Porquê? Why?

Há histórias que têm que ser contadas.
Há exemplos que têm que ser seguidos.
Há personagens que têm que ser desvendadas.
E nós merecemos um jornalismo diferente que nos mostre que ainda vale a pena.



24/09/12

Até já... noutro sítio

O 'Jornalismo Positivo' chega hoje, oficialmente, ao fim.

Nos últimos tempos, o positivismo não tem sido fácil de encontrar, seja no jornalismo ou onde quer que seja. Isso não invalida que continue a preferir o sim, o sol e o sorriso ao não, à escuridão das mentes e ao cinzentismo das caras fechadas. E não invalida que continue a lutar pelas boas notícias e pelo otimismo.

Em breve estarei de volta com outro projeto e noutro registo.
Obrigado a todos os que por aqui passaram.

Até já.

09/03/12

Crónica de fevereiro na Volta ao Mundo

No Nada a Declarar de Fevereiro, na revista Volta ao Mundo, resolvemos dedicar as crónicas à Sedução em Viagem. Eis o que me saiu da cartola. Espero que gostem.

Deixe a sua mensagem após o sinal

Maria não tinha um nome tipicamente inglês, mas era-o. Não se vestia com pouca roupa quando saía à noite, como o faziam muitas das suas compatriotas nas ruas, bares e clubes de Manchester. Dançava num bar quase vazio com o irmão ao balcão a virar ‘pints’ a ritmo considerável. ‘Connected’, dos Stereo MC’s era a banda sonora quando se iniciou o ritual de aproximação. A letra ajudava. O ritmo ainda mais. Ao fim da noite, rascunhou no bloco de apontamentos um número de telefone. “Call me”. E saiu três músicas depois.
Justin Timberlake não assistiu a nada disto, refém que estava no bar do hotel no centro da cidade. À volta do prédio ainda eram algumas as fãs que esperavam por um autógrafo ou uma fotografia ao lado do cantor norte-americano. Tínhamo-lo encontrado poucas horas antes, quando partilhávamos um elevador e nos questionávamos sobre qual de nós teria guardado o recibo do táxi. Ele, cabisbaixo, quase que a esconder-se, subia para o quarto na companhia de um segurança e de uma loira. Provavelmente sua assistente. Ou não.
Na noite seguinte bebemos um copo ou dois no bar do hotel para contemplar o ambiente criado pela entourage do ídolo pop. Divertido quanto baste, com Justin sempre rodeado de gente. Sair à noite em Manchester, para a estrela da música, seria impossível. A menos que reservasse um bar só para ele e para os amigos. Para nós, foi fácil. Bastou transpor a porta e procurar uma alternativa agradável, um bar cujo nome já desapareceu da memória. Era numa cave. Com uma pista de dança onde Maria tinha dançado há 24 horas, antes do convidativo “Call me”.
Nunca consegui fazer a chamada.
Maldito roaming, malditos indicativos internacionais. Marquei um ‘zero’ a mais antes do número rascunhado no bloco de apontamentos.


03/02/12

Crónica de Janeiro na Volta ao Mundo

Desde o início do ano, tenho o prazer de partilhar com a escritora Raquel Ochoa e o jornalista Ricardo J. Rodrigues, uma dupla página de crónicas na revista para viajar mais lida em Portugal, a Volta ao Mundo.
Nada a Declarar foi o nome escolhido para esta secção onde contamos histórias, percalços e imprevistos das nossas viagens um pouco por toda a parte. Todos os meses escolhemos um tema comum e começámos por "Como os portugueses são vistos lá fora". Espero que gostem.


                                          Ilhas Galápagos, Equador

Barquinho de Babel

Éramos doze. Num barco.
Quatro cabinas para oito passageiros e uma camarata para três tripulantes e um guia. À volta, a terra não se avistava. Só a noite escura e o mar negro das ilhas Galápagos.
E um motor que não funcionava.
Seria perto da uma da manhã. O barco estava à deriva.
Uma japonesa, uma inglesa, dois suíços, um par de holandeses e uma dupla de portugueses. Quatro equatorianos completavam o plantel. Um deles estava na água, emergindo e submergindo, com máscara, tubo e uma chave de fendas. Ia por tentativas, procurava a peça certa para desapertar.
El Comandante, o líder da embarcação, dava instruções. «Está tudo bem», dizia Freddie, o guia. «Podem dormir descansados, em pouco tempo estará a funcionar.» E o barco à deriva.
A japonesa não falava espanhol. Inglês pouco e francês nem pensar. A inglesa não se aventurava mais do que para dizer «No tengo mas hambre» quando o estômago se enrolava nas voltas da ondulação. Os suíços falavam francês entre eles e inglês com os restantes. Os holandeses tinham, como seria de esperar, a mesma perfeição no inglês e no idioma próprio. Em português sabiam dizer «pão de queijo». Tinham chegado do Brasil... Nós, os portugueses, estávamos à vontade em todas as línguas do barco. Mesmo no japonês arriscávamos a comunicação, à base de Arigatos, Sayonaras e Pizzicato Five. Em holandês era mais complicado, mas Cruyff, Van Basten e Ruud Gullit quebraram o gelo.
«Diz-lhes que está tudo bem», dizia-me Freddie, que dava os primeiros passos no inglês. Já lhe fazíamos as traduções simultâneas sempre que precisava explicar a história das ilhas, as espécies endémicas, as precauções a ter naquele santuário da natureza. Nos briefings diários, era a nós que perguntava como se dizia isto ou aquilo, em francês ou inglês.
Cumpríamos o nosso legado histórico de intermediários culturais. Era connosco que, em espanhol, partilhava as histórias sem censuras linguísticas ou temáticas. Éramos já dois deles. Suficientemente cúmplices para perceber que não estava tudo bem, que estávamos à deriva, a afastar-nos da rota. Até que o motor voltou a funcionar.
«Éberything ólright!», exclamou Freddie com um sorriso enquanto nos piscava o olho.