Porquê? Why?

Há histórias que têm que ser contadas.
Há exemplos que têm que ser seguidos.
Há personagens que têm que ser desvendadas.
E nós merecemos um jornalismo diferente que nos mostre que ainda vale a pena.



12/08/08

George W.C. Bush


"A Rússia invadiu um Estado autónomo e vizinho que é liderado por um Governo democrático eleito pelo seu povo. Uma acções destas é inaceitável em pleno século XXI”. Foram estas as palavras utilizadas por George W. Bush para reagir ao conflito entre a Geórgia e a Rússia. Para o presidente norte-americano, esta é uma situação "inaceitável" e que poderá "degradar as relações" entre EUA e Rússia.


O que se passa na Geórgia é, de facto, inaceitável. Os dirigentes e altas patentes militares russas andavam 'mortinhos' por dar uso ao arsenal. Foi a Geórgia, mas poderia ter sido um qualquer dos outros vizinhos com menos poder militar e mediático. A demonstração de força é típica das grandes potências, mas ser George W. Bush ou qualquer outro presidente norte-americano a dar lições de moral é ainda mais estranho.


Nos últimos 50 anos - e cingi-me apenas ao que se passou de 1958 até hoje - eis alguns exemplos de intervenções das forças militares norte-americanas em todo o Mundo.


Panamá 1958
Tropas invadem o país após protestos contra os EUA

Vietname 1960-1975
O que se sabe...

Cuba 1961
Tentativa falhada de invasão

Laos 1962
Operação militar em tempo de guerrilha

Cuba l962
A crise dos mísseis, à beira da III Guerra Mundial

Iraque 1963
CIA organiza golpe de estado, mata o presidente do país e coloca Saddam Hussein no poder

Panamá l964
Tropas americanas disparam contra panamianos que exigiam regresso do Canal à jurisdição panamiana

República Dominicana 1965-66
Entrada de tropas e bombardeamentos durante a campanha eleitoral

Guatemala 1966-67
Forças especiais lutam contra guerrilheiros

Cambodja 1969-75
Tropas, bombardeamentos e intervenção naval que originam 2 milhões de mortos

Chile 1973
Forças norte-americanas e CIA participam em golpe de estado contra Salvador Allende, presidente democraticamente eleito que acaba assassinado e substituído por Augusto Pinochet

Angola 1976-92
Forças especiais apoiam rebeldes e mercenários sul-africanos

Irão 1980
Operação especial para libertar reféns em Teerão.

Líbia 1981
Dois aviões de combate líbios abatidos

El Salvador 1981-92
Forças especiais apoiam governo contra rebeldes

Nicarágua l981-90
Tropas americanas invadem e impedem revolução dos 'Contras',

Líbano 1982-84
Tropas expulsam OLP do território e apoiam os Falangistas. Bombardeamentos

Granada 1983-84
Invasão e bombardeamento após revolução no país

Honduras 1983-89
Criação de bases militares junto às fronteiras do país

Irão 1987-88
EUA intervêm em favor do Iraque na guerra contra o Irão

Filipinas 1989
Auxílio aéreo ao Governo contra golpe de estado

Panamá 1989
Governo nacional contestado por 27 mil soldados americanos, líderes detidos e mais de 2000 presos

Arábia Saudita 1990-91
Forças Armadas norte-americanas contestam Iraque pela invasão do Kuwait. Primeira Guerra do Golfo

Somália 1992-94
Tropas e bombardeamentos em guerra civil.

Jugoslávia 1992-94
Bloqueio naval da Sérvia e Montenegro

Haiti 1994
Tropas atacam governo militar e voltam a colocar o presidente Aristide no poder, três anos depois de um golpe de estado.

Sudão 1998
Ataque com mísseis a fábrica de produtos farmacêuticos, alegadamente uma fábrica terrorista de produção de gás de nervos

Afeganistão 2001
Ataque em massa para derrubar regime Taliban, caçar elementos da Al Qaeda e colocar Hamid Karzai no poder

Iraque 2003
A Segunda Guerra do Iraque, derrube de Saddam

Paquistão 2005
Ataques aéreos contra redutos da Al Qaeda matam civis

Somália 2007
Ataque com mísseis contra rebeldes islâmicos

Enfim...

10 comentários:

fpcardoso disse...

Acho que a expressão chave que te falhou foi "Governo democrático eleito pelo seu povo".

Ricardo Santos disse...

Qual deles? O da Rússia, EUA, Geórgia ou qualquer outro país invadido?

fpcardoso disse...

Nas intervenções dos EUA que referes em suposto contra-ponto às declarações do Bush, faltou-te ver quais desses [países invadidos] eram regimes democraticamente eleitos, conforme o W. diz na citação que escolheste.

Ricardo Santos disse...

Ok, compreendido.
No Panamá, o povo escolheu, mas os EUA preferiram Noriega. Em Cuba, como sabes, o Batista estava à frente do bordel/casino até à chegada dos barbudos. Os primeiros 10 anos de revolução castrista foram marcantes, depois deveria ter acontecido a passagem para a democracia. Não aconteceu, infelizmente. Os EUA bem tentaram, mas acabaram por não ter o parque de diversões de volta.
No Iraque, primeiro colocaram o fantoche Saddam e 30 anos depois ele já era inimigo, como o Bin Laden no Afeganistão - primeiro serviu para combater os soviéticos, hoje é o maior inimigo.
Na Rep. Dominicana, interromperam a campanha eleitoral, uma vez que as previsões apontavam para uma vitória da esquerda...
No Chile, o presidente foi eleito democraticamente e 'suicidado' pelos generais chilenos/CIA (isto são factos históricos, não a minha opinião.
El Salvador, Nicarágua, Guatemala tinham líderes fantoches que serviam os propósitos do Grande Irmão.
Afeganistão e Iraque é o que se sabe, terrorismo e petróleo no seu melhor como justificações. Valem o que valem, tal como as da primeira guerra do Golfo, lembras-te? Era para preservar a democracia do Kuwait...
E quanto ao Paquistão, apesar dos muitos problemas internos, é uma democracia.
Não sou um anti-americano, penso só que se deve ter cuidado com o que se diz, principalmente quando os telhados são de vidro. A Rússia, e antes dela a URSS, é responsável por atrocidades semelhantes na invasão de outros estados (Afeganistão, Checoslováquia, Hungria, Polónia...). Não há ninguém inocente nesta história. O que defendo é que não se pode olhar apenas para um dos lados.
Obrigado!

Anónimo disse...

Bom, a Rússia pode ter exagerado na sua retaliação mas as tropas russas estavam legalmente na Ossétia do Sul como força destinada a garantir a paz.

Há muito que esta região separatista manifestava a sua vontade de independência em relação à Geórgia, com o qual não partilha nem nacionalidade nem cultura, e aliar-se à Rússia.

Portanto é ilegítimo afirmar que a Geórgia estava a defender a soberania nacional. Em cumplicidade com o governo do Bush, que faz uma declaração destas (a maior das hipocrisias), o governo de Tiblissi lança as suas forças contra a capital da Ossetia do Sul.

Se tivesse acontecido uma situação semelhante com os EUA a reacção de Washington teria sido igual ou ainda mais violenta...tal como prova o sanguinário portfolio de 50 anos.

Bush nem devia abrir a boca.

fpcardoso disse...

Claro que não se pode olhar apenas para um lado, mas tu acabas por cair nesse erro. Falas numa série de países e de ataques, mas não falas no porquê dos mesmos, a não ser quando os "porquês" são petróleo. Vide Cuba, infelizmente não conseguiram tirar de lá o Fidel e o país ficou num lindo estado, fala-me o que quiseres dos primeiros 10 anos... Vide Iraque, meteram lá o Saddam é verdade, mas pela lógica do "mal o menos" pq entre ter o Ayatolla Komeni a tomar conta do Irão e do Iraque, preferiram arriscar no Saddam. Correu mal, certo. Mas isso sucedeu porque não meteram lá um fantoche... Daí terem começado a meter fantoches. Porquê os ataques ao cambodja? Porque estava a servir de abrigo aos comunas do Vietname... Pq a guerra do Vietname? Pq nessa altura todo o mundo estava em guerra entre "democracia" e "comunismo" e se hoje a democracia reina na maioria do planeta em muito se deve aos EUA, por muito que ninguém queira admitir. Erros, demasiados, foram cometidos é certo. Porém, todos os outros lados, as supostas "vítimas" neste post, cometeram atrocidades bem maiores. E nem sequer fales da guerra na Jugoslávia, porque sobre isso, se há quem deva ter vergonha é a União Europeia e os capacetes azuis. Mais, falas da Somália 1992... de certeza que conheces o que se passou nessa altura por lá? E o porquê da intervenção? Afeganistão? Talibans? Achas que os deviam ter deixado em paz? Iraque 2003? Concordas que n deviam ter tirado o genocida Saddam do poder? Pergunta aos curdos e aos iraquianos a opinião deles... Acho que o teu post incorre no erro de meter muita coisa no mesmo saco, só para dar uma impressão errada da realidade. Alguns tens razão, outros, a maioria, não tens. Só isso. E tenho pena que te tenhas cingido a "só de 1958 para a frente" ("curioso" não teres ido à guerra da coreia 50-53, conflito que fez mto bem o retrato do que viria a ser a guerra fria) como se para trás houvesse tantas outras atrocidades... Deixa-me imaginar, a Segunda Guerra, praí?

Ah, já agora e quanto ao caso em questão (russia-georgia), os georgianos foram muito estupidos e de certeza que não foi em "cumplicidade com Bush" q lançaram ataques, foi mais um acto desesperado de quem sempre procurou essa "cumplicidade" e não a encontrou.

Não me achem um defensor dos EUA, simplesmente gosto de ver todos os lados das coisas e não me cingir ao anti-americanismo de rua.

Ricardo Santos disse...

Anti-americanismo de rua? Parece-me um exagero da tua parte pensar que me estarei a cingir a isso. Os factos não mentem. Nos últimos 50 anos - e escolhi cinco décadas por ser uma data redonda, não para que a Coreia ficasse de fora - o país que provocou mais invasões, corridas ao armamento, que lucrou mais com a indústria da guerra, que mais fomentou a troca de fantoches por fantoches, que mais se imiscuíu na vida dos outros países, foram os EUA. São dados, não é a minha opinião nem qualquer tipo de anti-americanismo. O orçamento dos EUA para actividades militares legais e ilegais é a força motriz da sua economia.
Os porquês que dizes que eu não falo, são porquês ideológicos. O bicho papão do comunismo serviu de fachada para grandes atrocidades no século XX, tal como o próprio comunismo em si que se aproveitou dos ideais utópicos para privar nações inteiras de liberdade. A preocupação em policiar o mundo, a divisão do planeta em duas metades, o nós e os outros, os bons e os maus, só serviram para o afastamento cultural, religioso e social entre os povos. Pode parecer tudo muito prosaico, mas a verdade é que continuo a dizer: não posso aceitar lições de moral de um presidente de um país onde, teoricamente, existe democracia (vide resultados das eleições... quem teve mais votos não ganhou) lobística e que se vê no direito de controlar o mapa político do Mundo.
Falas do Saddam, claro que era um ditador, mas quem o colocou no poder? Foram os ditos combatentes pela liberdade e democracia deste Mundo. Há 30 anos servia como aliado, armaram-no até aos dentes e quando ele começou a fugir ao controlo, eliminaram-no. Já ele tinha dizimado curdos, xiitas, sunitas, o que quiseres... com as armas e os recursos de quem?
Não há branco nem preto, há uma enorme área cinzenta em que cada caso deve ser analisado.
Se o presidente da Costa Rica, que aboliu as Forças Armadas em 57, viesse criticar a Rússia, acharia brilhante. Tem autoridade para o fazer. Agora o Bush? Por favor... ele que tenha vergonha na cara! Qualquer dia temos o Vale e Azevedo ou o Pinto da Costa a dar lições de ética na faculdade.

fpcardoso disse...

"Em que cada caso deve ser analisado"... Exactly my point. Tu é que acabas por meter tudo no mesmo saco. Falas que se imiscuiram, que invadiram, que mataram, que esfolaram... falas d'"O bicho papão do comunismo serviu de fachada para grandes atrocidades no século XX", como se tudo não tivesse passado duma farsa e como se a ex-RDA, Rep Checa, Hungria, Polónia e tantos outros ainda não andassem hoje a agradecer aos EUA o "policiar o mundo, a divisão do planeta em duas metades, o nós e os outros, os bons e os maus" e essas coisas todas. Podes ter opinião, mas não acuses outros dos teus erros. Claro que há um grande cinzento, tu é que não o estás a ver... Mais uma vez digo, meteste tudo no mesmo saco quando não o devias fazer.

PS - E sobre a questão "ad eternum" do quem teve mais votos e tal e coiso, recomendo o estudo do sistema eleitoral dos EUA, que não muda há 2398943 anos.

PS2 - E digo-te: eu odeio o Bush, mas gosto da verdade.

PS3 - Não me batas quando me vires.

:)

Ricardo Santos disse...

Não estou a acusar ninguém dos meus erros, nem entendo o porquê dessa afirmação. Em primeiro lugar porque sei muito bem onde páram as farsas do século XX - assentam em duas mentiras. Uma é fachada de luta pela democracia utilizada pelos EUA de forma a proteger o seus interesses na sua metade do Mundo. A outra grande mentira é a ditadura do proletariado, apregoada pela URSS na outra metade do planeta.
Não há nada diferente dentro do saco, lamento. Um país grande (Rússia) invadiu outro, mais pequeno (Geórgia), sem olhar a fronteiras e direitos humanos. Um outro país grande (EUA), useiro e vezeiro na prática de impor pela força a sua vontade, vem a público criticar e mostrar-se indignado com aquilo que anda a fazer praticamente desde a sua fundação: a guerra.
Temos opiniões diferentes. E ainda bem que é assim.
Quanto a bater-te quando te vir na rua, não te preocupes, sou um pacifista. O máximo que pode acontecer é enviar uns amigos meus norte-americanos invadir a tua casa, tirar-te do poder e colocar lá um fantoche. Depois declaro ao mundo que é para o bem da democracia, uma vez que tu tinhas uma opinião diferente da minha e estavas a colidir com os interesses deste blog....
ihihihihhihi
Grande abraço! Continua!

fpcardoso disse...

"O máximo que pode acontecer é enviar uns amigos meus norte-americanos invadir a tua casa, tirar-te do poder e colocar lá um fantoche. Depois declaro ao mundo que é para o bem da democracia, uma vez que tu tinhas uma opinião diferente da minha e estavas a colidir com os interesses deste blog...." ahahahahhaha

Não consegui "não rir"... muito bom. Mas olha que a culpa da russia vs georgia é do georgiano, que caiu na armadilha russa... e foi esmagado. Mas não defendo os russos (seria um sinal do apocalipse), que obviamente exageraram e aproveitaram para recuperar mais um bocado da URSS.

Desculpa lá pelo atraso na resposta, mas entre folgas e trabalho a mais, só hoje consegui voltar aqui.

Grande abraço