Um grito
Outubro de 2002. Quase 60 anos depois, o local está invadido por um silêncio que envergonha. Como foi possível? Percorrem-se os caminhos de gravilha que cortam a direito entre zonas tristes de relva. Cada bloco de edifícios, cada gradeamento, cada degrau das escadas grita de revolta. De dor, de angústia, de morte.
Outubro de 2002. Quase 60 anos depois, o local está invadido por um silêncio que envergonha. Como foi possível? Percorrem-se os caminhos de gravilha que cortam a direito entre zonas tristes de relva. Cada bloco de edifícios, cada gradeamento, cada degrau das escadas grita de revolta. De dor, de angústia, de morte.
Pequenos grupos de pessoas caminham lentamente e sem ruído. A cada passada, o arrastar das pedras, num cuidadoso ritual de não querer acordar os mortos. Dois velhos ficam imóveis em frente ao muro cinzento marcado pelos orifícios das balas. Falam entre eles, sempre baixinho. Os filhos e netos aproximam-se, colocam-lhes os braços por cima, abraçam-nos. Abraçam-se.
É a primeira vez que cá voltam desde o dia em que foram libertados. Escaparam com vida a um local onde milhões não tiveram essa sorte. Mostram os números tatuados no braço, só falam polaco, mas isso pouco interessa. O que têm para transmitir não precisa de tradução.
Sobreviveram a Auschwitz e voltaram para mostrar à família o local onde passaram os piores dias das suas vidas.
Sobreviveram a Auschwitz e voltaram para mostrar à família o local onde passaram os piores dias das suas vidas.
Os velhos percorrem todos os corredores, querem ver tudo o que o agora museu tem para mostrar. As salas onde se amontoam toneladas de cabelo, de dentes, de próteses daqueles para quem a vida não foi justa e que pagaram pela intolerância e violência maquiavélica de um regime.
Choram, nunca deixam de chorar durante as horas que ali passam.
E eu sinto vergonha. A vergonha alheia. Peço-lhes desculpa sem ter tido qualquer tipo de responsabilidade. Peço-lhes desculpa em nome do que poderia ter sido feito para evitar a tragédia. E agradeço-lhes a lição de vida que me acabam de dar. Há momentos que não se esquecem
E eu sinto vergonha. A vergonha alheia. Peço-lhes desculpa sem ter tido qualquer tipo de responsabilidade. Peço-lhes desculpa em nome do que poderia ter sido feito para evitar a tragédia. E agradeço-lhes a lição de vida que me acabam de dar. Há momentos que não se esquecem
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