Dona Adélia... acha que dá para ligar a televisão?
Ó meninos, vocês sabem que a televisão está sempre desligada à hora de almoço.
Mas é que um avião foi contra um prédio em Nova Iorque, telefonou-me um amigo a dizer.
A sério?
Sim, queríamos ver.
Tá bem, pronto, mas não se habituem.
Quase todos os dias íamos ali almoçar. Em grupo, a dois ou a três, era o nosso poiso. A comida não variava muito, mas o Beiradouro era a nossa cantina. Naquele dia, estava eu e o Carlinhos. Eu comi carne à portuguesa, ele não me lembro.
A Dona Adélia ligou a televisão e estava a dar a imagem de uma das torres do World Trade Center a deitar fumo na metade superior.
Bem... que cena!
Ai meninos, que desgraça.
Olha, olha... estão a dar repetição. Xiii...
Não era a repetição, era o segundo avião. Em directo.
O telefone não parava de tocar, a carne à portuguesa ficou fria e já nem houve tempo para a mousse de manga feita pela Armanda, a filha da Dona Adélia que nos impunha respeito.
Ouve, esta cena é única, estamos a viver uma coisa histórica.
Pois estamos. Temos que fazer alguma coisa.
Bora para Nova Iorque?
Quando? Hoje?
Sim, ou amanhã, quando der. Eu meto férias e tudo.
Bora.
Depois de muita discussão, o Carlinhos acabou por ir. Não me deixaram meter férias e ir para lá em reportagem, mas foi ele. E ainda bem que foi assim.
Oito anos depois, continuo a sentir saudades daquele 11 de Setembro.
5 comentários:
Não era suposto apetecer-me chorar a ler este post, mas pronto...
Lembro-me bem desse 11 de Setembro. A tarde em frente ao ecrã de tv da redacção foi mítica. Houve silêncio quando assistimos em directo à queda da 1ª torre. Sem reacção e quase sem pinga de sangue...
Obrigada por partilhares!!!
Lembro-me perfeitamente que estava no Campera à espera que uma Pizza ficasse pronta. Não havia televisões por lá, mas ligaram-me assim que bateu o 1º avião, pouco depois ligaram-me a dizer que havia mais um. Viemos a voar até Lrs. Aquelas imagens são difíceis de esquecer...
Amigo Ricardo, sempre um prazer ler a tua prosa.
Naquele dia estava a almoçar com o meu Pai (peixe assado, no Retiro da Algodeia, creio) quando me telefonou a Marta Coelho a dizer que dois aviões se tinham despedaçado contra as torres gémeas. Vim a casa e liguei a televisão.Foi aí que percebi a verdadeira escala dos acontecimentos. Por acaso pensei logo que podia ter sido obra de Usama Bin Laden (este já o conhecia de artigos de revistas e reportagens televisivas- termos como "al qaeda", "taliban" ou "madrassa" ainda me eram totalmente desconhecido).
Recordo-me de um dia de ansiedade e de avidez por informação, de incerteza face ao que estaria para vir...
Grande abraço
Gosto das vossas recordações desse dia. Muito obrigado.
Nesse dia só me apetecia televisão...
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