Porquê? Why?

Há histórias que têm que ser contadas.
Há exemplos que têm que ser seguidos.
Há personagens que têm que ser desvendadas.
E nós merecemos um jornalismo diferente que nos mostre que ainda vale a pena.



19/08/09

Sporting 2, Fiorentina 2

Curaçao. Antilhas Holandesas


O terreno atrás de casa da minha avó era um descampado. Hoje é um parque de estacionamento. De manhã, antes de nos chamarem para o almoço, havia sempre jogo de futebol nos longos dias das férias grandes. E ao final da tarde, a mesma coisa. À noite, de vez em quando, havia fogueira para saltar. E estávamos no meio da cidade.

Aldinho, Pilinhas, Joe e eu. Ou melhor, Maradona, Littbarski, Zico e Valdano, uma equipa de luxo. Eram os nossos ídolos. O momento alto era jogarmos contra os miúdos mais velhos, os dos Edifícios Montalvão. Eram mais altos, mais fortes e ganhavam-nos sempre. Quatro contra quatro, balizas pequenas, muda os cinco, acaba os dez. As regras eram simples.

Todos nós éramos mais pequenos que eles, mais fracos, jogávamos pior. Mas esforçávamo-nos. A cada encosto mais forte, a cada entrada mais dura, gritávamos "Falta!". Mas o jogo não parava, só se a coisa fosse realmente grave. A nossa equipa era a dona da bola, tínhamos apenas essa vantagem. Era mesmo a única.

Por mais que jogássemos, por mais sorte que tivéssemos, o melhor que conseguíamos era empatar. Num desses momentos, o Zico - Joe, filho de emigrantes no Canadá e donos da oficina do bairro - apanhou a bola a uns bons dez metros da baliza e acertou-lhe em cheio, daquela forma que só quem já jogou na rua sabe como é. Ficou nove a nove, o golo decisivo ficou por marcar porque a minha avó me chamou para o almoço.

Ontem à noite, a convite de um amigo, fui ver o rival Sporting jogar com a Fiorentina. E voltei a sentir tudo isto. Vi uma equipa de miúdos cheios de vontade de fazer alguma coisa, mas os outros eram todos mais altos, mais esclarecidos, mais velhos, mais matreiros. Os miúdos deram a volta ao resultado, mas deixaram-se empatar e saíram de campo satisfeitos com isso.

Só não vi a avó de nenhum deles o chamar para o almoço.

Sem comentários: