Porquê? Why?

Há histórias que têm que ser contadas.
Há exemplos que têm que ser seguidos.
Há personagens que têm que ser desvendadas.
E nós merecemos um jornalismo diferente que nos mostre que ainda vale a pena.



11/09/09

Carlinhos Teotónio Pereira


Dona Adélia... acha que dá para ligar a televisão?
Ó meninos, vocês sabem que a televisão está sempre desligada à hora de almoço.
Mas é que um avião foi contra um prédio em Nova Iorque, telefonou-me um amigo a dizer.
A sério?
Sim, queríamos ver.
Tá bem, pronto, mas não se habituem.

Quase todos os dias íamos ali almoçar. Em grupo, a dois ou a três, era o nosso poiso. A comida não variava muito, mas o Beiradouro era a nossa cantina. Naquele dia, estava eu e o Carlinhos. Eu comi carne à portuguesa, ele não me lembro.
A Dona Adélia ligou a televisão e estava a dar a imagem de uma das torres do World Trade Center a deitar fumo na metade superior.

Bem... que cena!
Ai meninos, que desgraça.
Olha, olha... estão a dar repetição. Xiii...

Não era a repetição, era o segundo avião. Em directo.
O telefone não parava de tocar, a carne à portuguesa ficou fria e já nem houve tempo para a mousse de manga feita pela Armanda, a filha da Dona Adélia que nos impunha respeito.

Ouve, esta cena é única, estamos a viver uma coisa histórica.
Pois estamos. Temos que fazer alguma coisa.
Bora para Nova Iorque?
Quando? Hoje?
Sim, ou amanhã, quando der. Eu meto férias e tudo.
Bora.

Depois de muita discussão, o Carlinhos acabou por ir. Não me deixaram meter férias e ir para lá em reportagem, mas foi ele. E ainda bem que foi assim.

Oito anos depois, continuo a sentir saudades daquele 11 de Setembro.

08/09/09

Salvem O Terraço

Leio no Público a notícia de que O Terraço, no topo do edifício do Mercado do Chão do Loureiro, pode ter os dias contados. A EMEL quer lá construir um silo automóvel com área para 204 lugares de estacionamento. Onde está O Terraço pode passar a existir um restaurante de luxo.

Estas coisas chateiam-me. É provavelmente a melhor esplanada de Lisboa, com uma vista magnífica e condições excepcionais. Para quê estragar o que está bem?

Está criado um Grupo no Facebook para alertar consciências e discutir esta decisão.




07/09/09

Vai buscar!

A prova, cortesia da Soph


Estávamos no balcão do pavilhão das Caldas da Rainha. Tínhamos acabado de nos apoderar de um banco corrido para três pessoas. Bebíamos cerveja, comíamos pistachos e sopa de peixe com camarão. Os Ciganos D'Ouro tocavam no palco principal da Festa do Avante.

O Zé, que não gosta muito de futebol e percebe ainda menos - conhece um clube que se chama Aston Villa, torce pelo Vitória e tem resquícios de betice pelo Sporting - tem um telemóvel fora do normal. Foi fabricado em Portugal e possui uma antena como a dos transístores antigos que permite receber a emissão dos quatro canais portugueses.

Foi a nossa salvação, já que não existiam televisões à vista para assistir ao jogo. E lá nos sentámos com o telemóvel na horizontal, apoiado numa pilha de copos de cerveja que não parava de crescer, Vimos a primeira parte naquele ecrã de seis centímetros por quatro, mais coisa menos coisa. Quem passava por ali, estranhava, fazia comentários sobre o telefone e perguntava o resultado.

Os funcionários do pavilhão das Caldas queriam saber mais, metiam conversa, faziam piadas, criticavam os brasileiros e o treinador. Queriam que os avisássemos quando fosse golo. E avisámos, mas tinha sido da Dinamarca. Era o meu sinal, levantei-me e fui à casa-de-banho arranjar espaço para mais cerveja.

Segunda parte, a mesma coisa. Aquilo já irritava. Sem sol, via-se melhor o ecrã, mas nada de golos. Os de branco atacavam, os de vermelho defendiam. "Isto só lá vai com uma pinga que tenho aqui para vocês", alertou o camarada de barba grisalha do outro lado do balcão. Serviu meia dúzia de copos com vinho branco regional e foi golo. Menos de um minuto depois, foi golo. Ó homem, você já podia ter oferecido isto antes. Abra mas é mais outra para a gente ganhar isto.

No seguimento de um canto, a bola foi à cabeça de um jogador de branco e entrou na baliza dos "maus". Os festejos foram efusivos, ainda havia tempo para dar a volta. Quem é que marcou? Quem é que marcou? Eh pá, não se vê muito bem, o ecrã é pequeno. Parece o Bosingwa. Não, não, é o Liedson. Silêncio.

Era um golo importante, tão importante como o do Pepe no primeiro jogo que fez pela selecção portuguesa. Menos importante que o do Deco, no seu primeiro jogo como português, contra o Brasil, num particular. Acreditem que não é xenofobia, racismo ou qualquer outra estupidez do género, mas fica sempre uma coisinha estranha na alma com estes golos dos portugueses nascidos no Brasil. É como se tirasse um pouco do mérito, da justiça, da credibilidade, da honestidade.

Tás louco? Isto é o futebol português, nada disso existe.

Gooooooloooooo!!!!