Não há coisa pior que um talento desperdiçado. Alguém ter um dom na vida, ter a capacidade sublime de tocar os outros e não o fazer. Poder mudar o mundo com uma palavra, com um som, com uma pintura, uma imagem, um acto e não o fazer. Amy Winehouse enganou-me.
Comecei a ouvi-la aos poucos, uma música aqui, outra ali. Não sabia quem era até há cerca de meio ano. Escutava-a na rádio ou na televisão, sempre ao acaso. Não sabia se era branca ou preta, amarela ou vermelha. Mas cada vez que a ouvia sentia qualquer coisa diferente, uma força que não se explica, um timbre que não se entende, um sentimento que não é passageiro.
Tem voz de diva, dei comigo a pensá-lo e a partilhá-lo com os outros. Uma Aretha Franklin, uma Maria Callas, uma Billie Holiday. Poderia ter nascido neste ou noutro século, encantar plateias, deslumbrar multidões, fazer rir e chorar com um piscar de olhos, um gesto, uma nota cantada mais alta ou mais baixa. Mas Amy não quer.
Chegou meia hora atrasada ao palco do parque da Bela Vista, mas isso pouco me importa. Deitou o cigarro para chão, levou o copo numa mão e avançou para o microfone. Balbuciou qualquer coisa enquanto os músicos a tentavam acompanhar. Ou melhor, enquanto os músicos tentavam disfarçar aquilo que já era esperado. Durante quase uma hora arrastou-se pelo palco, caíu, desiludindo quem apostou tudo nela. E, acima de tudo, desiludindo-se a si mesma. Amy não estava em condições. Chorou, pediu desculpa. Disse que deveria ter cancelado o espectáculo.
Não. Não deveria ter cancelado o espectáculo. Que lhe sirva de lição, como não serviu a Janis Joplin ou Elis Regina, a Jim Morison, Ian Curtis ou Kurt Cobain e outras centenas, milhares, milhões de homens e mulheres que desperdiçaram e continuam a desperdiçar o seu talento.
Comecei a ouvi-la aos poucos, uma música aqui, outra ali. Não sabia quem era até há cerca de meio ano. Escutava-a na rádio ou na televisão, sempre ao acaso. Não sabia se era branca ou preta, amarela ou vermelha. Mas cada vez que a ouvia sentia qualquer coisa diferente, uma força que não se explica, um timbre que não se entende, um sentimento que não é passageiro.
Tem voz de diva, dei comigo a pensá-lo e a partilhá-lo com os outros. Uma Aretha Franklin, uma Maria Callas, uma Billie Holiday. Poderia ter nascido neste ou noutro século, encantar plateias, deslumbrar multidões, fazer rir e chorar com um piscar de olhos, um gesto, uma nota cantada mais alta ou mais baixa. Mas Amy não quer.
Chegou meia hora atrasada ao palco do parque da Bela Vista, mas isso pouco me importa. Deitou o cigarro para chão, levou o copo numa mão e avançou para o microfone. Balbuciou qualquer coisa enquanto os músicos a tentavam acompanhar. Ou melhor, enquanto os músicos tentavam disfarçar aquilo que já era esperado. Durante quase uma hora arrastou-se pelo palco, caíu, desiludindo quem apostou tudo nela. E, acima de tudo, desiludindo-se a si mesma. Amy não estava em condições. Chorou, pediu desculpa. Disse que deveria ter cancelado o espectáculo.
Não. Não deveria ter cancelado o espectáculo. Que lhe sirva de lição, como não serviu a Janis Joplin ou Elis Regina, a Jim Morison, Ian Curtis ou Kurt Cobain e outras centenas, milhares, milhões de homens e mulheres que desperdiçaram e continuam a desperdiçar o seu talento.
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