cristo já foi caricaturado e retratado em filmes, Buda idem, Shiva aspas, até mesmo em musicais indianos. Maomé não o pode ser devido à não representação das figuras religiosas pelos muçulmanos. E então? O cartoonista merece ser morto por isso? Quem quer ser respeitado, deve dar-se ao respeito.

Ponte a pé na indecisão

A Ordem dos Engenheiros não está contente com a escolha governamental da localização da nova ponte sobre o Tejo, aquela que os passageiros deste blog baptizaram, após renhida votação, de Ponte Tony Carreira. Chelas - Barreiro não parece uma boa solução para a organização que representa todos os engenheiros portugueses. Até mesmo José Sócrates. Por isso, preparam-se para apresentar um novo estudo com localização diferente. Alverca - Alcochete é, segundo divulga a SIC, a ligação pretendida pela Ordem. Mas tudo indica que a coisa não fique por aqui. O que não falta no país são engenheiros, governantes e treinadores de bancada. Não percebo nada do assunto, mas penso dar autorização ao deputado que eu ajudei a eleger para a criação de uma comissão de inquérito parlamentar que se vai responsabilizar pela elaboração de um estudo aprofundado sobre a opção Cascais - Alcochete, com passagem pela Trafaria e por Vila Franca de Xira. Pelo tempo que vai levar a percorrer e pelo carácter desinteressante da nova obra, o mais certo é vir a chamar-se Ponte Manoel de Oliveira.

Olha a sondagem fresquinha!

Esta semana, vamos escolher uma canção que exemplifique o estado em que se encontra a Justiça em Portugal. A tarefa é gigantesca, quase bíblica, mas nada nos impede de tentar. Têm uma semana para deixar a vossa opinião e se houver outros títulos da música nacional que encaixem no tema, basta deixar um comentário. Obrigado!

Sem espinhas

Mais uma sondagem que passa, mais uma maioria absoluta que fica. Durante a última semana decorreu aqui no blog a escolha do melhor escritor português vivo. José Luís Peixoto e Miguel Sousa Tavares receberam 5% dos votos cada um. António Lobo Antunes foi o único a dar alguma luta ao vencedor, com 33%. E o Nobel foi, claro, para José Saramago com 55% dos votos. Foi a mais concorrida das sondagens do 'Jornalismo Positivo' e confirmou a popularidade do homem de Lanzarote. Longe da vista, mas, pelos vistos, perto do coração. Obrigado pela participação.

Também tu, Timor?

Timor-Leste a ferro e fogo. Major Reinado morto, Ramos Horta ferido num ataque à casa do presidente e Xanana Gusmão também deverá ter sido atacado nestas primeiras horas de segunda-feira. As informações são contraditórias, mas metem dó. Não pela qualidade, mas pelo conteúdo divulgado. Porra! Depois de tantos anos de chacina, de luta, de sofrimento, agora que são livres de escolher o seu destino em paz, os timorenses não se entendem.

Dá-lhe Cavaco!

Portugal tem "outras prioridades", disse Aníbal Cavaco Silva quando confrontado com a hipótese da organização conjunta com Espanha de um Campeonato do Mundo de futebol em 2018. Foi em Espanha que o Presidente da República deixou clara a sua posição quanto aos anseios de Gilberto Madaíl. O presidente da Federação Portuguesa de Futebol terá feito a proposta ao seu homólogo da federação espanhola e está à espera de uma resposta para saber se a candidatura avança ou não. Mas Cavaco não perdeu tempo e lembrou que é preciso saber se o país tem "todos os recursos necessários para organizar um Mundial". Finalmente alguém com poder de decisão coloca um travão na euforia organizadora e futebolística. Anda tudo esquecido da dezena de estádios construídos para o Euro 2004 e que, tirando os dos três grandes, permanecem vazios semana após semana. Claro que é demagogia falar no investimento em escolas, hospitais e segurança que poderia ter sido feito com o dinheiro, por exemplo, dos elefantes brancos do Algarve, Aveiro ou Leiria. Mas será que precisamos de gastar mais uns bons milhões de euros de forma tão pornográfica? Talvez seja já tempo de aplicar bem o dinheiro dos contribuintes para o bem comum. Não é esse um dos princípios fundamentais de um estado democrático?