Porquê? Why?

Há histórias que têm que ser contadas.
Há exemplos que têm que ser seguidos.
Há personagens que têm que ser desvendadas.
E nós merecemos um jornalismo diferente que nos mostre que ainda vale a pena.



04/08/09

Meu querido mês de Agosto

Ilha Terceira, Açores


Octávio saiu de casa num carro em segunda mão acabado de comprar. Levou quase uma hora para encher a bagageira e acomodar todos os sacos e saquinhos a meio do banco traseiro. Cristina deitou-se tarde na noite anterior, esteve a fritar uns salgadinhos, a fazer umas sandes de queijo e fiambre, a regar as plantas e a deixar tudo preparado para o mês de ausência. Às primeiras horas da manhã já estava a pé, a levantar o resto da família da cama, a fazer as camas, a deixar a casinha em Saint Maur num brinquinho. Ela e o marido estão em França há quase 17 anos.

Saíram de Portugal no início dos anos 90 quando a fábrica do Vale do Ave fechou e ficaram os dois sem emprego. Tinham um primo a trabalhar em Créteil, nos arredores da capital francesa, que lhes acenou com a cenoura das melhores condições de vida. Não tinham nada a perder, estavam casados há um ano e filhos ainda não constavam do agregado.

Hoje, as coisas são diferentes. Michel é o mais velho, tem 15 anos. Matilde, como a avó materna, é a mais nova, tem 12. Falam o português que ouvem em casa, com as falhas normais de quem está longe. Todos os anos voltam a Portugal, sempre na mesma altura. A viagem é sempre feita de carro. São praticamente 24 horas com o pai e a mãe a revezarem-se na condução e paragens para atestar e xixizinhos.

Este ano, a família Soares não chegou a tempo das festas da padroeira da aldeia. Cansada, a conduzir, Cristina fechou os olhos um segundo a mais.

Todos os anos, as mesmas histórias, os mesmos acidentes, as mesmas mortes estúpidas.

2 comentários:

RR disse...

Vem devagar, emigrante.

Ricardo Santos disse...

É uma saga, Graciano.