Atropelamentos, morte, camiões incendiados, ameaças, apedrejamento, coacção, filas nas bombas de gasolina, aviões sem combustível, greves. Nos últimos dias temos assistido a alguns dos momentos mais tristes da democracia portuguesa. A luta pelas melhores condições dos camionistas e das empresas de transporte de mercadorias tem aberto noticiários e feito capas de jornais. Num país que se diz democrático, todas as vozes, todas as opiniões têm que ser ouvidas e respeitadas. Não é o que se passa.
Na luta pelos seus objectivos, os elementos dos piquetes de greve dos camionistas têm dado maus exemplos de civismo. Qualquer que seja a causa, nada justifica que não se possa ter uma opinião contrária. É o que se tem passado. Os piquetes de camionistas interpelam os seus colegas de trabalho e aconselham-nos a encostar à berma. Não pela causa que defendem, mas porque talvez seja melhor fazerem isso, não vá o camião cair numa valeta ou ser apedrejado. Mas o que é isto? Onde é que vivemos?
As greves são necessárias, são uma forma de mostrar discordância em relação à situação laboral, mas doa a quem doer, só faz greve quem quer. Ninguém é obrigado a fazê-lo. Aos poucos, a greve vai acabar, os camiões vão voltar a circular e a situação irá voltar à normalidade. Depois dos camionistas serão os agricultores a protestar, depois os taxistas, os profissionais liberais, os particulares. Todos. Mas ficarão estes exemplos de sectarismo, corporativismo exacerbado a fazer lembrar os tempos dos caciques. Há pessoas que ainda não sabem o que é a democracia. E já passaram 34 anos...