Porquê? Why?

Há histórias que têm que ser contadas.
Há exemplos que têm que ser seguidos.
Há personagens que têm que ser desvendadas.
E nós merecemos um jornalismo diferente que nos mostre que ainda vale a pena.



08/01/10

Cale-se para sempre

Quarto de hotel em Thorshavn, Ilhas Faroé


Nas últimas Legislativas, foram eleitos os representantes dos portugueses na Assembleia da República.

Dos programas que foram a votos, partidos houve que fizeram referência ao desejo de aprovar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Dos mesmos programas faziam parte outras questões fracturantes nas áreas da Educação, da Economia ou da Segurança Social. Bastava lê-los com atenção para saber o que cada um dos partidos (PS, PSD, CDS-PP, BE e PCP) tinha em mente para esta legislatura.

Hoje, o casamento homossexual está em debate no Parlamento. Como é sempre bom em democracia, há vozes contra e vozes a favor. Entre aqueles que não concordam com a união de papel passado entre pessoas do mesmo sexo, existem os que querem referendar o direito de os homossexuais casarem. Querem ouvir os portugueses sobre este assunto.

Os portugueses já foram ouvidos. Aconteceu nas Legislativas. Deram a maior parte dos votos aos partidos que aprovam o casamento entre pessoas do mesmo sexo. A decisão passa agora pelos nossos representantes na Assembleia da República. Convém que, de vez em quando, eles também façam alguma coisa e não se demitam das suas funções. Na teoria, foi para isso que foram eleitos.

06/01/10

Bonito serviço

Chapada dos Veadeiros, Brasil

Ironia.

Diz o dicionário da Porto Editora que se trata de uma "forma de humor que consiste em dizer o contrário daquilo que se pretende dar a entender". A mesma fonte fala de uma "figura de estilo que veicula um significado contrário daquele que deriva da interpretação literal do enunciado". Caracteriza-a também como "sarcasmo" ou "zombaria".

Abuso frequentemente do uso desta forma de comunicação. Faz parte do pacote, vem de série. Não é um extra que pode ou não ser adquirido quando se compra o produto.

Muitas vezes isso é um problema. Ou melhor, durante a fase de adaptação, a coisa aguenta-se, até se acha alguma graça. Mas com o uso repetido, a ironia cansa. Torna-se difícil de identificar.

Frequentemente, aquilo que parece não é. E vice-versa. A ironia pode arrancar muitos sorrisos, mas também pode não o fazer. Quando assim é, transforma-se numa arma contra o atirador. E pior do que atirar ao lado, só mesmo o cartucho rebentar na cara. A pólvora leva tempo a sair. Entranha-se.


Coração de papel

Aeroporto para OVNIs, Alto Paraíso, Brasil


Pelo segundo dia consecutivo, o jornal francês Le Monde não chegou às bancas.
O motivo é a greve dos funcionários da publicação ligados à impressão. Reivindicam, como é quase sempre o caso em situações de greve, melhores condições profissionais.
A direcção do jornal disponibiliza gratuitamente toda a edição na sua versão online.

Os amantes da edição impressa, grupo em que me incluo, ficam a perder, mas a grande fatia de leitores que recorrem à Internet não sentem sequer a diferença. O futuro tem destas coisas, está a relativizar o impacto do papel.

Chegará o dia em que vai ser um bem de luxo. Não só pela escassez da matéria-prima e pela preservação das árvores, mas também pelas exigências de uma cidade evoluída tecnologicamente. Têm dúvidas? Também os E-books se vendem cada vez mais.

Gosto de ficar com as pontas dos dedos sujas quando folheio um jornal e recortar notícias que me interessam.
Dá-me gozo dobrar as páginas dos livros, fazer apontamentos e sublinhar frases que considero importantes.

De jornais e livros em formato digital não consigo tirar o mesmo gozo, mas há uns anos também não gostava de inventar textos sem ser com caneta e papel e hoje não me vejo a fazê-lo de outra forma que não através de um computador.

05/01/10

200 mil

Essaouira, Marrocos, Junho de 2008

Onze anos e três meses passam num instante.
Levam mil metros a recordar.

Tirando a família e três amigos, esta é a minha relação mais estável e duradoura de sempre. A explicação é simples: a outra parte não se cansa de mim, não me deixa ficar mal e não espera que eu seja algo que nunca fui. Em contrapartida, eu pouco exijo, não lhe critico os defeitos e não quero que seja algo que nunca foi.

Começámos em Setembro de 1998. Estava calor. Fui apanhado de surpresa pela forma como tudo foi tão rápido. Adaptámo-nos como almas gémeas. Assim é quando a paixão manda mais que o amor. Isto depois passa, lembro-me de ter pensado. Mas não. Não passou. Mesmo onze anos e três meses depois, continuo a gostar de cada marca, de cada momento, de cada recordação. Os momentos maus foram poucos, muito poucos, daqueles que nem chegam para contar.

Fomos a Marrocos sem mapa na mão e sem nunca lá termos ido antes. Percorremos a Europa à descoberta e conhecemos Portugal como ninguém. A areia da praia e a terra do campo serviram-nos para irmos mais longe, para nos conhecermos melhor. Mesmo quando entrámos por caminhos sem saída, soubemos dar a volta por cima. Assim se faz uma relação, não é?

Na noite do Dia de Natal, passei mil metros a recordar o que fizemos e onde fomos, como lá chegámos e o que somos. Fizemos 200 mil quilómetros juntos. Não me deixaste ficar mal. E espero que nunca o tenha feito.

Venham mais 200 mil quilómetros, onze anos e três meses.