Porquê? Why?

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Há personagens que têm que ser desvendadas.
E nós merecemos um jornalismo diferente que nos mostre que ainda vale a pena.



17/03/10

Espiral

Há um restaurante junto ao Jardim Cesário Verde, Estefânia, Lisboa, que é um dos mais antigos do género em Portugal. Que género? Vegetariano. Macrobiótico. Comida saudável.
Fui lá uma vez jantar. Só uma. Não voltei. A comida era boa e eu gosto de cozinha vegetariana, mas já explico melhor o porquê de não ter lá posto os pés novamente.

O Espiral - é esse o nome do restaurante - funciona num sistema de self-service, com tabuleiros castanhos como aqueles que eram distribuídos na fila do refeitório da escola secundária. Ou EB 2-3, como se diz hoje. Os clientes caminham pela zona delimitada, empurrando o tabuleiro sobre as barras de ferro polido e retirando as taças de sobremesa, talheres e bebidas enquanto caminham até aos pratos quentes.

Com a refeição paga, cada pessoa segue em direcção às mesas em busca de um lugar. Na noite em que lá fui, havia muitos. E havia um pianista a tocar ao canto da sala. Olhei para as outras mesas, quase todas elas ocupadas apenas por uma pessoa. Comiam de olhos postos no prato ou num livro aberto ao lado do tabuleiro. A maior parte delas eram magras, mas não tinham um ar saudável. Eram homens e mulheres com mais de 40 anos, alguns deles com mais 20 ou 30 que os 40.

Nesse dia de semana à noite, a música que o pianista tocava pareceu-me deprimente.
As pessoas que ocupavam as mesas pareciam-me deprimidas.

Bem sei que a carne alegra a vida, mas não pode ser essa a única explicação para tanta tristeza e auto-análise perante um prato de tofu e um sumo de beterraba. Deu-me vontade de abanar cada uma daquelas pessoas, falar com elas e perguntar-lhes o porquê de tanto silêncio. O que é que estava para lá de cada um dos comensais?

A espiral de sentimentos nunca me convenceu. E o Espiral também não.
Vegetariano sim, vegetal não.

3 comentários:

Lolly disse...

Há mais de um ano que deixei de comer carne e posso garantir-te que não detectei nenhuma relação de causa-efeito entre isso e a tristeza :P
Mas... se a beleza está nos olhos de quem vê, não se pode passar o mesmo com a tristeza?
**

Ricardo Santos disse...

Provavelmente a tristeza também estava nos meus olhos quando lá fui, mas acredita: o ambiente era, de facto, deprimente. O piano ajudava, mas o pior mesmo foi a solidão em frente a um tabuleiro. Podia ser tofu ou bife na pedra, tanto faz.
Obrigado, Lolly.

Soph disse...

Ric - Há disponibilidade na agenda para um almocinho a 3 perto do rio na próxima semana?
Do BEST!