À entrada da Mesquita Azul, em Istambul, Turquia, existem peças de roupa em plástico para quem não foi preparado para uma visita a um local de culto islâmico. Eu estava de calções, tive cobrir as pernas. As minhas companheiras daquele Interail em 2002 cobriram a cabeça, os ombros e as pernas.
Há mais de 20 anos, uma tia minha, brasileira, veio a Portugal e quis ir a Fátima. Poderia ter ido antes à Arrábida ou a Sintra - locais que também acabaria por visitar - mas quis ir ao Santuário da Cova da Iria. Passou pela Póvoa de Santa Iria, mas não era a mesma coisa. Fazia calor e a tia Rosinha ia de blusa de alças. Pediram-lhe - obrigaram-na - a vestir mais qualquer coisa porque não estava decente.
Há quase dois anos, no Japão, ofereceram-me uma casa para ficar alguns dias. A condição era descalçar-me sempre à entrada. Ok, isso não é um problema. E adaptei-me facilmente ao costume. Aliás, até gostaria de o implementar por cá, parece-me saudável e higiénico.
Por razões culturais ou religiosas, sempre que mudamos de país, temos algumas regras a cumprir, são formas de agradar aos nossos anfitriões, de respeitá-los e de tentarmos aderir ao seu modo de vida. Isso torna-se ainda mais gritante quando mudamos de país por um largo período, como acontece com quem emigra.
Os emigrantes não devem deitar para trás das suas costas as suas tradições e a o seu modo de vida, mas devem adaptar-se ao novo país e aos seus costumes. No país em que eu vivo - Republicano e Laico, lembram-se? - ninguém é obrigado a andar de Bíblia ou Corão na mão, ninguém é obrigado a andar de cabeça ou ombros cobertos. É uma opção.
Coisa diferente é a burka, essa indumentária sinistra que tira a personalidade às mulheres obrigadas a utilizá-la. No país em que eu vivo, se uma funcionária pública me atender na Repartição de Finanças com uma burka que só deixa ver os olhos, eu irei pedir o Livro de Reclamações. No país em que eu vivo, se uma funcionária pública da Repartição de Finanças me atender e atrás dela estiver um crucifixo pendurado na parede desse edifício do Estado, eu irei pedir o Livro de Reclamações.
O país em que eu vivo é Laico.