Demetris Christofias será o próximo presidente do Chipre. O político comunista venceu a segunda volta das eleições presidenciais com 53,63% de votos, contra 46,6% do conservador, Ioannis Kasoulides. Na Europa a 27, Chipre passa a ser o único país com um chefe de Estado comunista. A parte norte da ilha está ocupada desde 1974 pela Turquia e a situação não agrada nem à União Europeia, nem à população. Christofias defende o fim da divisão da ilha que tem ganho notoriedade com o turismo e com a entrada na UE. Quase 20 anos depois do início da queda do Bloco de Leste, um comunista volta ao poder. Reflexo ou não de uma mudança de mentalidades, o PC cipriota manteve os ideais, mas mudou o discurso e as figuras-chave do aparelho partidário. Substituiu o velho pelo novo e apontou às novas gerações. Moldou-se à democracia, atirou os velhos fantasmas ortodoxos para trás das costas e adaptou-se à realidade do século XXI. Não só sobreviveu, como ganhou.
Em Portugal, pelo contrário, as mudanças no Partido Comunista levam bastante mais tempo. Apesar de Jerónimo de Sousa ter catapultado o PCP para bons resultados nas eleições, invertendo uma tendência de perda de eleitores e deputados, os rostos continuam a ser os mesmos. Mesmo as caras mais novas, como Bernardino Soares, continuam na senda cinzenta e ultrapassada de um partido e de um discurso envelhecidos. Os que ousam pensar e querer um PC diferente têm de o fazer fora de portas, sob o risco de ostracização, como foram os casos de João Amaral ou Barros Moura. Apesar de adaptado à realidade democrática, o PCP continua demasiado agarrado à imagem do passado. A Revolução foi há quase 34 anos, o fim da União Soviética há quase 20. Se os comunistas portugueses se quiserem assumir como alternativa de poder têm de se transformar, de rejuvenescer, de transformar a cassete em CD e puxar por caras novas, por ideias deste século, por discursos bem elaborados, por um relacionamento moderno com a comunicação social. Se não ousarem arriscar, serão o mesmo partido de sempre, com as mesmas paredes de vidro de sempre, lutando pelo terceiro ou quarto lugar até ao dia em que os portugueses se fartem e lhes reservem um papel de figurante na realidade bipartidária.