Porquê? Why?

Há histórias que têm que ser contadas.
Há exemplos que têm que ser seguidos.
Há personagens que têm que ser desvendadas.
E nós merecemos um jornalismo diferente que nos mostre que ainda vale a pena.



25/11/10

Malta que não interessa a ninguém

Os jornalistas são, provavelmente, os seres menos solidários que existem no panorama laboral português. Vou excluir deste universo os juízes, políticos e advogados porque estou apenas a falar da população activa.

Como dizia, se há classe profissional que se está a marimbar para os colegas, é a dos jornalistas. E deste ramo, onde me incluo, fazem parte redactores e fotógrafos, os 'canetas' e os 'bate-chapas'.

Dois exemplos:

- Se um redactor escreve uma peça do caraças, com uma investigação árdua, um tema pungente e uma retórica cativante, só vai receber dois tipos de elogios - os genuínos (dos seus verdadeiros amigos pessoais que também são jornalistas) e os de circunstância (de jornalistas que se dizem seus amigos, mas só escrevem ou fotografam para o umbigo e criticam tudo o que lhes possa fazer sombra).

- Na semana passada fui a um lançamento de um livro que tinha também uma exposição de fotografia, óptima, diga-se de passagem. As fotos são de um foto-jornalista português. Sabem quantos fotógrafos estavam lá presentes? Vi apenas um para lá dos que foram cobrir o lançamento do livro. 

Redactores e fotógrafos têm, de modo geral, os egos demasiado inchados. 
Julgam que, por aparecerem nas páginas de jornais e revistas, ecrãs de televisão ou através da rádio, estão acima de qualquer crítica. Pensam que os elogios para os trabalhos dos outros são uma demonstração de fraqueza e das suas próprias limitações.

Enganam-se.
Elogiar o trabalho de um colega, quer se conheça ou não pessoalmente, é um acto de solidariedade. Tal como é o de criticar negativamente uma peça ou uma imagem. Isto se a crítica for baseada em factos e não apenas na dor de cotovelo, no umbigo ou à luz do grupinho de iluminados de que se faz parte. 

Deixo um conselho aos meus amigos jornalistas: diversifiquem o âmbito das vossas amizades. Fica mais fácil manter contacto com o mundo real.

23/11/10

Foi bom, não foi?

Vi em rodapé televisivo, ouvi na rádio, li no jornal, procurei na Internet e pensei: "Será que é mesmo verdade?" A questão fazia todo o sentido. Pelo menos, para mim.

Por um lado queria acreditar que, finalmente, um líder espiritual dos católicos tinha dito alguma coisa acertada em relação ao preservativo e ao seu uso. Afinal, já passaram mais de 3000 anos (exacto, três mil) desde que os egípcios começaram a usar algo semelhante ao preservativo na protecção contra as doenças sexualmente transmissíveis. Depois das tripas de animais, das faixas de tecido ou das protecções de couro, o preservativo em látex, tal como o conhecemos, surgiu. Já foi na década de 1950, mas mesmo assim não havia meio de um Papa assumir a sua importância na luta contra doenças terríveis. Seja ela a sífilis ou aquela outra que todos os anos ajuda a matar milhões - e infecta muitos mais - em todo o Mundo. Como é que aquilo se chama mesmo?...

Sida. É isso.

Pois... Tentei informar-me melhor sobre as declarações revolucionárias de Bento XVI. Então, mas o homem nunca disse uma palavra acertada sobre o assunto e agora, de repente, o preservativo já é uma coisa mais ou menos boa? Hummm... cheirou-me a esturro. E não é que estava certo?

Já hoje, um porta-voz do Vaticano veio explicar melhor a coisa. Veio quase que assustado, depois de ver tantas boas reacções às palavras progressistas e inteligentes da sua -dele- Santidade.
E rectificou.

Afinal, o Papa não quis dizer que o preservativo deve ser usado a torto e a direito (não resisti...).
Só pode ser utilizado em casos excepcionais e como medida de protecção, podendo reduzir o risco de infecção. Deu, Bento XVI, o exemplo dos "prostitutos". Não o dos trabalhadores da prostituição em geral, só eles. Quanto a elas, não foram especificadas medidas de protecção.

E fiquei também a saber que, no livro de onde teriam sido sacadas as progressistas e inteligentes afirmações de Bento XVI - Luz de Deus: O Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos, está também escrito: "Os preservativos não são a melhor forma de lutar contra o mal da sida".

Em Julho de 1920, quando Joseph e Maria Ratzinger, futuros pais do petiz Joseph, se conheceram (dizem as más-línguas, através de um anúncio de jornal), não sabiam ainda que o preservativo poderia ter outra função além de salvar vidas: evitá-las.