Deu-me aquela sensação de não saber se aquilo era real ou se simplesmente estava num estado de dormência em que as coisas acontecem sem termos a certeza se são verdade ou mentira.
E antes que pensem noutras coisas, estou a falar de Justiça.
No mesmo dia, duas decisões dos tribunais portugueses fizeram-me duvidar do meu estado de sanidade mental. Fiquei a pensar se estarei ainda no Estado Novo ou se já estamos num Novo Império armado ao moderninho.
Em Felgueiras, a Vossa Senhora de Fátima foi ilibada de todos os crimes. Afinal, os 2,8 milhões "oferecidos" ao FC Felgueiras para pagar ordenados foram, de acordo com o tribunal, utilizados para fins legais. A palhaçada que durava há 10 anos acabou ontem sem que as falcatruas, o saco azul, a fuga para o Brasil ou a mudança de visual da autarca de Felgueiras fossem penalizadas.
No Supremo Tribunal, ficámos a saber que uma mulher vai ser indemnizada por uma companhia de seguros em virtude do acidente de viação do marido. A senhora queixou-se de danos morais devido ao marido ter ficado impotente, o que lhe impede a concretização dos deveres conjugais. Vai receber 50 mil euros.
Nas duas histórias, a hipocrisia.
Na primeira, por não se condenar, pelo menos, a fuga à Justiça portuguesa de Fátima Felgueiras para o Rio de Janeiro. Está criado o precedente. Já nem falo nas outras acusações...
Na segunda, pela americanização da Justiça com esta sentença. Está aberta a época de caça às indemnizações por fumadores que não sabiam o mal que o tabaco fazia, por transeuntes que não sabiam que andar em piso escorregadio pode provocar quedas, por pacientes de dentistas que desconheciam a dor provocada por uma desvitalização de um dente ou por vítimas de acidentes que perderam um dedo e nunca mais vão poder tocar piano, mesmo que nunca o tenham feito.
Gostei mesmo do dia de ontem.
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