Porquê? Why?

Há histórias que têm que ser contadas.
Há exemplos que têm que ser seguidos.
Há personagens que têm que ser desvendadas.
E nós merecemos um jornalismo diferente que nos mostre que ainda vale a pena.



23/10/09

Fuçabook

Gosto da expressão 'rede social'.
Parece um bando de Chicago nos anos 20, mas sem perseguições automóveis a 30km/h e rajadas de metralhadora contra Dons Corleones traídos pela famiglia.

Estou mesmo a falar do Facebook. Só podia. Ao contrário de alguns iluminados, não tenho nada contra. Permitiu-me descobrir o paradeiro a muito boa gente. Mas não me permitiu descobrir novos amigos. Isso não. Nem conhecidos.

Pura e simplesmente não aceito pedidos de amizade de pessoas que não conheça pessoalmente.
Acho estranho que alguém queira ter acesso aos meus "gosto" e "não gosto", às minhas fotografias e informações sem que tenha, pelo menos uma vez, trocado uma palavra comigo.

De quem conheço e não tenho nada contra, aceito o pedido.
Ou ignoro, se não simpatizar muito.

Quando é de alguém de quem não gosto, mas tive a infelicidade de conhecer... aí sim, fico mesmo com a certeza que isto das redes sociais, é uma Cosa Nostra.

Vou tratar de encomendar umas cabeças de cavalo.

H de Amigo


Olha que dois...


Lisboa, 23 Outubro 2009 – A Comissão Europeia anunciou os vencedores do concurso de jornalismo “Pela Diversidade. Contra a Discriminação.” em cada um dos estados-membros. Em Portugal, a categoria geral foi ganha pela jornalista São José Almeida, com o texto “Homossexuais Perseguidos no Estado Novo”, publicado no jornal “Público”. O vencedor da categoria especial, para os artigos focados na ligação entre pobreza e discriminação, é Ricardo Rodrigues, que publicou o texto “Pobres como nós” na revista “Notícias Magazine”. Em Portugal, foram admitidos a concurso 18 trabalhos, publicados entre 30 de Novembro de 2008 e 31 de Agosto de 2009 na imprensa escrita e em meios de comunicação on-line.

Estou contente.
Conheço o trabalho de São José Almeida e gosto.

Estou eufórico.
Conheço muito bem o trabalho de Ricardo Rodrigues e adoro.

Nunca sei há quanto tempo é que conheço o Ricardo. Poderia apostar em 9 anos, mas é-me indiferente. Podiam ser 20 ou apenas 1. Conheci-o nos Açores, entre um e outro gin tónico no Peter's. Era de noite, não se via o Pico.

Estávamos num grupo grande de profissionais desta área, uns bem mais interessantes do que outros como se veio a provar pela continuidade de algumas amizades desde esse momento. Há coisas que não se explicam e não são amor: é este caso. Depois dessa "odisseia", continuámos a encontrar-nos, em trabalho pelos mais variados poisos. Auschwitz, Los Angeles, Penedono ou Alqueva foram apenas alguns deles.

Ao longo das viagens, criei pelo Ricardo um sentimento crítico de amizade. Acho que criámos os dois. Dizemos sempre o que pensamos, mesmo quando sabemos que o outro não vai gostar. Aconselhamos calma quando é preciso, atiçamos o fogo quando é necessário, damos e levamos raspanetes cada vez que o merecemos. E isso vai acontecendo.

Recebi esta notícia do prémio atribuído ao Ricardo com o orgulho que se sente como se fosse alguém da nossa família de quem gostamos. Sinceramente, recebi a notícia, como se tivesse sido eu a recebê-lo. E ele sabe disso. O Ricardo merece este prémio.

A reportagem de que se fala, "Pobres como nós" é excelente. Para além do brilhante trabalho de campo e passagem para palavras do autor, é também - com igual nível de elogio - um excelente trabalho fotográfico de Pedro Loureiro, na minha opinião, o grande fotojornalista português. O trabalho destes dois senhores é um dos melhores retratos contemporâneos da realidade da pobreza em Portugal. Além de que o título é fantástico, coisa que sempre me agrada.

Além do poder e do dom da escrita, o Ricardo Rodrigues tem o poder de contar histórias com sentimentos ambíguos. Fala de travestis como se escreve sobre o amor. Repete palavras para marcar ritmos de respiração. Faz pontos onde menos se espera para nos fazer pensar.

Este prémio é de todos os jornalistas, de todas as pessoas, que acreditam que a sua hora de fazer alguma coisa está a chegar.

21/10/09

Judite

Gosto da PJ.

Gosto.

Não tem nada a ver com o facto de morar paredes meias com a Judiciária. Já gostava antes de viver aqui. Confesso que ainda me passou pela cabeça concorrer a inspector da PJ, mas felizmente para a instituição mudei de ideias. Sempre achei que eram os mais inteligentes entre os polícias. Os outros que me perdoem, é apenas uma opinião.

Fico contente quando comprovo que são competentes. São uns tipos profissionais. Ou então têm uma poderosa máquina de marketing. Vou acreditar que é pelo seu valor que, nos últimos cinco anos, tenham apreendido 64,5 toneladas de drogas duras.

Mas há mais números. Durante as comemorações do 64ª aniversário da PJ, o director nacional, Almeida Rodrigues, fez o balanço dos últimos cinco anos:

- cinco mil armas de fogo apreendidas
- 3275 traficantes detidos
- 1153 homicidas
- 149 assaltantes de bancos
- 188 assaltantes de postos de combustível
- 1818 assaltantes à mão armada
- 494 incendiários
- 231 violadores
- 548 abusadores de crianças
- 62 barcos
- três aviões
- 41 imóveis
- 55 milhões de euros

Há que apontar erros quando as coisas correm mal, mas aplaudir quando o trabalho é bem feito e não pensar que esta é somente uma obrigação deles. Até é, mas quem é que não gosta de receber um elogio pelo trabalho bem cumprido?

20/10/09

Caim? Então, levanta-te!

Santa Marta, Colômbia

Acho deliciosa a polémica em torno de 'Caim', o mais recente livro de José Saramago.
Foi lançado ontem e já os sectários de ambos os lados se movimentam. Os apaixonados por Saramago colocam o livro nas nuvens. Os opositores do Nobel massacram-no. Mas será que uns e outros tiveram tempo para ler o livro?

Duvido. O que acontece é que estão a reagir de forma cega às declarações do escritor aquando do lançamento da obra. Saramago fala da Bíblia como um "manual de maus costumes" onde pontificam histórias de incestos, carnificinas, violência. Uns aplaudem, outros horrorizam-se. E então? Do que é que estavam à espera? Que José Saramago elogiasse a religião católica e a igreja dos homens que a tem regido ao longo dos séculos? Só um ignorante poderia pensar em tal coisa.

Saramago é o que é. Escreve como escreve. Goste-se ou não, escreve sobre temas actuais, sobre a solidão, sobre a perseguição, sobre duelos interiores. E sim, escreve sobre religião, sobre as palavras da Bíblia. E depois? Não se pode questionar a Bíblia? Porquê? Dizem que é de inspiração divina, mas esses são outros quinhentos. Quem escreveu a Bíblia foram os homens e não qualquer Deus. E os homens erram e usam as palavras em benefício próprio ou para atemorizar os crentes. Tem sido a história de todas as religiões. A católica não é diferente das outras e não está acima de suspeitas.

Vou ler o livro com a mesma vontade que li o 'Evangelho Segundo Jesus Cristo' ou o "Ensaio Sobre a Cegueira'. E depois terei uma opinião sobre o livro, não sobre o escritor. É pena que outros não façam o mesmo e já estejam a "cagar postas de pescada" sobre a pessoa e não sobre 'Caim'. Seja a favor ou contra.

'Caim' e a Bíblia são obras de ficção. A primeira ainda não li, mas vou fazê-lo. A segunda também não e não tenho intenção de ler. Já vi o filme.