Nunca gostei.
Provavelmente é porque nunca lá estive. Ou então, se já lá tivesse estado ainda gostaria menos. Não sei, mas não é isso que vem ao caso.
Eu não gosto do Haiti. Há pessoas, locais e países que nos inspiram confiança e dão um bom feeling. O Haiti não me faz nada disso. Nunca fui à Mongólia, mas não tenho nada contra. Não conheço o Paraguai, mas nutro alguma simpatia pelo país e pelos seus habitantes. E Vanuatu? Também nunca lá estive, mas gostaria um dia de lá ir. Com o Haiti é diferente: É como a Somália ou a Coreia do Norte, não gosto. E isto é puramente subjectivo. Tenho as minhas razões.
Cresci a ouvir falar do Haiti como um país sem lei, com crimes violentos, com uma ditadura sangrenta, com hábitos religiosos exacerbados, com a mística do vudu sempre presente.
Em 1998 visitei a República Dominicana e constatei que a prostituição feminina era oriunda do outro lado da fronteira da ilha Hispaniola. Do Haiti, portanto. Em conversa com os locais, percebi que uma das suas grandes preocupações eram os haitianos. Achei que era um exagero, apesar de já na altura não nutrir simpatia pelo Haiti.
Há dois anos, voltei à ilha Hispaniola. As preocupações dos dominicanos com os haitianos eram as mesmas: violência, crime, prostituição, sida. Continuei a não gostar do Haiti.
Agora, a catástrofe.
São perdas irreparáveis, as humanas. Dezenas ou centenas de milhar de vítimas mortais e milhões de desalojados são a primeira face do drama. Vão seguir-se as epidemias, os saques, a violência.
Um país que nunca viu a luz ao fundo do túnel pode encontrar na maior catástrofe natural da sua História, a saída que nunca soube aproveitar. Ou melhor, que os seus dirigentes, de Papa Doc Duvalier a Baby Doc Duvalier, nunca deixaram que fosse aproveitada. As centenas de milhões de dólares investidos no país ao longo de décadas não serviram para nada, a não ser para o enriquecimento dos seus dirigentes corruptos. Agora, e depois de uma Guerra Civil, em 2004, em que as matanças se repetiram e os problemas continuaram, o Haiti tenta fazer aquilo que nunca conseguiu: tornar-se um país a sério.
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