Porquê? Why?

Há histórias que têm que ser contadas.
Há exemplos que têm que ser seguidos.
Há personagens que têm que ser desvendadas.
E nós merecemos um jornalismo diferente que nos mostre que ainda vale a pena.



18/01/08

Que é feito de si?

Há cerca de 115 dias, em Setembro de 2007, o Mundo abriu os olhos e viu a Birmânia/ Myanmar à beira do caos. Os monges budistas e a população vieram para as ruas protestar contra a ditadura militar, houve mortes, repressão policial e preocupação internacional propagada aos sete ventos. Entretanto, uma série de outras notícias e eventos tomaram conta da agenda e nunca mais se falou de um dos mais misteriosos países da Ásia. A líder da oposição ao regime e Prémio Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi, continua a viver confinada à sua casa. Nos últimos 18 anos, passou mais de 12 em prisão domiciliária. A população continua descontente e pede a transição para a democracia, mas até agora nada. Se nem as abundantes reservas de petróleo e de gás natural da Birmânia/Myanmar são suficientes para justificar uma intervenção da ONU ou dos Aliados, que tal tentar resolver a questão apenas em nome da Democracia e da Humanidade?

Fim-de-semana à porta


Não há chuva à vista para os próximos dias. Pelo menos no Centro e Sul, mas com isto do tempo nunca se sabe. E há tanta coisa para fazer neste país. Aproveitem!

1 - Ir ao futebol. Os três grandes jogam em casa no sábado à tarde, à moda antiga. Com luz do dia, finalmente.
2 - Não ir a centros comerciais. Por favor!
3 - Passeio na serra da Arrábida. É de aproveitar enquanto não começa a co-incineração.
4 - Noitada no 'Tóquio', no Cais do Sodré, em Lisboa. É pena fechar às quatro...
5 - Petisqueira do Crispim. Boa comida e bom vinho em Fátima. Visita ao santuário exigida apenas aos crentes.

Morte em vida

Direito à morte ou direito a ter um fim de vida digno? A excelente reportagem que a SIC transmitiu ontem à noite relança o debate sobre a eutanásia. Mas também sobre a importância dos cuidados paliativos. Matilde teve um acidente vascular cerebral aos nove anos e ficou em estado vegetativo permanente. E agora? Todos os esforços serão inúteis? Haverá volta para um processo que parece ser apenas de ida? Haverá quem possa decidir o seu futuro? A mãe da criança continua a fazer tudo o que é possível para lhe dar uma vida digna, novos tratamentos, novas terapias. Mas deixa no ar a questão: Se a lei portuguesa permitisse a eutanásia, não saberia que decisão tomar. Só o facto de colocar a hipótese é um acto de coragem sem precedentes. Nunca se saberá o que Matilde pensa do assunto, se quer ou não continuar a viver assim. Mas não faltam outros casos, milhares, em que os pacientes estão na posse de todas as suas faculdades e querem decidir. Querem optar por morrer bem em vez de viver mal. E não o podem fazer. Ainda.

17/01/08

Todos às urnas

Faltam três dias para terminar a sondagem desta semana aqui no blog. E há um nome em destaque para o baptismo da nova ponte sobre o Tejo. Toca a votar!

16/01/08

Falhanço total


O sistema electrónico de votação da Assembleia da República falhou durante a votação da moção de censura ao Governo, interposta pelo Bloco de Esquerda. Qual é a notícia relevante nesta frase? O sistema electrónico de votação da Assembleia da República ter falhado, claro. Não interessa para nada o facto de alguém ter censurado oficialmente o Governo. Pelo menos, foi assim que a SIC se referiu ao assunto no Jornal da Noite de hoje. Só depois deste 'fait divers' entrou a peça sobre o debate da moção de censura, sobre a opinião de cada partido e sobre a posição do Governo. É indiferente quem tenha apresentado a moção, esta não é uma questão partidária. O preocupante é que alguém tenha resolvido dar relevo a este pormenor - que tem importância relativa - e não tenha puxado para o topo da história o facto de as coisas não andarem bem na sociedade portuguesa. Mais preocupante ainda é o facto de esta ter sido uma escolha brilhante de alinhamento televisivo, a de dar importância ao falhanço electrónico. É disso que se vai falar amanhã nos cafés, nos bancos de jardim, nos intervalos para o cigarro. "Então, viste aquela cena ontem no Parlamento? O quê, a moção de censura? Não, pá, falhou o sistema de votos e foi a confusão. Isto 'tá bonito, tá..." E cá vamos andando, cantando e rindo, com os olhos cheios de areia.

Vergonha


O Supremo Tribunal Administrativo aprovou a co-incineração na Secil, em pleno Parque Natural da Serra da Arrábida. Esta decisão vai contra outras tomadas por dois tribunais de instância que tinham suspendido a queima de resíduos perigosos na cimenteira do Outão. A Secil e o Ministério do Ambiente tinham recorrido e agora fez-se a vontade da empresa e do Estado. E a decisão conhecida hoje não tem direito a recurso.

A Serra da Arrábida é património de todos os portugueses. Apesar disso, nela funciona há décadas uma cimenteira que tem esburacado, esventrado e destruído uma paisagem protegida. Queimar resíduos perigosos num Parque Natural é o mesmo que fazer um piquenique numa lixeira. Não faz sentido. As autarquias de Setúbal, Sesimbra e Palmela tentam fazer com que a decisão não seja definitiva, mas as perspectivas não são boas. E quanto aos dirigentes do Parque Natural? Sim, mostram-se preocupados e estão contra a co-incineração, mas não lhes convém falar muito alto. Esta coisa dos cargos políticos é complicada. Por este andar, a vergonha vai mesmo para a frente.

15/01/08

O Drº está atrasado

Se eu tiver uma reunião de trabalho às nove da manhã e chegar uma hora atrasado, estou metido em sarilhos. Se eu tiver de entregar um texto até às 18h e ele chegar ao seu destinatário no dia seguinte, fico mal visto. Se eu comprar um bilhete para um jogo de futebol que começa às 19h45 e chegar ao estádio às 20h30, só vejo a segunda parte. Se eu não tiver nada no frigorífico e estiver cheio de fome às 23h30, chego ao supermercado e bato com o nariz na porta. Se eu for viajar e chegar ao aeroporto uma hora depois do avião partir, estou tramado. Quando eu me atraso mais do que aquilo que é moralmente aceite em Portugal, a famosa janela de 15 minutos, sou castigado. Então por que razão é que quando vou ao médico, com hora marcada na agenda da secretária do Sr. Dr., tenho que esperar mais de uma hora, no mínimo, para ser atendido? É ele que me está a fazer um favor ou sou eu que lhe estou a pagar por um serviço?

Mãos largas


O mais recente filme de Manoel de Oliveira, 'O Enigma', estreou há cinco dias e foi visto por 1400 pessoas. Para terminar mais esta produção, o realizador de 99 anos recebeu um subsídio do Estado português e das empresas Lusomundo e Tóbis no valor de 700 mil euros. Ou seja, até agora, cada um dos espectadores custou 500 euros. Parte desse valor, superior a um salário mínimo nacional, saiu directamente dos bolsos dos contribuintes portugueses. O filme continua em exibição por tempo indeterminado e espera-se que mais pessoas se desloquem a um cinema para tentar compreender o segredo da vida de Cristóvão Colombo: se era alentejano de Cuba ou italiano de Génova. E quantas mais melhor, que é para a ministra da Cultura não se sentir tão mal por continuar a apostar em demasia num valor mais que seguro das artes portuguesas e um dos mais conceituados a nível internacional. Será que Manoel de Oliveira precisa disto? Será que os portugueses precisam disto? É esta a indústria do cinema em Portugal?

14/01/08

Caça ao Japão

A Greenpeace teve uma pequena grande vitória. 'Esperanza', uma das embarcações da organização ambientalista mais famosa do mundo impediu a caça à baleia por parte de uma frota de seis baleeiros japoneses. A acção decorreu nas águas geladas da Antárctica numa área reconhecida pela Comissão Baleeira Internacional como santuário ecológico para estes mamíferos. Carly Thomas, umas das activistas presentes no protesto afirmou que, se necessário, iriam colocar-se em lanchas entre os arpões e as baleias para impedir a captura. O que a Greenpeace não conseguiu foi impedir a captura do equivalente a quatro mil toneladas de carne deste cetáceo, entretanto já capturadas pela frota.
Desde 1986 é proibida a caça com fins comerciais, no entanto, e à luz de um programa científico, o Japão continua autorizado a matar cerca de mil por ano. Só a Noruega permite a captura para comércio, mas nas bancas do mercado de Tsukiji, em Tóquio continua a ser normal ver pedaços deste mamífero à venda. São tradições, como a morte de touros em Barrancos ou a captura de golfinhos nos Açores.




Nova ponte sobre o Tejo

O desafio/sondagem desta semana é sobre a futura ponte sobre o Tejo. A terceira travessia entre Lisboa e a Margem Sul já está no papel, mas ainda não se pensa no nome a dar-lhe. Ficam quatro sugestões aqui no blog para vocês decidirem. Têm uma semana para pensar. Mas com calma, afinal esta é uma questão de interesse nacional.

Belo exemplo

A Ordem dos Farmacêuticos não concorda com a decisão de abrir farmácias de venda ao público nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde. E vai pedir a verificação da constitucionalidade desta medida ao Provedor de Justiça. A notícia vem no DIÁRIO DE NOTÍCIAS de hoje e mostra que a Ordem está preocupada porque este decreto-lei só deveria ser decidido pela Assembleia da República e não por iniciativa do ministro da Saúde, Correia de Campos. Em Novembro passado, a mesma Ordem dos Farmacêuticos também já se tinha mostrado incomodada com estas novas farmácias, tendo enviado para a Autoridade da Concorrência um pedido de parecer sobre uma possível violação da livre concorrência. Ou seja, a Ordem dos Farmacêuticos está preocupada com os 69 milhões de euros anuais correspondentes à facturação dos principais hospitais portugueses (Santa Maria, São João, Leiria, Viseu, Faro e Centro Hospitalar de Coimbra). Os farmacêuticos não estão interessados em saber se esta decisão é melhor ou não para os pacientes dos hospitais, aqueles que passam horas à espera de passar na triagem ou de ser vistos pelos médicos. Nem mostram preocupação pelo facto de os doentes, após as atribuladas consultas nos hospitais públicos, terem de correr a cidade à procura de uma farmácia aberta. Isso não. O que interessa é que o negócio se mantenha sempre no seio da corporação.

13/01/08

Empate técnico

'Amor de Perdição' e 'Sim, Srº Ministro'. São estes os títulos escolhidos para o que se passou em Portugal durante o ano de 2007. Foram as duas opções mais votadas na sondagem que decorreu durante a última semana aqui no blog. Um empate técnico que pode querer dizer muita coisa. É fácil, de facto, ver Portugal como um grave caso de Amor de Perdição. Às vezes, no mais longínquo bar do mundo, no mais improvável dos locais, ouve-se uma palavra ou um som em português que nos faz sentir o tão badalado frio na espinha. E não percebemos porquê. Mas é bom. E com o que se passou por cá no ano passado, a escolha´'Sim Srº Ministro' não poderia ser melhor. No mesmo país que aprendemos todos os dias a amar, continua a vingar a lei da subserviência, de dizer que sim a tudo, de não pedir livro de reclamações, de não questionar a autoridade 'deles', aquela entidade etérea em quem descarregamos todas as culpas, frustrações e medos. Em vez disso, poderíamos passar a confrontá-los, a querer saber os porquês das suas decisões e a exigir a mudança. De gente, de estilo, de atitude. Mas ainda não o fazemos de forma tão assídua como seria desejável. Talvez em 2008 as coisas mudem. Ou não.