Porquê? Why?

Há histórias que têm que ser contadas.
Há exemplos que têm que ser seguidos.
Há personagens que têm que ser desvendadas.
E nós merecemos um jornalismo diferente que nos mostre que ainda vale a pena.



23/11/09

Está quase...

Pasaia, Donostia, Euskadi


Lamento o silêncio, mas há momentos em que não é possível conciliar tudo.
Este é um deles.
Dentro de dias, as novidades virão sob a forma de livro, uma boa sugestão para o Natal que se aproxima, se me permitem puxar a brasa à sardinha.

Respiro fundo e volto a mergulhar no teclado.
Obrigado pela paciência.

Até já!

04/11/09

Dom Manuel, o Clemente

Compreendo a posição do Bispo do Porto sobre os casamentos homossexuais.

Compreendo quando D. Manuel Clemente defende um referendo, apesar de o PS querer aprovar a coisa de forma directa na AR.

Compreendo que ele veja esse mecanismo da democracia como "uma possibilidade verdadeiramente admissível".

Compreendo que os casamentos entre pessoas do mesmo sexo devam ser debatidos, "sem pressas".

Compreendo quando ele diz que o casamento deste género tem "outro significado histórico, é realmente outra coisa".

Até consigo compreender quando o Bispo do Porto fala na "possível geração de filhos e a sua educação" como objectivo do contrato nupcial.

Mas acima de tudo, compreendo D. Manuel Clemente quando ele se refere à necessidade de "uma reflexão mais profunda da sociedade".

Se eu fosse homossexual e, de repente, se abrisse a possibilidade de poder casar livremente com a pessoa que eu quisesse e que me quisesse, também apelaria a uma reflexão.

30/10/09

Um balão chamado desejo

Ilhas Galápagos, Equador


Se um balão nunca deixasse de subir, onde iria parar?

Retiremos da equação todas as condicionantes físicas. Imaginemos um balão a subir no ar, sem parar. Haverá um fim? Existirá uma altura em que bate no tecto e daí não passa?

O universo é infinito, ele poderá subir sempre. Esta parece ser a resposta mais correcta, mais científica, mais aceitável. E nem precisaríamos de discutir mais o assunto, mas o nosso cérebro pode ir mais longe. Deve ir mais longe, tem que ir mais longe, mais acima.

E mais para trás. Como no caso da vida. Se tudo começou com uma célula e a vida é aquilo que conhecemos hoje - bendito Darwin! - o que existia antes de essa célula se ter formado? Quem ou o quê fabricou essa célula? Pode ter sido um acaso da física, pode ter sido uma entidade divina, pode ter sido uma experiência que correu bem. Pode ser tanta coisa...

É aí que se entra na área mágica do cérebro humano, quando já não se consegue idealizar mais nada para trás. Nem mais para cima, como no caso do balão. Essa ginástica mental, esse exercício de superação dá-me adrenalina. Gosto de chegar a esse zona que não sei caracterizar, em que ando às apalpadelas a tentar agarrar-me a qualquer coisa. De cada vez que lá vou, sinto que fui um pouco mais longe, que bati mais um recorde pessoal.

Não é apenas a resposta final que me motiva. O caminho para lá chegar é que me dá gozo.

28/10/09

Angolagate e Gaydamak


Li ontem no Público que "um tribunal de Paris condenou hoje a seis anos de detenção os principais acusados no processo Angolagate, um caso de venda de armas a Angola em meados dos anos 90."

Fiquei a saber que "o francês Pierre Falcone e o israelita de origem russa Arcadi Gaydamak foram condenados a seis anos de detenção. (...) Pierre Falcone foi condenado por tráfico de influências e comércio de armas e o tribunal ordenou a sua detenção imediata, sublinhou a AFP. Gaydamak, o grande ausente neste processo apesar de já ter sido emitido um mandado de detenção contra ele, está na Rússia e foi também condenado por comércio de armas e tráfico de influências. Tanto Falcone como Gaydamak deverão agora apresentar recurso, tal como anunciaram os advogados."

Tudo remonta ao período entre 1993 e 1998, quando os dois foram acusados de vender armas a Angola, "provenientes do antigo bloco soviético, quando o país estava em guerra civil, sem autorização do Estado francês. Charles Pasqua era então ministro do Interior (hoje é senador) e foi condenado a três anos de detenção, dois deles com pena suspensa, e 100 mil euros de multa por tráfico de influências, mas o advogado já anunciou que vai apresentar recurso."

E lembrei-me logo do perfil de Gaydamak que publiquei em Maio de 2006 na revista NS - Notícias Sábado. Vale a pena recordar a história do milionário israelita nascido em Moscovo.


Uma mão lava a outra

Tráfico de armas, droga, influências e diamantes. Proprietário de jornais, clubes desportivos e minas de fosfatos. Multimilionário e perseguido pela Justiça, eis Gaydamak.

Há 11 anos, Arcadi juntou-se ao amigo Pierre e resolveram ganhar algum dinheiro. Forneceram ao estado angolano um carregamento de armas soviéticas no valor de 500 milhões de dólares. Um quinto do valor, alegadamente proveniente dos lucros da companhia petrolífera angolana Sonangol, foi para o seu bolso, era a comissão pelo negócio. Arcadi tem por último nome Gaydamak e defende-se dizendo que tudo não passou de uma transacção comercial entre dois países, Angola e Rússia, mediada em França pelo banco do qual é proprietário. O amigo é Pierre Falcone, empresário com ligações perigosas a Angola, Portugal, França e Brasil. Ambos juram inocência perante a acusação de tráfico de armas e ameaçam processar judicialmente quem disser o contrário. Apesar dos inúmeros problemas com a Justiça, Gaydamak acabou por ser condecorado pelo estado francês com a Ordem Nacional de Mérito. Por outras razões, é certo. O empresário israelita – apesar de portador de passaporte de três outros países – prossegue agora a sua saga milionária, envolvendo-se em negócios de diamantes, petróleo, comunicação social e desporto. É proprietário de jornais, um clube de futebol, outro de basquetebol e tem uma fortuna estimada em mais de três mil milhões de dólares. Mas afinal, de onde vem este homem que pagou em dinheiro vivo 15% da dívida externa angolana à Rússia (no valor de seis mil milhões de dólares), é conselheiro particular de José Eduardo dos Santos, fez um donativo generoso para as vítimas do 11 de Setembro e outro para o exército israelita?

Arcadi Gaydamak, Ari Barlev de nome hebreu, tem duas histórias de vida: a que é contada e difundida pelo próprio e a que se vai sabendo pelas marcas que foi deixando pelo mundo. Vamos à oficial, a autorizada, aquela que foi negociada com um jornalista da cadeia francesa de televisão TF1. Nasceu em Moscovo em 1952, chegou a França com 19 anos, respondendo a um anúncio para pintor de prédios. Passou a tradutor e tomou parte nos acordos de negociação franco-russos sobre o comércio de gás. Diz que entrou no mundo dos negócios através do circo. Eram necessárias empresas de transportes para fazer movimentar as companhias circenses e ele criou-as. Em São Petersburgo, trabalhou nas docas e conheceu as pessoas certas, já que formou uma rede de empresas de segurança com equipas especializadas. Daí a movimentar-se nas altas esferas foi um pequeno passo. Uma verdadeira história de sucesso, portanto.

Agora, a outra versão, a que ele dispensaria: Local e ano de nascimento coincidem. Na adolescência, chega a Israel e instala-se no kibbutz Beit-Hachita. Muda-se para Haifa e encontra trabalho no porto da cidade israelita. Apanha um navio e desembarca em França aos 20 anos. Segue-se um rol de profissões e actividades que terá desempenhado nos anos que se seguiram: operário naval, tradutor e coleccionador de problemas com as Finanças. Depois da queda do Muro de Berlim, tal como tantos outros empresários russos, Gaydamak começa a tomar parte em negócios internacionais ligados ao gás, petróleo, helicópteros e armamento. Hoje, a sua fortuna é mantida graças às minas de fosfato no Cazaquistão, à criação avícola e ao mercado imobiliário na Rússia. Sem contar com a rede de bancos da qual é accionista, a UBS, e o semanário Moscow News. Em negociação está a compra do jornal francês France Soir. A par de tudo isto, este israelita que pode ser anunciado como angolano, canadiano ou russo – graças à diversidade de passaportes de que é portador - carrega uma série de acusações às costas: contrabando de armas em Angola e no Afeganistão, treino de forças paramilitares, tráfico de droga, envolvimento no já referido Angolagate (tornado público em 2000 e do qual também fez parte Jean-Christophe Mitterrand, filho do antigo Presidente da República francesa), fuga ao fisco, especulação imobiliária, branqueamento de capitais e ligações ou máfia russa.

Para manter o seu status e não ir parar à prisão, Gaydamak socorre-se dos melhores advogados que o dinheiro pode pagar e refugia-se numa série de estratagemas e relações perigosas que levam à loucura os seus acusadores. A caridade é um dos instrumentos. As doações que tem feito ao exército israelita e a garantia de emprego para antigos líderes da Mossad (os Serviços Secretos de Israel) permitem-lhe estar seguro no país e não ser enviado para França ou para a Suiça, onde tem mandatos de captura em seu nome. É em Israel que executa algumas das suas ‘obras sociais’. Exemplos disso são a compra de 100% das acções do clube de futebol Beitar de Jerusalém (por 11 milhões de euros), bem como da equipa de basquetebol da mesma cidade, o Hapoel. Outra prova do seu ‘altruísmo’ ocorreu em 1995 quando Arcadi foi fundamental na libertação de dois pilotos franceses capturados pelo exército sérvio na Bósnia. Situação semelhante ocorreria três anos depois na Rússia, dessa vez com o exército tchecheno. E novamente Gaydamak conseguiria a libertação dos prisioneiros franceses. Como? Conhecimentos. Pelas intervenções foi condecorado pelo Estado francês, o mesmo que agora o persegue por tráfico de armas e evasão fiscal – mais de 500 milhões de euros. Gaydamak assume-se como um “homem sem estudos” que conseguiu a sua fortuna através da “sorte”. Sobre as explicações à justiça, Arcadi diz-se “pronto para regressar a França”, que seria “vantajoso explicar-se em tribunal. Mas apenas quando for escolhido outro juiz para o caso”. É que o actual, Philippe Courroye, “manipula a comunicação social contra mim”.

in NS - Notícias Sábado, Maio de 2006

26/10/09

Follow Me

Cá fica o agradecimento merecido a quem decidiu seguir o 'Jornalismo Positivo'.
A lista destas corajosas personalidades está mesmo aqui ao lado.

23/10/09

Fuçabook

Gosto da expressão 'rede social'.
Parece um bando de Chicago nos anos 20, mas sem perseguições automóveis a 30km/h e rajadas de metralhadora contra Dons Corleones traídos pela famiglia.

Estou mesmo a falar do Facebook. Só podia. Ao contrário de alguns iluminados, não tenho nada contra. Permitiu-me descobrir o paradeiro a muito boa gente. Mas não me permitiu descobrir novos amigos. Isso não. Nem conhecidos.

Pura e simplesmente não aceito pedidos de amizade de pessoas que não conheça pessoalmente.
Acho estranho que alguém queira ter acesso aos meus "gosto" e "não gosto", às minhas fotografias e informações sem que tenha, pelo menos uma vez, trocado uma palavra comigo.

De quem conheço e não tenho nada contra, aceito o pedido.
Ou ignoro, se não simpatizar muito.

Quando é de alguém de quem não gosto, mas tive a infelicidade de conhecer... aí sim, fico mesmo com a certeza que isto das redes sociais, é uma Cosa Nostra.

Vou tratar de encomendar umas cabeças de cavalo.

H de Amigo


Olha que dois...


Lisboa, 23 Outubro 2009 – A Comissão Europeia anunciou os vencedores do concurso de jornalismo “Pela Diversidade. Contra a Discriminação.” em cada um dos estados-membros. Em Portugal, a categoria geral foi ganha pela jornalista São José Almeida, com o texto “Homossexuais Perseguidos no Estado Novo”, publicado no jornal “Público”. O vencedor da categoria especial, para os artigos focados na ligação entre pobreza e discriminação, é Ricardo Rodrigues, que publicou o texto “Pobres como nós” na revista “Notícias Magazine”. Em Portugal, foram admitidos a concurso 18 trabalhos, publicados entre 30 de Novembro de 2008 e 31 de Agosto de 2009 na imprensa escrita e em meios de comunicação on-line.

Estou contente.
Conheço o trabalho de São José Almeida e gosto.

Estou eufórico.
Conheço muito bem o trabalho de Ricardo Rodrigues e adoro.

Nunca sei há quanto tempo é que conheço o Ricardo. Poderia apostar em 9 anos, mas é-me indiferente. Podiam ser 20 ou apenas 1. Conheci-o nos Açores, entre um e outro gin tónico no Peter's. Era de noite, não se via o Pico.

Estávamos num grupo grande de profissionais desta área, uns bem mais interessantes do que outros como se veio a provar pela continuidade de algumas amizades desde esse momento. Há coisas que não se explicam e não são amor: é este caso. Depois dessa "odisseia", continuámos a encontrar-nos, em trabalho pelos mais variados poisos. Auschwitz, Los Angeles, Penedono ou Alqueva foram apenas alguns deles.

Ao longo das viagens, criei pelo Ricardo um sentimento crítico de amizade. Acho que criámos os dois. Dizemos sempre o que pensamos, mesmo quando sabemos que o outro não vai gostar. Aconselhamos calma quando é preciso, atiçamos o fogo quando é necessário, damos e levamos raspanetes cada vez que o merecemos. E isso vai acontecendo.

Recebi esta notícia do prémio atribuído ao Ricardo com o orgulho que se sente como se fosse alguém da nossa família de quem gostamos. Sinceramente, recebi a notícia, como se tivesse sido eu a recebê-lo. E ele sabe disso. O Ricardo merece este prémio.

A reportagem de que se fala, "Pobres como nós" é excelente. Para além do brilhante trabalho de campo e passagem para palavras do autor, é também - com igual nível de elogio - um excelente trabalho fotográfico de Pedro Loureiro, na minha opinião, o grande fotojornalista português. O trabalho destes dois senhores é um dos melhores retratos contemporâneos da realidade da pobreza em Portugal. Além de que o título é fantástico, coisa que sempre me agrada.

Além do poder e do dom da escrita, o Ricardo Rodrigues tem o poder de contar histórias com sentimentos ambíguos. Fala de travestis como se escreve sobre o amor. Repete palavras para marcar ritmos de respiração. Faz pontos onde menos se espera para nos fazer pensar.

Este prémio é de todos os jornalistas, de todas as pessoas, que acreditam que a sua hora de fazer alguma coisa está a chegar.

21/10/09

Judite

Gosto da PJ.

Gosto.

Não tem nada a ver com o facto de morar paredes meias com a Judiciária. Já gostava antes de viver aqui. Confesso que ainda me passou pela cabeça concorrer a inspector da PJ, mas felizmente para a instituição mudei de ideias. Sempre achei que eram os mais inteligentes entre os polícias. Os outros que me perdoem, é apenas uma opinião.

Fico contente quando comprovo que são competentes. São uns tipos profissionais. Ou então têm uma poderosa máquina de marketing. Vou acreditar que é pelo seu valor que, nos últimos cinco anos, tenham apreendido 64,5 toneladas de drogas duras.

Mas há mais números. Durante as comemorações do 64ª aniversário da PJ, o director nacional, Almeida Rodrigues, fez o balanço dos últimos cinco anos:

- cinco mil armas de fogo apreendidas
- 3275 traficantes detidos
- 1153 homicidas
- 149 assaltantes de bancos
- 188 assaltantes de postos de combustível
- 1818 assaltantes à mão armada
- 494 incendiários
- 231 violadores
- 548 abusadores de crianças
- 62 barcos
- três aviões
- 41 imóveis
- 55 milhões de euros

Há que apontar erros quando as coisas correm mal, mas aplaudir quando o trabalho é bem feito e não pensar que esta é somente uma obrigação deles. Até é, mas quem é que não gosta de receber um elogio pelo trabalho bem cumprido?

20/10/09

Caim? Então, levanta-te!

Santa Marta, Colômbia

Acho deliciosa a polémica em torno de 'Caim', o mais recente livro de José Saramago.
Foi lançado ontem e já os sectários de ambos os lados se movimentam. Os apaixonados por Saramago colocam o livro nas nuvens. Os opositores do Nobel massacram-no. Mas será que uns e outros tiveram tempo para ler o livro?

Duvido. O que acontece é que estão a reagir de forma cega às declarações do escritor aquando do lançamento da obra. Saramago fala da Bíblia como um "manual de maus costumes" onde pontificam histórias de incestos, carnificinas, violência. Uns aplaudem, outros horrorizam-se. E então? Do que é que estavam à espera? Que José Saramago elogiasse a religião católica e a igreja dos homens que a tem regido ao longo dos séculos? Só um ignorante poderia pensar em tal coisa.

Saramago é o que é. Escreve como escreve. Goste-se ou não, escreve sobre temas actuais, sobre a solidão, sobre a perseguição, sobre duelos interiores. E sim, escreve sobre religião, sobre as palavras da Bíblia. E depois? Não se pode questionar a Bíblia? Porquê? Dizem que é de inspiração divina, mas esses são outros quinhentos. Quem escreveu a Bíblia foram os homens e não qualquer Deus. E os homens erram e usam as palavras em benefício próprio ou para atemorizar os crentes. Tem sido a história de todas as religiões. A católica não é diferente das outras e não está acima de suspeitas.

Vou ler o livro com a mesma vontade que li o 'Evangelho Segundo Jesus Cristo' ou o "Ensaio Sobre a Cegueira'. E depois terei uma opinião sobre o livro, não sobre o escritor. É pena que outros não façam o mesmo e já estejam a "cagar postas de pescada" sobre a pessoa e não sobre 'Caim'. Seja a favor ou contra.

'Caim' e a Bíblia são obras de ficção. A primeira ainda não li, mas vou fazê-lo. A segunda também não e não tenho intenção de ler. Já vi o filme.

16/10/09

Ó gordo, hoje é Dia Mundial da Alimentação!

Fernando de Noronha, Brasil


Eu sou do tempo - digo eu com aquele tom de ancestralidade próprio dos idosos - em que havia um ou dois miúdos gordos na turma. Estavam identificados. "Bucha", "Pote de Banha", "Bola", "Gigante" ou " Soares" eram alguns dos mimos que eles e elas tinham que ouvir. Fazia parte. Não me lembro se os pais dessas crianças passavam a vida em psicólogos com os filhos para fazer esquecer o trauma. Na minha Escola Primária era mais fácil encontrar crianças que passavam fome do que com excesso de peso. E eu não estudei na Etiópia, foi mesmo aqui ao lado, nos anos 80, em Setúbal.

Mas eu também sou deste tempo, do tempo em que é publicado o primeiro estudo nacional sobre a obesidade infantil. Sou deste tempo em que, em Portugal, 29% das crianças entre os dois e os cinco anos têm excesso de peso. Um terço das crianças em idade pré-escolar está acima do peso ideal e 12,5% são obesas, ou seja, em Portugal, uma em cada três é gorda e no resto da Europa, é uma em cada cinco. Este estudo é da responsabilidade da Plataforma Contra a Obesidade, vem no DN de hoje e mostra que as raparigas têm maiores problemas neste campo que os rapazes.

O que me revolta mesmo é a estupidez.
É o encher os meninos e as meninas com refrigerantes e bolos, batatas fritas e hambúrgueres, e não os levar a praticar desporto, a brincar fora de casa, a queimar calorias. Já sei, já sei, as exigências da sociedade moderna, os horários de trabalho, a falta de tempo, bla, bla... É muito mais fácil levá-los ao McDonald's do que dar-lhes uma refeição saudável. Pois, é isso.
O que me revolta mesmo é a estupidez.

Isso e o facto de, no Dia Mundial da Alimentação, sabermos que existem 1000 milhões de pessoas que passam fome no Mundo e as nossas crianças terem problemas de obesidade.

14/10/09

Amanhã na SIC



A história de vida de António Raposo volta à baila.
Amanhã, quinta-feira, por volta das 12h no programa "Companhia das Manhãs", na SIC, debatem-se casos de pessoas que viveram vidas falsas no exercício das suas profissões.
Vou lá estar para dar o meu depoimento baseado no livro "António Raposo - O Professor Sem Diploma" publicado há quase um ano pela HF Books.

13/10/09

Maitê Proença

É complicado quando as pessoas têm uma imagem errada de um povo e de um país. Na maior parte dos casos isso acontece por desconhecimento ou por falta de enquadramento histórico e social. Noutros casos, como é o da actriz brasileira Maitê Proença, é por pura ignorância e falta de educação. A senhora em questão faz parte do programa de televisão do GNT, 'Saia Justa' e esteve em Portugal em trabalho. Aproveitou para fazer este apontamento para o canal da Globo sobre Portugal e os portugueses. Aconselho-vos a ver.


Depois de ver esta pérola, enviei a seguinte mensagem para o GNT.

"Acedi há poucos momentos a um vídeo de Maitê Proença gravado em Portugal, na região de Sintra e de Belém, em Lisboa. É curiosa a intervenção da actriz (lamento, mas no "atrasado" Portugal, a profissão ainda se escreve com 'c' antes do 't' e eu vou aproveitar essa regra até ao final). Dizia eu que é curioso o trabalho, apesar de não saber se se pode chamar de trabalho o que Maitê veio cá fazer para o Saia Justa. Curioso porque a senhora decide agredir os portugueses, Portugal e a nossa História (cuspir num monumento nacional e Património Mundial da Humanidade pela UNESCO é de um alto nível de sofisticação só ao nível de algumas das melhores favelas do planeta que, por acaso, existem em abundância nas maiores cidades desse grande país). Estranho que Maitê, tão querida pelos portugueses graças às suas participações nas mais variadas novelas brasileiras, tenha esquecido as boas maneiras e se tenha preparado tão mal para um programa de televisão do GNT. Pela minha parte, de cada vez que essa senhora voltar a Portugal com as suas peças de teatro, campanhas publicitárias, lançamentos de livros ou o que quer que seja, terá o meu boicote. É que nós, os portugueses, somos muito "esquisitos", mas não somos ignorantes nem mal-agradecidos como essa senhora tão bem demonstrou ser."

10/10/09

Civismo

Algures no Nepal


Eu até acho que sou um tipo bem educado.

Gosto de deixar passar primeiro as senhoras em qualquer circunstância, seguro a porta para a pessoa que vem atrás de mim à saída do Vasco da Gama, mesmo que não a conheça e peço sempre licença quando me atravesso entre duas velhinhas a conversar no meio do passeio da Estefânia, apesar de elas se borrifarem para isso.

Quando, nos restaurantes populares a que vou, o empregado põe o toalhete de papel na mesa agradeço sempre. E quando ele traz o copo e os talheres também agradeço. Duas vezes. Uma pelo copo e outra pelo garfo e pela faca, afinal são dois serviços diferentes que merecem um incisivo "obrigado". Chega o prato à mesa e lá vem mais um "obrigado". É chato, confesso que pode ser cansativo, mas já o faço de forma inconsciente. E não me arrependo disso.

Normalmente sou bem recompensado por esse tipo de tratamento. Um sorriso, um "por favor" e um "obrigado" fazem milagres nas relações urbanas, nas repartições públicas, em cafés e restaurantes. Não me custa nada, tenho até algum prazer em agradecer a quem me presta ou serviço ou a quem tenta prestar-me um serviço.

É o caso dos paquistaneses e indianos que circulam pela noite das grandes cidades portuguesas, vendendo rosas embrulhadas em plástico, óculos que se iluminam, tiaras incandescentes ou barulhentos patos em forma de fantoche. Deixo sempre que se aproximem, que digam alguma coisa para, de seguida, os desarmar com um sorriso aberto e um claro "Não, muito obrigado". Resulta sempre, acreditem. Não falha. Eles perdem logo a vontade de dizer "todas por cinco euros". Isso deixa-me duplamente satisfeito. Por um lado, evito aqueles longos minutos de conversação sempre que um engraçadinho presente no grupo decide regatear um euro, que não lhe faz falta absolutamente nenhuma, com um cidadão de um país em vias de desenvolvimento que está a tentar melhorar a sua vida e a da sua família. Por outro lado, sinto que estou a tratar o profissional da venda de rosas e adereços com o respeito que me me merece qualquer pessoa que trabalha.

O exagero de civismo vai ao ponto de ter dado por mim, recentemente, a dizer "não, muito obrigado" a um toxicodependente que estava a mendigar junto aos Restauradores e me pediu uma "ajuda". Isto também já me começa a parecer um pouco demais, mas acreditem que é uma reflexo condicionado. Qual cão de Pavlov, mas sem me salivar, reajo ao estímulo do contacto entre duas pessoas com o reflexo da educação.

Pois então, muito obrigado e até à próxima.


09/10/09

Obama Nobel da Paz 2009

Acabo de saber, acabo de ver a notícia na internet.
E fiquei feliz.
Barack Obama é o Prémio Nobel da Paz 2009.
Parece-me justo: não há Paz sem Esperança e ele trouxe a esperança que as coisas podem ser diferentes. E a mim, ninguém rouba a esperança.

E qual é o problema de ele ter ganho o Nobel?
Já começam a sair da toca os críticos. Dizem que será muito cedo, que ele ainda não fez nada, que é muito novo, que tem tanto ainda por provar, que não contribuiu para a Paz.
Mas será mesmo assim?
Nos últimos 40 anos da História do Mundo, tirando Nelson Mandela, qual foi o político mundial que conseguiu trazer tanta esperança a tantos milhões de indivíduos? E a esperança não será uma forma de paz?
Não há Paz sem Esperança.

08/10/09

No domingo, contem comigo

Nascer do dia em Machu Picchu, Peru


Entendo o desencanto. Consigo mesmo perceber o afastamento. Vejo com clareza o porquê do desprezo. Mas acho que não votar não é a melhor opção.

É óbvio que a classe política portuguesa, na sua grande maioria, é má, demagógica, previsível. Isso faz com que as pessoas ganhem anticorpos, desconfiem, tenham vergonha ou mesmo raiva dos seus representantes. Nas últimas eleições, 3,5 milhões de portugueses não quiseram ir votar. Dispensaram o seu direito e dever cívico, trocaram-no por um encolher de ombros e um desinteressado "deixa andar".

Não consigo mesmo perceber como é que não votar pode mudar as coisas. Estamos todos cansados, é verdade. Aquilo já nos soa tudo ao mesmo, mas porra, é o nosso País, são os nossos políticos, é o nosso futuro. Não votar é perpetuar no poder um modelo de políticos que já provou que está ultrapassado.

Sempre achei a abstenção em relação a qualquer coisa, um mau princípio. Defendo que as pessoas devem ter opinião, devem tomar partidos, devem cometer erros até perceber que acertaram. Mas desistir, nunca. E quem escolhe a abstenção está a desistir.

Por isso mesmo, defendo uma discussão alargada sobre o voto obrigatório em Portugal. Existem bons argumentos a favor e contra. São mais de 30 países no Mundo onde isso acontece. Entre eles, Austrália, Bélgica, Brasil, Liechtenstein ou Luxemburgo, onde quem não cumpre com a sua obrigação é responsabilizado através de multas pecuniárias, tendo de apresentar uma justificação válida ou vê dificultado o acesso a passaportes, certidões ou empregos na Função Pública.

E que tal se trocássemos umas ideias sobre este assunto?

06/10/09

Não serei eu nem tu, seremos nós

O Mundo era diferente em 92.

Boutros-Ghali era o Secretário-Geral da ONU, o pai Bush era presidente dos EUA, a Jugoslávia começava a chegar ao fim e abriam-se as portas do conflito nos Balcãs, acabava a guerra em El Salvador, assinava-se o Tratado de Maastricht, 'Silêncio dos Inocentes' brilhava nos Óscares, era inaugurada a Euro Disney em Paris, a Dinamarca tornou-se campeã europeia de futebol, os Jogos Olímpicos foram em Barcelona, deu-se o massacre na prisão brasileira de Carandiru, João Paulo II pediu desculpa a Galileo pelo mal que a Inquisição lhe fez, Carlos e Diana separaram-se oficialmente, Collor de Mello foi considerado culpado de desviar mais de 30 milhões de dólares do governo brasileiro e um avião da Martinair despenhou-se no Aeroporto de Faro matando 56 pessoas.

Era um mundo diferente. Eu tinha 17 anos e ela acabava de nascer. Hoje, ela faz 17 anos.
Naquela tarde de Outubro, saí da escola à pressa para chegar a tempo de alargar os meus horizontes e de ver a comunicação social portuguesa a entrar numa fase decisiva. Eram 16h quando começou a emissão da SIC e do seu serviço informativo que revolucionou a forma de tratar a notícia em Portugal.

03/10/09

Invertebrados, banha da cobra e trampa

Meus caros e minhas caras,

Gostaria de partilhar convosco este surpreendente artigo de opinião de Vasco Graça Moura, no Diário de Notícias do passado dia 30 de Setembro, na sequência dos resultados eleitorais.

Agradeço os vossos comentários.

Mais do mesmo

O povo português acaba de demonstrar a sua fatal propensão para viver num mundo às avessas. Não há nada a fazer senão respeitá-la. Mas nenhum respeito do quadro legal, institucional e político me impede de considerar absolutamente vergonhosa e delirante a opção que o eleitorado acaba de tomar e ainda menos me impede de falar dos resultados com o mais total desprezo.

Só o mais profundo analfabetismo político, de braço dado com a mais torpe cobardia, explica esta vitória do Partido Socialista.

Não se diga que tomo assim uma atitude de mau perdedor, ou que há falta de fair play da minha parte. É timbre das boas maneiras felicitar o vencedor, mas aqui eu encontro-me perante um conflito de deveres: esse, das felicitações na hora do acontecimento, que é um dever de cortesia, e o de dizer o que penso numa situação como aquela que atravessamos, que é um dever de cidadania.

Opto pelo segundo. Por isso, quando profiro estas e outras afirmações, faço-o obedecendo ao imperativo cívico e político de denunciar também neste momento uma situação de catástrofe agravada que vai continuar a fazer-nos resvalar para um abismo irrecuperável.

Entendo que o Governo que sair destes resultados não pode ter tréguas e tenciono combatê-lo em tudo quanto puder. Sabe-se de antemão que o próximo Governo não vai prestar para nada!

É de prever que, dentro de pouco tempo, sejamos arrastados para uma situação de miséria nacional irreversível, repito, de miséria nacional irreversível, e por isso deve ser desde já responsabilizado um eleitorado que, de qualquer maneira, há--de levar a sua impudência e a sua amorfia ao ponto de recomeçar com a mais séria conflitualidade social dentro de muito pouco tempo em relação a esta mesma gente inepta a quem deu a maioria.

O voto nas legislativas revelou-se acomodatício e complacente com o status quo. Talvez por se tratar, na sua grande maioria, de um voto de dependentes directos ou indirectos do Estado, da expressão de criaturas invertebradas que não querem nenhuma espécie de mudança da vidinha que levam e que se estão marimbando para o futuro e para as hipotecas que as hostes socialistas têm vindo a agendar ao longo do tempo. O que essa malta quer é o rendimento mínimo, o subsídio por tudo e por nada, a lei do menor esforço.

Mas as empresas continuarão a falir, os desempregados continuarão a aumentar, os jovens continuarão sem ter um rumo profissional para a sua vida. Pelos vistos a maioria não só gosta disso, como embarcou nas manipulações grosseiras, nas publicidades enganosas, nas aldrabices mediáticas, na venda das ilusões mais fraudulentamente vazias de conteúdo.

A vitória foi dada à força política que governou pior, ao elenco de responsáveis que mais incompetentemente contribuiu para o agravamento da crise e para o esboroar da sustentabilidade, ao clube de luminárias pacóvias que não soube prevenir o desemprego, nem resolver os problemas do trabalho, nem os da educação, nem os da justiça, nem os da segurança, nem os do mundo rural, nem nenhuma das demais questões relevantes e relativas a todos os aspectos políticos, sociais, culturais, económicos e cívicos de que se faz a vida de um país.

Este prémio dado à incompetência mais clamorosa vai ter consequências desastrosas. A vida dos portugueses é, e vai continuar a ser, uma verdadeira trampa, mas eles acabam de mostrar que preferem chafurdar na porcaria a encontrar soluções verdadeiras, competentes, dignas e limpas. A democracia é assim. Terão o que merecem e é muitíssimo bem feito.

O País acaba de mostrar que prefere a arrogância e a banha de cobra. Pois besunte-se com elas que há-de ter um lindo enterro.

A partir de agora, só haverá mais do mesmo. Com os socialistas no Governo, Portugal não sairá da cepa torta nos próximos anos, ir-se-á afundando cada vez mais no pântano dos falhanços, das negociatas e dos conluios, e dentro de pouco tempo nem sequer será digno de ser independente. Sejam muito felizes

01/10/09

Curva apertada, não reduza a velocidade

Punta Cana, República Dominica

Gosto de causas. Mesmo as perdidas à partida.
Gosto de me atirar de cabeça, mesmo quando só percebo que a piscina está vazia no momento antes do impacto. Não há volta a dar. Gosto da adrenalina do momento, do prazer do confronto, da discussão de ideias, do abanar das mentalidades, do apaixonar-me sem travões.

Gosto de ter opinião. E isso nem sempre é bem aceite por quem me rodeia. Mas é a vida. Gosto de dizer aquilo que penso, por mais contrária que seja a opinião das pessoas com quem falo. Isto é tudo muito bonito, mas num mundo perfeito. Neste onde vivemos, as opiniões cortam pernas, fecham portas, criam barreiras, por muito que se diga que isso não acontece.

Profissional e pessoalmente, é mesmo assim que as coisas são. É mais lucrativo alinhar na opinião generalizada do que tentar ser diferente, não ter medo de falar sobre as coisas, apontar o dedo, criticar e ficar na berlinda graças aos nossos defeitos. Mas é assim que trabalho e vivo. E enquanto me deitar todas as noites de consciência tranquila, é assim que vou continuar a ser: intempestivo, teimoso, orgulhoso e insatisfeito.

Sempre insatisfeito porque podemos sempre fazer mais e melhor. E sempre à procura do melhor caminho.

28/09/09

Não poderia concordar mais

Passadas as eleições e os exercícios de futurologia que não saíram assim tão errados, como se pode comprovar no post anterior, é altura de mudar de assunto. Vai daí, apanhei esta notícia no Diário Digital. Bate certo.

segunda-feira, 28 de Setembro de 2009 | 07:30
Ateístas condenam «politização» da visita papal por Cavaco

A Associação Ateísta Portuguesa (AAP) considerou que o anúncio da visita do Papa a Portugal feito pela Presidência da República antes das eleições legislativas constituiu «uma politização inadmissível daquilo que é apenas matéria de crença pessoal».

Em comunicado, a AAP sublinha que o anúncio feito por Cavaco Silva ocorreu «contra a vontade da própria Conferência Episcopal», com quem terá concordado fazê-lo em conjunto e após as eleições legislativas.

«A visita de um papa católico é assunto da Igreja católica e não matéria do Estado português», assinala a AAP.

«Num Estado laico o Papa é apenas um líder religioso. Que o cidadão Cavaco Silva se regozije é um direito; que o chefe de Estado de um país laico exulte com a visita do seu líder espiritual é uma interferência nefasta da política na religião, e vice-versa.»

Diário Digital / Lusa

25/09/09

Segunda, 28 de Setembro

Foi bem animada a noite de ontem. Depois de duas semanas de campanha oficial e praticamente um ano de preparação para as Legislativas, aqueles portugueses que costumam ir votar voltaram a fazê-lo. E os resultados estão bem à vista.

Depois da maioria absoluta alcançada em 2005 (45,05% dos votos e 120 deputados eleitos), o PS teve uma queda de mais de cinco por cento, mas conseguiu agarrar-se ao primeiro lugar. A diferença é que, desta vez, só se pode falar de uma maioria relativa. Desce o número de deputados, mas Sócrates apresentou-se à comunicação social como um vencedor. No contexto da crise mundial e do desemprego, o líder do PS agradeceu aos portugueses o voto de confiança para mais quatro anos à frente do Governo.

Aquela que poderia ser considerada a grande derrotada da noite não o foi. Pelo menos na totalidade. Manuela Ferreira Leite e o PSD não conseguiram ultrapassar os socialistas, mas confirmaram a boa dinâmica que vinha das Europeias. Depois dos 72 deputados alcançados em 2005 graças a 28,70% dos votos conseguidos, o PSD fica na casa dos 30%, mordendo os calcanhares ao PS. Ferreira Leite assegurou ao País que vai dar luta no Parlamento e que, pelo menos, foi alcançado um objectivo: a retirada da maioria absoluta por parte do PS.

O grande vencedor da noite foi o Bloco de Esquerda que conseguiu chegar a terceira força política. O descontentamento de quem tinha votado PS em 2005 transformou-se em combustível para o BE que ultrapassa os 10% dos resultados e o meio milhão de votantes. Depois dos 6,38% de 2005 e dos oito deputados eleitos, o BE quase que dobra a votação e o número de mandatos. Louçã era um homem feliz quando falou à comunicação social. Conseguiu em cerca de 10 anos fazer esquecer o PSR, a UDP, trotskistas e maoístas para criar um partido jovem e em crescimento.

A CDU, pelo contrário, não soube fazer essa passagem para o século XXI e continua a manter-se à tona de água graças a um eleitorado fiel que não desmobiliza nos maus momentos. Ultrapassou a barreira dos oito por cento (7,56% em 2005) e ganhou um deputado (14 em 2005), razões mais do que suficientes para Jerónimo de Sousa se mostrar agradado com o sufrágio, escusando-se a comentar a perda do terceiro lugar da política nacional. Talvez por dentro Jerónimo pense que a força do BE poderia ser a sua, se o PC se tivesse modernizado e adaptado às novas realidades, mas ortodoxo como é, talvez nem coloque essa hipótese. E a perda de protagonismo do PC continua.

Quem também não desapareceu completamente foi o CDS-PP. Portas fez um esforço considerável na última semana de campanha e isso viu-se nos resultados. O PP sobe ligeiramente em relação a 2005 (7,26%) e alcança mais um deputado, chegando agora aos 13 representantes. Junto com o PSD não consegue mais votos do que a Esquerda, mas Paulo Portas voltou a dar a volta ao texto em mais um dos seus discursos de noite eleitoral, transformando vencidos em vencedores. O PP não morre e há mais quatro anos de contestação pela frente.

Uma última palavra para a abstenção e para os que ficaram à porta do Parlamento. A percentagem de quem não foi às mesas de voto ficou pelos 32% (menos dois por cento que em 2005) e nenhum dos candidatos dos partidos mais pequenos conseguiu a eleição.

O exercício de futurologia fica por aqui. Daqui a duas semanas há mais.

19/09/09

Let's do it

Esta semana, a RTP2 transmitiu um documentário sobre a vida de Nelson Mandela. O trabalho jornalístico, uma co-produção franco-belga, analisou a importância do líder sul-africano na criação de um Estado multicultural pós-Apartheid. Um trabalho brilhante narrado como de uma carta aberta a Mandela se tratasse. No final, os autores do documentário deixam uma citação de Madiba, como é conhecido na África do Sul aquele que, para mim, é o último grande líder vivo.
A citação passa a ser, a partir de hoje, o mote para este blogue.

"Sometimes it falls upon a generation to be great. You can be that great generation."

11/09/09

Carlinhos Teotónio Pereira


Dona Adélia... acha que dá para ligar a televisão?
Ó meninos, vocês sabem que a televisão está sempre desligada à hora de almoço.
Mas é que um avião foi contra um prédio em Nova Iorque, telefonou-me um amigo a dizer.
A sério?
Sim, queríamos ver.
Tá bem, pronto, mas não se habituem.

Quase todos os dias íamos ali almoçar. Em grupo, a dois ou a três, era o nosso poiso. A comida não variava muito, mas o Beiradouro era a nossa cantina. Naquele dia, estava eu e o Carlinhos. Eu comi carne à portuguesa, ele não me lembro.
A Dona Adélia ligou a televisão e estava a dar a imagem de uma das torres do World Trade Center a deitar fumo na metade superior.

Bem... que cena!
Ai meninos, que desgraça.
Olha, olha... estão a dar repetição. Xiii...

Não era a repetição, era o segundo avião. Em directo.
O telefone não parava de tocar, a carne à portuguesa ficou fria e já nem houve tempo para a mousse de manga feita pela Armanda, a filha da Dona Adélia que nos impunha respeito.

Ouve, esta cena é única, estamos a viver uma coisa histórica.
Pois estamos. Temos que fazer alguma coisa.
Bora para Nova Iorque?
Quando? Hoje?
Sim, ou amanhã, quando der. Eu meto férias e tudo.
Bora.

Depois de muita discussão, o Carlinhos acabou por ir. Não me deixaram meter férias e ir para lá em reportagem, mas foi ele. E ainda bem que foi assim.

Oito anos depois, continuo a sentir saudades daquele 11 de Setembro.

08/09/09

Salvem O Terraço

Leio no Público a notícia de que O Terraço, no topo do edifício do Mercado do Chão do Loureiro, pode ter os dias contados. A EMEL quer lá construir um silo automóvel com área para 204 lugares de estacionamento. Onde está O Terraço pode passar a existir um restaurante de luxo.

Estas coisas chateiam-me. É provavelmente a melhor esplanada de Lisboa, com uma vista magnífica e condições excepcionais. Para quê estragar o que está bem?

Está criado um Grupo no Facebook para alertar consciências e discutir esta decisão.




07/09/09

Vai buscar!

A prova, cortesia da Soph


Estávamos no balcão do pavilhão das Caldas da Rainha. Tínhamos acabado de nos apoderar de um banco corrido para três pessoas. Bebíamos cerveja, comíamos pistachos e sopa de peixe com camarão. Os Ciganos D'Ouro tocavam no palco principal da Festa do Avante.

O Zé, que não gosta muito de futebol e percebe ainda menos - conhece um clube que se chama Aston Villa, torce pelo Vitória e tem resquícios de betice pelo Sporting - tem um telemóvel fora do normal. Foi fabricado em Portugal e possui uma antena como a dos transístores antigos que permite receber a emissão dos quatro canais portugueses.

Foi a nossa salvação, já que não existiam televisões à vista para assistir ao jogo. E lá nos sentámos com o telemóvel na horizontal, apoiado numa pilha de copos de cerveja que não parava de crescer, Vimos a primeira parte naquele ecrã de seis centímetros por quatro, mais coisa menos coisa. Quem passava por ali, estranhava, fazia comentários sobre o telefone e perguntava o resultado.

Os funcionários do pavilhão das Caldas queriam saber mais, metiam conversa, faziam piadas, criticavam os brasileiros e o treinador. Queriam que os avisássemos quando fosse golo. E avisámos, mas tinha sido da Dinamarca. Era o meu sinal, levantei-me e fui à casa-de-banho arranjar espaço para mais cerveja.

Segunda parte, a mesma coisa. Aquilo já irritava. Sem sol, via-se melhor o ecrã, mas nada de golos. Os de branco atacavam, os de vermelho defendiam. "Isto só lá vai com uma pinga que tenho aqui para vocês", alertou o camarada de barba grisalha do outro lado do balcão. Serviu meia dúzia de copos com vinho branco regional e foi golo. Menos de um minuto depois, foi golo. Ó homem, você já podia ter oferecido isto antes. Abra mas é mais outra para a gente ganhar isto.

No seguimento de um canto, a bola foi à cabeça de um jogador de branco e entrou na baliza dos "maus". Os festejos foram efusivos, ainda havia tempo para dar a volta. Quem é que marcou? Quem é que marcou? Eh pá, não se vê muito bem, o ecrã é pequeno. Parece o Bosingwa. Não, não, é o Liedson. Silêncio.

Era um golo importante, tão importante como o do Pepe no primeiro jogo que fez pela selecção portuguesa. Menos importante que o do Deco, no seu primeiro jogo como português, contra o Brasil, num particular. Acreditem que não é xenofobia, racismo ou qualquer outra estupidez do género, mas fica sempre uma coisinha estranha na alma com estes golos dos portugueses nascidos no Brasil. É como se tirasse um pouco do mérito, da justiça, da credibilidade, da honestidade.

Tás louco? Isto é o futebol português, nada disso existe.

Gooooooloooooo!!!!

30/08/09

Por favor, não alimentar os animais

Veleiro Sea Cloud, Mar das Caraíbas


"Viste bem? Olha eu a enfardar no gajo. Tás a ver? Olha, olha... o Necas a agarrá-lo e o Zé a encher-lhe a fronha! Bem, ganda biqueirão que o gajo lhe deu nas costelas. Eh eh eh eh..."

Parece que os estou a ver. De telemóveis de última geração em punho, a conversar uns com os outros e a ver as imagens na SIC ou no site do Correio da Manhã. Estão orgulhosos, comentam a noite de pancadaria na La Movida, no Porto, toda filmada pelas câmaras de vigilância, com a anuência dos porteiros da discoteca e com o medo do segurança privado, que até se desviou para que os energúmenos pudessem estar mais à vontade. O que é que ele podia fazer, pergunta-se agora. De facto, nada. Quem deveria fazer não o faz.

Não é só a Polícia que pode fazer alguma coisa mais. As imagens chocantes servem para identificar esta gentinha, mas será que vão servir para alguma coisa? E a associação dos comerciantes dos espaços nocturnos? Será que já entregou a lista que lhes foi pedida de clientes que podem causar potenciais problemas? Também não... esqueceram-se, provavelmente. Não se esquecem é do dinheiro e das negociatas que vão sempre rolando na noite.

Como se pode ver nas imagens, é muito mais fácil olhar para o lado e deixar que esta cultura de violência, de impunidade e de comportamento animalesco se sobreponha a tudo o resto. Dificilmente conseguiria encontrar melhor exemplo de comportamento grupal levado ao extremo. Quer dizer, talvez no Mundo Animal consiga encontrar, com leões, búfalos ou hipopótamos, mas esses são animais selvagens. Têm essa desculpa.

Pronto, estes também são, mas não têm qualquer desculpa para isto.




29/08/09

51

Michael Jackson faria hoje 51 anos.

If you wanna make the world a better place, take a look at yourself and then make a change.



28/08/09

I have a dream - The Speech


Há exactamente 46 anos, em Washington, Martin Luther King fez "o" discurso, aquele que ficou para a História, que alertou consciências, que mostrou que ainda havia muito para fazer em matéria de direitos cívicos. E não apenas nos EUA.

Nesse 28 de Agosto, colocou-se o dedo na ferida e 46 anos depois ainda há tanto por fazer.

Fica aqui o discurso original. Se tiverem tempo para investir, fica o convite.

"I am happy to join with you today in what will go down in history as the greatest demonstration for freedom in the history of our nation.

Five score years ago, a great American, in whose symbolic shadow we stand today, signed the Emancipation Proclamation. This momentous decree came as a great beacon light of hope to millions of Negro slaves who had been seared in the flames of withering injustice. It came as a joyous daybreak to end the long night of their captivity.

But one hundred years later, the Negro still is not free. One hundred years later, the life of the Negro is still sadly crippled by the manacles of segregation and the chains of discrimination. One hundred years later, the Negro lives on a lonely island of poverty in the midst of a vast ocean of material prosperity. One hundred years later, the Negro is still languished in the corners of American society and finds himself an exile in his own land. And so we've come here today to dramatize a shameful condition.

In a sense we've come to our nation's capital to cash a check. When the architects of our republic wrote the magnificent words of the Constitution and the Declaration of Independence, they were signing a promissory note to which every American was to fall heir. This note was a promise that all men, yes, black men as well as white men, would be guaranteed the "unalienable Rights" of "Life, Liberty and the pursuit of Happiness." It is obvious today that America has defaulted on this promissory note, insofar as her citizens of color are concerned. Instead of honoring this sacred obligation, America has given the Negro people a bad check, a check which has come back marked "insufficient funds."

But we refuse to believe that the bank of justice is bankrupt. We refuse to believe that there are insufficient funds in the great vaults of opportunity of this nation. And so, we've come to cash this check, a check that will give us upon demand the riches of freedom and the security of justice.

We have also come to this hallowed spot to remind America of the fierce urgency of Now. This is no time to engage in the luxury of cooling off or to take the tranquilizing drug of gradualism. Now is the time to make real the promises of democracy. Now is the time to rise from the dark and desolate valley of segregation to the sunlit path of racial justice. Now is the time to lift our nation from the quicksands of racial injustice to the solid rock of brotherhood. Now is the time to make justice a reality for all of God's children.

It would be fatal for the nation to overlook the urgency of the moment. This sweltering summer of the Negro's legitimate discontent will not pass until there is an invigorating autumn of freedom and equality. Nineteen sixty-three is not an end, but a beginning. And those who hope that the Negro needed to blow off steam and will now be content will have a rude awakening if the nation returns to business as usual. And there will be neither rest nor tranquility in America until the Negro is granted his citizenship rights. The whirlwinds of revolt will continue to shake the foundations of our nation until the bright day of justice emerges.

But there is something that I must say to my people, who stand on the warm threshold which leads into the palace of justice: In the process of gaining our rightful place, we must not be guilty of wrongful deeds. Let us not seek to satisfy our thirst for freedom by drinking from the cup of bitterness and hatred. We must forever conduct our struggle on the high plane of dignity and discipline. We must not allow our creative protest to degenerate into physical violence. Again and again, we must rise to the majestic heights of meeting physical force with soul force.

The marvelous new militancy which has engulfed the Negro community must not lead us to a distrust of all white people, for many of our white brothers, as evidenced by their presence here today, have come to realize that their destiny is tied up with our destiny. And they have come to realize that their freedom is inextricably bound to our freedom.

We cannot walk alone.

And as we walk, we must make the pledge that we shall always march ahead.

We cannot turn back.

There are those who are asking the devotees of civil rights, "When will you be satisfied?" We can never be satisfied as long as the Negro is the victim of the unspeakable horrors of police brutality. We can never be satisfied as long as our bodies, heavy with the fatigue of travel, cannot gain lodging in the motels of the highways and the hotels of the cities. We cannot be satisfied as long as the negro's basic mobility is from a smaller ghetto to a larger one. We can never be satisfied as long as our children are stripped of their self-hood and robbed of their dignity by signs stating: "For Whites Only." We cannot be satisfied as long as a Negro in Mississippi cannot vote and a Negro in New York believes he has nothing for which to vote. No, no, we are not satisfied, and we will not be satisfied until "justice rolls down like waters, and righteousness like a mighty stream."

I am not unmindful that some of you have come here out of great trials and tribulations. Some of you have come fresh from narrow jail cells. And some of you have come from areas where your quest -- quest for freedom left you battered by the storms of persecution and staggered by the winds of police brutality. You have been the veterans of creative suffering. Continue to work with the faith that unearned suffering is redemptive. Go back to Mississippi, go back to Alabama, go back to South Carolina, go back to Georgia, go back to Louisiana, go back to the slums and ghettos of our northern cities, knowing that somehow this situation can and will be changed.

Let us not wallow in the valley of despair, I say to you today, my friends.

And so even though we face the difficulties of today and tomorrow, I still have a dream. It is a dream deeply rooted in the American dream.

I have a dream that one day this nation will rise up and live out the true meaning of its creed: "We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal."

I have a dream that one day on the red hills of Georgia, the sons of former slaves and the sons of former slave owners will be able to sit down together at the table of brotherhood.

I have a dream that one day even the state of Mississippi, a state sweltering with the heat of injustice, sweltering with the heat of oppression, will be transformed into an oasis of freedom and justice.

I have a dream that my four little children will one day live in a nation where they will not be judged by the color of their skin but by the content of their character.

I have a dream today!

I have a dream that one day, down in Alabama, with its vicious racists, with its governor having his lips dripping with the words of "interposition" and "nullification" -- one day right there in Alabama little black boys and black girls will be able to join hands with little white boys and white girls as sisters and brothers.

I have a dream today!

I have a dream that one day every valley shall be exalted, and every hill and mountain shall be made low, the rough places will be made plain, and the crooked places will be made straight; "and the glory of the Lord shall be revealed and all flesh shall see it together."

This is our hope, and this is the faith that I go back to the South with.

With this faith, we will be able to hew out of the mountain of despair a stone of hope. With this faith, we will be able to transform the jangling discords of our nation into a beautiful symphony of brotherhood. With this faith, we will be able to work together, to pray together, to struggle together, to go to jail together, to stand up for freedom together, knowing that we will be free one day.

And this will be the day -- this will be the day when all of God's children will be able to sing with new meaning:

My country 'tis of thee, sweet land of liberty, of thee I sing.

Land where my fathers died, land of the Pilgrim's pride,

From every mountainside, let freedom ring!

And if America is to be a great nation, this must become true.

And so let freedom ring from the prodigious hilltops of New Hampshire.

Let freedom ring from the mighty mountains of New York.

Let freedom ring from the heightening Alleghenies of Pennsylvania.

Let freedom ring from the snow-capped Rockies of Colorado.

Let freedom ring from the curvaceous slopes of California.

But not only that:

Let freedom ring from Stone Mountain of Georgia.

Let freedom ring from Lookout Mountain of Tennessee.

Let freedom ring from every hill and molehill of Mississippi.

From every mountainside, let freedom ring.

And when this happens, when we allow freedom ring, when we let it ring from every village and every hamlet, from every state and every city, we will be able to speed up that day when all of God's children, black men and white men, Jews and Gentiles, Protestants and Catholics, will be able to join hands and sing in the words of the old Negro spiritual:

Free at last! Free at last!

Thank God Almighty, we are free at last! "